Informais são a classe trabalhadora mais vulnerável em meio à pandemia

Por Elisângela Schmidt

Com o início da pandemia e da quarentena, em março deste ano, os trabalhadores informais e autônomos, como ambulantes, motoristas de aplicativo, motoboys foram os mais prejudicados. Sem ter direito aos benefícios previdenciários de FGTS e seguro desemprego, os informais ficaram desamparados e muitos perderam seus empregos.

Em setembro de 2019, o Brasil registrou recorde de trabalhadores informais no país, segundo pesquisa do IBGE(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). No entanto, com a pandemia, em apenas três meses, o Brasil teve uma queda de aproximadamente 870 mil postos de trabalhos. No segundo trimestre de 2020, a taxa de desemprego foi a maior dos últimos três anos. E desse total, 68% que perderam seus empregos, eram trabalhadores informais.

Gráfico mostra a queda dos trabalhos informais no 2º semestre de 2020, com a pandemia. Fonte - IBGE-Nexo Jornal

Aqueles que conseguiram manter seus empregos, seja de forma informal ou autônoma, não tiveram direito a quarentena. A linha de frente do comércio foi a primeira a voltar às ruas para conseguir sobreviver.

Em Ponta Grossa, diferente da maioria das cidades, a quarentena foi decretada logo no início da pandemia. Na semana do dia 16 de março as portas de comércios, escolas, igrejas se encontravam fechadas. No entanto, apenas um mês depois, a classe trabalhadora mais vulnerável já estava nas ruas, mesmo que em número muito reduzido.

Foto 1 - A vendedora de pipoca teve suas vendas reduzidas em mais de 80�

Foto Elisângela Schmidt

Foi o caso de Ester Diniz, 51, que trabalha há seis anos vendendo pipoca no calçadão e com a chegada da COVID-19, teve que inovar. Com poucas pessoas circulando pela cidade e a baixa na venda de seu principal produto, Ester também começou a vender máscaras. “Com a pandemia está difícil. Eu vendi dois pacotes de pipoca e vendi umas máscaras. […] Eu vendia até 400 reais de pipoca, mais de 5kg de milho aqui”, contou. A maior parte de sua venda de máscaras é para empresas lotadas no calçadão, que compram em grande quantidade para os funcionários que ainda trabalham em escalas. A comerciante também afirmou a urgência em receber o auxílio emergencial, tendo em vista que sua renda caiu mais de 90%.

Foto 2 - Ester Diniz teve que improvisar, vendendo máscaras para conseguir renda.

Foto Elisângela Schmidt

O auxílio emergencial começou a ser repassado pelo governo em abril e mesmo assim com muita burocracia. O que era para ser emergencial, ou seja, rápido e prático, passou a ser demorado. E isso ocorreu por conta de que o modo mais fácil de receber os R$ 600,00 era através de um aplicativo para celular. No entanto, a grande parcela de pessoas que realmente precisavam do benefício, sequer tinham acesso à tecnologia, ocasionando aglomeração e grandes filas do lado de fora dos bancos.

Quem entrou para as estatísticas de desemprego no início da pandemia, foi o paulista, Douglas. Ex-motoboy da capital, São Paulo, veio para o interior com o sonho de uma vida nova. Deixou de lado a vida de motoboy, e conseguiu emprego de Xicória (mascote de uma grande rede de lojas da cidade). Dois meses depois, Ponta Grossa entrava em quarentena e Douglas perdeu o emprego. Com mulher e filho que estava por vir, o trabalho autônomo foi a solução. Passou a vender os alimentos em vários pontos da cidade. Simpático e de muito bom humor, o vendedor de pinhão e morangos não perdeu a foto e nem a venda. “É gostoso lidar com a população, a gente se diverte, moça. Tem que fazer por divertimento não pode fazer por obrigação”, disse, sem perder o bom humor.

Foto 3 - Após ficar desempregado na pandemia, Douglas vende pinhão e morangos como trabalhador autônomo

Foto Elisângela Schmidt

E pelas ruas da cidade, o que não faltam são exemplos da exposição desses trabalhadores ao coronavírus. Antônio venezuelano e vendedor de balas, no sinaleiro na Rua do Rosário, no centro da cidade. Chegou ao Brasil uma semana antes da quarentena, procurando abrigo na casa do primo. Na data da entrevista, era sua primeira semana vendendo balas, ainda não sabia como seria, mas mostrava a calma de quem já passou por muita coisa na vida, mesmo com apenas 29 anos. Contou que encontrou algumas dificuldades nas viagens até Ponta Grossa, por ser cadeirante, mas que gosta do país e da cidade. “É bom aqui, tranquilo. Só é muito frio, não estou acostumado”, acrescentou.

Foto 4 - O venezuelano, Antonio, vende balas no sinaleiro

Foto Elisângela Schmidt

Os trabalhadores não demonstravam medo de se contaminar com o vírus, apesar de todos estarem de máscaras, em nenhum momento falaram ou reclamaram de ficar expostos. A única preocupação era se conseguiriam levar o sustento para casa, se sobreviveriam durante a pandemia.

OS TRABALHADORES INFORMAIS NA ÁREA CULTURAL

Os primeiros a parar e os últimos a voltar. Todos os artistas dependem de público para prestigiar seus trabalhos, e não somente eles, todo o mercado cultural, com produtores, técnicos e donos de espaços culturais, tiveram sua fonte de renda zerada durante meses.

De acordo com pesquisa online realizado pelo DataSim, um público de 8 milhões foi impactado, em um prejuízo de mais de R$ 400 milhões.

Confira a pesquisa completa em https://datasim.info/pesquisas/acesse-relatorio-sobre-impactos-do-coronavirus-no-mercado-brasileiro-de-musica/

O jeito foi inovar e aproveitar os instrumentos disponíveis para conversar com o público. As redes sociais e plataformas de reunião online foram os recursos mais usados durante a pandemia. A plataforma Instagram se viu obrigada a atualizar o sistema quando uma enxurrada de lives começaram a ser transmitidas ao mesmo tempo.

Em Ponta Grossa, a classe artística mais atingida foi a da música. Acostumados a viver de trabalhos informais ou autônomos, seja tocando em barzinhos, casamentos, algumas aulas aqui outras ali, os músicos buscaram novos meios de vender seu trabalho. Porém, lives geram likes e não dinheiro.

Alexandre Mello, músico há mais de seis anos, vive exclusivamente do mercado musical e teve cerca de 25 shows cancelados, aproximadamente de dois meses e meio de trabalho. Logo no início da pandemia, Mello iniciou uma campanha colaborativa para vender suas músicas, e em seguida, lançou uma marca de roupas com a assinatura Mello. “Fiz a campanha da ‘minha música é sua’. Conseguir arrecadar dinheiro das contribuições com as vendas online, e agora com as camisetas, foi a maneira que encontrei para virar renda aliado à minha música, mas de outra perspectiva.”, explicou.

Assim como os demais trabalhadores, Alexandre enfrenta a fase de maneira otimista. “Claro que existe um choque no primeiro momento, mas eu encontrei nessas alternativas, um negócio […], uma oportunidade que surgiu no meio dessa situação.”, disse. As camisetas com assinatura Mello, com letras de músicas de artistas locais você encontra em https://www.facebook.com/assinadomello/.

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