Por Gabriel Fornazari

Nascidos no Paraná, Stephanie Remuska Kochinski e Nicholas Kochinski hoje moram na Argentina, onde estudam e tentam ganhar a vida. Ao saírem do Brasil em 2017 eles tinham esperanças, expectativas e sonhos, alguns desses que foram cumpridos, e outros que ainda estão no processo de crescimento.

O casal morava junto, em Curitiba, ela formada em administração e ele formado em educação física. Ambos levavam uma vida tranquila, confortáveis financeiramente e com o relacionamento crescendo, mas em 2016 um desejo por algo diferente foi maior do que a calmaria do dia a dia. “Depois de alguns desentendimentos no meu antigo emprego, onde eu era personaltrainer em uma academia, resolvi me demitir e ir atrás de outro objetivo: cursar medicina. E como esse também era um desejo dela, resolvemos seguir nisso juntos”, relata Nicholas, de 29 anos.

O casal então começou a pesquisar sobre o curso de medicina, e por pura curiosidade, também fizeram a pesquisa em outros países. “As primeiras opções eram Estados Unidos e Europa, e nós quase aceitamos uma oportunidade de cursar medicina em uma faculdade na Áustria. Porém, como a barreira linguística do alemão era muito complicada não teve como seguir em frente”, comenta Nicholas. “Então, logo depois disso, um amigo nosso que trabalha com intercâmbio deu a ideia da Argentina, listando todos esses benefícios, e foi uma ideia que causou um estranhamento no começo por falta de conhecimento, mas logo depois se mostrou muito interessante”, completa Stephanie.

A Argentina tem uma das universidades com um dos melhores cursos de medicina do mundo, a Universidade de Buenos Aires. Centenas de estudantes estrangeiros estão matriculados lá atualmente, e segundo informações da Universidade, mais da metade desse corpo estudantil estrangeiro é formado por brasileiros.

Outro diferencial que interessou Stephanie e Nicholas foi que o processo seletivo da UBA não envolve vestibular. A faculdade pública argentina é aberta a todos, e para ingressar o sistema adotado é o mesmo usado na Europa, onde a universidade faz um curso introdutório com o aluno, para prepará-lo para sua futura carreira. As faculdades e universidades também não tem limite de alunos, e somente exigem um teste da língua espanhola para alunos de outros países.

A vida na Argentina

Logo depois, em janeiro, o casal embarcou para o país vizinho e entrou de cabeça nessa aventura latino-americana. Eles relatam, em entrevista, que no começo o baque entre culturas e costumes foi extremamente difícil, e que até que eles se acostumassem com o jeito argentino foi muito complicado. “As maiores diferenças são, com toda certeza, a educação do povo e a higiene das ruas, sem contar a grande diferença culinária”, desabafa o casal.

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“Na rua, quando percebiam que nós não éramos daqui, automaticamente a abordagem é outra. Por ser capital, ninguém leva turista a sério, então sempre queriam tirar dinheiro da gente ou então apresentavam um desinteresse total”, relata Nicholas. “Já na faculdade foi totalmente diferente, nós nunca nos sentimos desrespeitados de forma alguma no ambiente acadêmico, e como lá tem muitos estrangeiros também foi bem mais fácil”.

Além disso, a língua espanhola foi uma grande surpresa pela sua complexidade. A língua latina se mostrou demasiada simples no dia a dia, mas um real sufoco na vida acadêmica. “O espanhol pode até lembrar o português em alguns momentos, mas é outra língua completamente diferente […], ainda mais a nível universitário. Foi ignorância nossa ir somente com um curso de três meses e achar que isso seria o suficiente, principalmente dentro do curso de medicina”, confessa Nicholas.

O incentivo a cultura, a sede política do povo e a qualidade do ensino universitário são outros pontos elencados como os mais positivos do país. O casal vive lá há três anos e agora, já mais acostumados, a vida já se encontra mais cômoda, mas alguns pontos ainda fazem a saudade do Brasil bater forte.

Formação e o futuro

O curso de medicina na Universidade de Buenos Aires é de seis anos, e com metade desse tempo já superada, Nicholas e Stephanie refletem sobre o futuro, sobre sua nova casa e sobre seus planos.

“Infelizmente o profissional médico é muito desvalorizado aqui, resultando em um salário muito pequeno comparado ao do Brasil”, conta Stephanie. “Nosso maior desejo é conseguir validar nossos diplomas para podermos exercer nossa profissão no Brasil depois da formação, mas ainda queremos nos mudar para outro país, como Irlanda ou Escócia”.

Sobre continuar na Argentina em si, o casal, com humor, nega a ideia totalmente. “Mesmo sendo um país em que nós aprendemos na marra a sobreviver não é um país que nós queremos continuar a vida toda”, explicam. “Outros países tem culturas e vivências que nos interessam muito mais, e fazendo essa comparação a Argentina perde em quase todos os aspectos, então não tem chance de ficarmos aqui depois da formação”.

A Argentina ainda chama muita atenção por seu sistema universitário mais abrangente, e diversos programas para ajudar estudantes que tem interesse de cursar uma faculdade argentina estão disponíveis. Segundo o casal Kockinski, as maiores dicas para quem deseja se aventurar no ensino argentino são: “Invista fortemente em um curso de espanhol bom, procure grupos de brasileiros antes de vir e aprenda a ser autossuficiente”.

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One thought on “Nos labirintos argentinos em busca de um futuro: a experiência de brasileiros cursando medicina na Argentina”
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