A importância das cotas raciais e sociais para os estudantes brasileiros
Por Amanda Nunes, Andrea Borges Daniela Alves, Izabelle Antunes, Gabriel Fornazari e Mariana Gabriel
As cotas surgiram para que houvesse cortes nas desigualdades sociais, econômicas e educacionais do país. A lei n° 12.711, que foi sancionada em agosto de 2012, trouxe para o Brasil mais oportunidades para o ingresso de minorias nas universidades públicas e nos concursos do governo. No país, a primeira universidade a implantar as cotas foi a UERJ, para os alunos das escolas públicas cariocas, e depois a UnB, em Brasília, implantando política de ações afirmativas para negros no vestibular de 2004, sendo a primeira instituição a usar o sistema de cotas raciais
As opiniões sobre as cotas são divergentes no ambiente político e social. Muitos entendem que é uma ferramenta que possibilitou uma grande quantidade de brasileiros com baixa renda, negros e indígenas a se formarem desde os anos 2000. Assim, mais cidadãos são qualificados para o mercado de trabalho e há um grande crescimento em todas as áreas. Porém contrapondo esse argumento, aqueles que são contra o sistema de cotas têm como argumento principal que “todos são iguais”, justificando que as cotas seriam uma forma de segregação social e racial. “Em algumas localidades, a população negra é minoria, e mesmo assim existem as classes mais baixas compostas por pessoas brancas, então exclusivamente nesses locais elas são prejudicadas pelas cotas raciais, que acabam se tornando um privilégio”, opina o estudante Fernando Santos, de 26 anos.
Dircéia Moreira, professora no departamento de Direito da Universidade Estadual de Ponta Grossa, afirma que acompanhou a implementação das cotas na UEPG e observou vidas mudarem para melhor, por conta dessa ferramenta de equiparação social.
Segundo dados do IBGE, 73,2% da população pobre do Brasil é negra, ou seja, três em cada quatro indivíduos que estão na parcela mais pobre do país são negros. Isso justifica a grande desigualdade social, onde a população negra e pobre muitas vezes abandona os estudos para sustentar a família e não tem chance de tentar entrar em uma Universidade.
A diversidade também é um tema muito discutido, segundo o IBGE em 2005, um ano após a implantação das cotas, apenas 5,5% dos negros em idade universitária frequentavam Universidades no país. Em 10 anos esse número subiu para 12,8%, um aumento significativo, porém ainda inferior se comparado ao número de brancos matriculados em instituições, que são 26,6%.
Outro ponto importante é que o percentual de evasão de estudantes nas Universidades vem crescendo ao logo dos anos, representando cerca de 22% de desistentes (que equivalem a 900 mil estudantes), sendo que a grande maioria deles são alunos que não tem condições de se manter na faculdade por conta do grande custo de materiais, transporte, alimentação e moradia. E como a maioria das pessoas de baixa renda são pretas ou pardas esse número se torna preocupante. O racismo estrutural e a diferença econômica é gritante, e essa é uma das situações que as cotas raciais tentam amparar.
As universidades de todo o país, agora, também possuem cotas para estudantes indígenas. Depois de notar que esse povo também precisa de uma atenção diferenciada, em 2012 foram criadas as cotas raciais para índios que reservam um número de vagas proporcional para o número de indivíduos no Estado em que o campus da faculdade reside. Todas as conquistas do povo indígena na organização social brasileira ainda são recentes, já que só foram considerados parte da sociedade em 1988, na atualização da Constituição Federal. Para os índios, a efetiva preservação de sua cultura já é uma vitória, mas com o tempo a formação universitária se tornou, não só um desejo, como também uma necessidade para aqueles que querem integrar à comunidade.
Porém, mesmo chegando nas universidades, os indígenas ainda estão em um número muito pequeno, e ainda sofrem com diversos empecilhos na sua formação, como o preconceito e a falta de auxílio. Professores e alunos das instituições têm uma certa resistência com as pessoas dessas etnias, e fazem com que o ambiente acadêmico se torne hostil para a maioria deles.
A indígena Regina Aparecida Kosi dos Santos, que cursou História na UEPG, relata que desde que entrou na universidade consegue perceber o preconceito, tanto dos alunos quanto dos professores. Ela ainda diz que sofreu muito com um professor que sempre fazia piadas com sua etnia, e por conta disso acabou até mesmo reprovando na matéria. “É muito difícil a aceitação, porque os não-indígenas acham que nós somos atrasados, que a universidade não é o nosso lugar, e daí resulta no preconceito”, conta.
Diversos fatores atualmente trabalham fazendo com que o indígena tenha que, cada vez mais, apagar sua história e acabar sendo derrotado pelo preconceito. Mas, como Regina também pontua, esse povo não está disposto a se deixar derrotar, e pretende conquistar seu lugar na sociedade brasileira. “É triste pensar que uma luta de 519 anos, na qual foi derramado sangue indígena, pode acabar a qualquer momento. Por isso nós vamos lutar, o meu povo, mesmo em pequenos números, não vai deixar isso acabar”
Ouça aqui o áudio com a Prof. Dr. Silmara Carneiro e Silva Diretora de Ações Afirmativas e Diversidade da Pró-reitoria de Assuntos Estudantis da UEPG.
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