Igor Baggio e Alessandro Lima
É fato que o Brasil está em meio a uma crise, e que esta crise vai muito além da economia. É uma crise política e, infelizmente, uma crise até de identidade.
Para a grande mídia brasileira, política é, geralmente, sinônimo de baixaria, e somente episódios de escândalos se tornam pauta dos noticiários. Já para as “pessoas comuns”, cidadãos que não desempenham papel ativo na política, ela resume- se a eleições.
Os políticos que estão nas chefias dos poderes executivos e seus três níveis principais (prefeitos, governadores e presidente) geralmente são os principais alvos, enquanto nas câmaras, assembleia e no congresso não se vêem compromissos ideológicos, e os parlamentares acabam por defender os interesses dos financiadores de suas campanhas.
Este alinhamento de fatores faz com que exista um grande descrédito nos políticos por parte da população, e a mídia, que deveria cumprir o seu papel social de ampliar debates e politizar os cidadãos, acaba não prestando tal serviço de maneira satisfatória.
Para Edson Armando Silva, presidente do diretório do Partido dos Trabalhadores (PT) de Ponta Grossa, os políticos e consequentemente os partidos, são vítimas de um sistema existente desde o Brasil República. “Nem todos os partidos tem uma posição clara do ponto de vista do projeto ideológico e as articulações para chegar ao poder ou manter-se nele nem sempre se realizam em função dessa configuração ideológica. Muitas vezes para se garantir a realização de um projeto é necessário ampliar o arco de alianças e, infelizmente, flexibilizara realização de algumas metas”, pontuou.
Questionado acerca dos recentes escândalos envolvendo a sigla do seu partido, Silva afirmou que apontar para um único alvo não ajuda a solucionar o problema político do Brasil. “Certamente a criminalização da política e, em particular do PT, não ajuda a sociedade nem a entender nem a sair da crise. É uma cortina de fumaça para manter a estrutura de poder nas mãos de quem historicamente se beneficiou dela”, concluiu.
Cléo Pereira, acadêmica de Jornalismo, acredita que o responsável pela corrupção é o povo que só se deixar corromper, como é inerte no dever de fiscalizar. “Prefiro acreditar na Democracia apartidária – não voto em partidos “A” ou B”” prefiro conhecer o indivíduo. O sistema político é corrupto, os partidos fazem parte do sistema”, destaca Cléo.
A grande exibição que a crise vem tendo na mídia, porém, tem gerado um bom fruto: alguns jovens, cada vez mais conectados, estão despertando interesse pela política.
É o caso de Marília Torossian, acadêmica do curso de Comércio Exterior, que embora se considere de centro-esquerda, admite que tem opiniões ideologicamente conflitantes às vezes, dependendo da questão e da situação. Marília acredita que o PT é responsável “em grande parte” pela atual situação do Brasil, e que políticas desastrosas, principalmente econômicas, levaram ao lugar onde estamos. “O PT tem grande parte da responsabilidade sim, mas enquanto apontarmos um único partido como culpado por esta situação, não saíremos dela” e completa que “o processo de melhoramento contínuo é um ciclo de planejamento, implementação e checagem, para saber se estamos no caminho correto ou se precisamos de ajustes e reparos. Neste caso, apontar culpados é necessário para saber onde erramos, mas é extremamente simplista e ilusório apontar somente um culpado em um país federativo, dividido em três poderes e em três níveis de administração pública”.
* A reportagem procurou o diretório do PSDB de Ponta Grossa para que o mesmo pudesse mostrar o seu ponto de vista sobre o assunto, porém o mesmo limitou-se a emitir a seguinte nota oficial:
“O PSDB de Ponta Grossa decidiu não participar dessa discussão, onde o principal foco é um outro partido político. Estamos abertos para responder perguntas relacionas ao nosso partido ou ao nosso posicionamento”.