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Uma missão de vida desafiadora

O relato de homens que entraram na sala de aula para ensinar crianças
O relato de homens que entraram na sala de aula para ensinar crianças

Por Dani Ribeiro, Gabriel Ipólito, Laísa Morais e Stefhani Romanhuk

Chegar na escola e encontrar um professor homem na sala, aguardando por seu filho, não é uma visão comum. Em pleno século XXI, a maioria esmagadora de professores da educação infantil é composta por mulheres. Dispostos a mudar essa realidade e conquistar o seu espaço, cada vez mais, docentes do sexo masculino têm aceitado esse desafio de ensinar e formar as próximas gerações, a começar pelos pequeninos.

Juliano Martins Aguiar, 41 anos, formado em letras, pós-graduado em educação especial e estudante de pedagogia, sempre soube que queria dar aula e levar o conhecimento às pessoas. Da amizade com um jovem autista, surgiu o interesse por essa área de especialização. Atualmente a maioria dos seus alunos são crianças especiais, entre quatro e seis anos de idade, tarefa que Juliano garante, não é fácil. “Você tem que fazer com que eles prestem atenção, muitos são hiperativos, é muito complicado, tem que ter muita paciência. O maior desafio é controlar, pra que eles prestem atenção, e absorvam o conteúdo que você está passando pra eles, e no caso da educação especial, você tem que trabalhar com o tempo do aluno”, explica.

Juliano acredita que o “pé atrás” dos pais ao se depararem com um professor cuidando dos filhos, deve-se também a imagem que as mulheres passam, de serem mais amáveis e tranquilas. Como quase não se vê homens atuando na educação infantil, é uma nova experiência para os pais, que naturalmente ficam em dúvida quanto à forma de agir dos docentes. Apesar de enfrentar inúmeros desafios em uma carreira cada vez menos valorizada, ele se sente realizado e determinado a seguir firme nesse caminho.

*O “tio” da Educação Física

Claudio Mendes Martins, de 49 anos, é formado em Educação Física, pós-graduado em Psicomotricidade e recentemente graduado em Pedagogia. O professor atua em uma escola municipal na região de Ponta Grossa, e é o responsável pelas aulas de Educação Física, desenvolvendo seu trabalho com alunos de 4 a 10 anos de idade.

Durante a trajetória como acadêmico, Claudio nunca sofreu nenhum tipo de discriminação e nas instituições em que trabalhou, sempre foi muito bem recebido pela comunidade. “Nas escolas em Ponta Grossa, desde 2009, nunca tive problemas com pais, professores e alunos. Sempre procurei ser exemplo para eles”, explica.

Para o professor Claudio, o cargo de cuidar e educar as crianças deve ser feito tanto por mulheres, quanto por homens, pois a presença masculina também é muito importante durante a formação dos alunos.  “A nossa cultura associa a responsabilidade de cuidar das crianças, à mulher, mas isso vem tendo mudanças gradualmente. Educar e oferecer uma base na construção do indivíduo, em um ambiente seguro é fundamental. Para a criança é muito importante a presença tanto feminina quanto masculina”, finaliza.

*Um homem entre as mulheres

David Alexandre Gelatti Bueno, paulistano de 21 anos, é professor da rede pública de ensino em Ponta Grossa. Estudante de pedagogia, escolheu conhecer a área de ensino quando se mudou para o Paraná, época que teve a oportunidade de fazer magistério junto ao ensino médio. Na educação infantil, trabalhou durante um curto período de tempo, em torno de seis meses, entre outros estágios que atuava. Nesse período, David aplicava a disciplina de literatura para as turmas de maternal um até terceiro ano.

Desde o magistério, passando pela faculdade, não teve problemas por ser homem em uma turma predominantemente feminina, nem mesmo atuando em sala de aula.  “A gente sabe que a docência, desde a educação infantil ao fundamental e até o cargo de pedagogo, é majoritariamente composta por mulheres, pela questão histórica, de ser aquela professora boazinha, bonitinha e vestido florido”, justificou. A profissão de professor passou por fases históricas. No início era apenas homens que lecionavam e depois se tornou uma profissão que as mulheres dominavam e até hoje permanece assim.

Além disso, o professor relatou sua experiência na rede privada, onde encontrou um pouco de dificuldade para lecionar. “Não era questão de preconceito, mas os pais não se sentiam a vontade com um homem lidando com crianças tão pequenas como eles.” Atualmente ele dedica-se a aulas no ensino fundamental público, no qual não sentiu nenhuma diferença ou discriminação por ser homem, além de gostar muito de professorar nessa área

*Cenário da Rede Municipal de Ensino em PG  

 Para entender a diferença do número de homens atuando no ensino básico, basta analisar os dados na Secretaria Municipal de Educação em Ponta Grossa. Na Rede Municipal de Ensino, há um total de 3.510 funcionários, sendo 2.359 deles, professores (entre homens e mulheres).  Além desses, temos 242 estagiários que apoiam em sala de aula.

Entretanto, os professores homens são no total de 63, sendo 28 em sala de aula e outros 35 na Educação Física. Os estagiários são 11 e os funcionários em geral são 98 homens. Além disso, a rede conta com 144 pessoas na direção da escola e apenas dois são homens.

 * Opinião

Patrícia Lúcia Wosgrau de Freitas, mestre em políticas e gestão educacional, é coordenadora do curso de pedagogia em uma faculdade do município e vê com otimismo o ingresso de homens na área.

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