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A sintonia da pamonha, por Mayrus de Mello

Pamonhas podem ser inspiradoras
Pamonhas podem ser inspiradoras

Viagens de ônibus são boas apenas por uma coisa, pensar. Como não sou um busólogo tal passeio não é muito prazeroso, mas me proporciona – quase – uma hora diária de leitura e uma cabeça inundada com pensamentos. Então aproveitei para pensar na crônica que faria para esse sítio da rede mundial de computadores. Com toda essa dificuldade, minha namorada me deu a ideia de falar sobre a carne doce acidentalmente preparada pelo meu sogro – estranhamente fica muito gostosa.

Mas depois disso o assunto da minha vida tocou a campainha da pseudo-criatividade que carrego. Pamonha. Sim, a pamonha, essa delicia da culinária brasileira – descendente da indígena. Amada e saudada até mesmo nos anais da literatura, como exemplo Nabakov: “Pamonha, luz de minha vida, labareda de meu prato. […] Pa-mo-nha: o lábio se apertando para dentro da boca, e suavemente saindo em forma de bico para fora, para por fim se esconder e mostrar os dentes.”

Como o leitor pode ver minha paixão por pamonha é grandiosa. Sim. Essa paixão não é de hoje. Começou em meados de 96, mas não me lembro, então saiba que isso são informações vinda de fontes maternas, e desde tal ano como pamonha regularmente todos os sábados. Como muita pamonha,e se não saborear uma dessas delícias indigeno-caipiras minha semana não fica boa. O mundo só entra em sintonia se degusto esse contentamento preparado com milho. Declaro tanto meu amor a pamonha que se um dia virasse presidente baixaria uma lei mudando o vernáculo popular, em vez de ter um significado ruim – menos quanto à forma que é dito significa preguiçoso, isso é bom, preguiça é vida: Já dizia o filósofo “Enquanto existir amanhã, a preguiça seráimortal”. – para ser um sinônimo de bom, paraíso e deleite. Palavras de boa índole.

Pode-se ver que gosto mesmo de pamonha, mas não de qualquer pamonha preparada por qualquer pamonheiro. Admiro mesmo a pamonha do Seo Jair, conhecido pela minha família como Seo pamonha – isso claro de maneira carinhosa porque vende para minha família desde antes de eu nascer. Jair prepara a melhor pamonha da região, mesmo morando pelas bandas de Telêmaco Borba. Vendia até um tempo atrás pamonha numa Caravan cinza, hoje vende em uma Parati branca. Todo sábado passa por frente de casa e o barulho do altifalante me acorda sabendo que terei um bom dia, pois comerei pamonha.

Acredito em Ariano Suassuna quando disse que o bom é ser um realista esperançoso, então espero com ressalvas que no sábado-pós-essa-crônica comerei pamonha. Sendo realista e sabendo que a vida não é o que a gente espera pode ser que eu não acorde e consiga comprar, pois o pamonheiro sempre passa muito cedo, e com isso minha semana ficará triste e melancólica. Mas sendo esperançoso sempre ansiarei por um novo sábado para uma nova pamonha.

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