Por João Vitor Pizani

No livro “Luta por um mundo melhor”, o político americano Robert Kennedy demonstrou suas preocupações com o futuro dos Estados Unidos e do mundo nas mãos das novas gerações, pois percebia um aumento da delinquência e uma alienação da juventude, causadas, por exemplo, pelo vício em tecnologia e pelo uso de drogas, fazendo com que eles se tornem mais egocêntricos e menos compromissados com algo além do bem estar pessoal.

Muitos irão concordar com a opinião de Robert Kennedy e achar que suas críticas se aplicam perfeitamente aos jovens da atualidade, porém, como o livro foi publicado em 1967, a juventude alienada citada pelo autor são, na verdade, os idosos de hoje, o que demonstra que esse conflito não é recente e que essa visão negativa diz respeito mais a juventude como um todo do que a uma geração propriamente dita.

Seja na cultura, no esporte ou na própria sociedade, é muito comum as pessoas valorizarem demasiadamente o passado, provavelmente pelas lembranças remeterem a uma época da qual sentem saudades, e consequentemente desprezarem aquilo que é novo ou que parece afrontar algo que acreditem. Da mesma forma, a tão criticada juventude de hoje certamente terá uma visão saudosista de sua época e verá com maus olhos os jovens do futuro.

Por serem obrigados a encarar um mundo que, em seus aspectos negativos, não ajudaram a construir, os jovens, desde sempre, costumam ser críticos da sociedade em que vivem. Esse idealismo e desejo de mudança perde força quando a juventude passa a acompanhar e participar efetivamente das transformações sociais, ocasião em que surge uma nova geração para questionar esses valores, e assim sucessivamente.

O fato de haver características quase intrínsecas a essa fase da vida, como uma necessidade de contrariar padrões, não significa que todas as juventudes tenham sido iguais. São gerações diferentes que viveram experiências diferentes, mas que estão em constante evolução, para o bem ou para o mal, afinal, os jovens de hoje são fruto direto do mundo em que vivem, construído pelas gerações passadas.

Mesmo que o conflito entre gerações seja algo natural, já que pessoas de idades tão diferentes costumam divergir em muitas questões, é notável que ele se intensificou nas últimas décadas, e isso se deve ao fato de sua separação estar ficando mais evidente. A visão de mundo, o estilo de vida e a perspectiva de futuro de um jovem de hoje, na maioria das vezes, difere muito da que seus pais tiveram e não se parecem, absolutamente nada, com a de seus avós e a tendência é que isso se acentue cada vez mais.

Robert Kennedy, pertencente a uma geração que, em outras nações, acreditou no nazifascismo, em campanha pela presidência de um país que poucos anos antes ainda legalizava a segregação racial, estava cético quanto ao futuro do mundo nas mãos das novas gerações. Décadas depois, um outro candidato, o quase octogenário Joe Biden, demonstraria otimismo com a atual juventude, dizendo que “essa é a mais receptiva, a menos preconceituosa, a mais brilhante e a mais educada geração da história”.

foto: Warren K. Leffler Robert F. Kennedy

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