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Sororidade: o que acontece enquanto mulheres lutam umas contra as outras?

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Por Bruna Matos e Elena Silva

“Mulher só se arruma para causar inveja nas outras!” “Trocou uma de 40 por duas de 20.” Estas e outras frases ecoam a mente feminina geracionalmente, objetivando a inferiorizarão e rivalidade entre mulheres ao longo dos séculos na sociedade patriarcal. Quantas vezes uma mulher julga outra por suas roupas, suas atitudes, reproduzindo machismo inconscientemente. Pois bem, a palavra sororidade, do latim sóror que significa irmã, vem ganhando espaço e move mulheres a criarem uma rede de apoio para transformar a vida umas das outras.

Comparação com outras mulheres

A jornalista Tatiana Lazzarotto, pós-graduada em Mídia, Política e Atores Sociais e Promotora Legal Popular – uma formação em direitos das mulheres promovida pela União de Mulheres de São Paulo -, considera a comparação, um dos principais fatores que induzem a rivalidade feminina. Pois desde cedo os elogios a meninas são: “como você é linda!” “nossa, essa vai dar trabalho!” Visto que, para o sexo oposto se ouvem adjetivos não relacionamos a caráteres físicos e sim a níveis intelectuais e comportamentais. Sobre como ele é inteligente, aventureiro e corajoso.

Autoconhecimento

“Saber quem você é e ser quem você é geram força! Acredito que o autoconhecimento proporciona vários benefícios. Entrar em contato com sua real identidade, conhecer suas fortalezas, medos e limitações também ajuda muito na relação com as demais”, explica Tatiana. Segundo ela muitas mulheres rivalizam umas com as outras e as criticam, mas no fundo não se conhecem. “Não valorizam suas qualidades e também não percebem que o que incomoda em outra mulher tem a ver com algo intrínseco a elas mesmas”, diz. Na opinião da jornalista por não entenderem quem são, por não se empoderarem, mulheres criticam umas às outras por coisas que elas ignoram em si mesmas. “Da mesma forma são inseguras e essa insegurança potencializa-se diante da presença de outra mulher”, aponta Tatiana.

Sororidade na prática

Seguindo o princípio da sororidade, o correto é sentir empatia, colocar-se no lugar da outra mulher. A base da sororidade é não julgar, não fazer comentários ofensivos e nem propagar opiniões maldosas.

Tatiana exemplifica: “pode ser difícil conviver com a sogra, insuportável aguentar aquela colega de trabalho, é complicado pensar na ex do seu atual, ou na atual do seu ex? Pode ser. Mas acho que a gente se acostuma a odiar qualquer mulher que se encaixe nesse papel, isso é dado. Creio que podemos ir além e pensar se realmente estamos agindo de forma racional ou fazendo o que sempre nos ensinaram”.

Outro ponto relevante sobre ajudar de forma prática é não se calar diante de uma opressão ou crime, registrando boletim de ocorrência se algum direito for violado. Para Tatiana quando uma mulher presenciar algum constrangimento, pressão moral, coação, humilhação, sujeição imposta pela força ou autoridade que um homem esteja exercendo sobre uma mulher, é importante não se calar. 

“Diante de uma situação como o julgamento (ou linchamento virtual) de uma mulher, eu sempre me pergunto se o homem fosse o alvo, a crítica seria a mesma?”, questiona Tatiana, lembrando que dessa maneira é mais fácil identificar o machismo e se somos orquestrados por ele. “Esse é um exemplo bem fácil para desconstruir os julgamentos. Acho que o mais importante não é apenas se calar, não rir ou não dar corda para essas coisas, mas realmente se posicionar. Fazer as pessoas pensarem naquilo que estão dizendo, defender a sua posição e, se necessário, apoiar aquela mana. Se para cada uma que sofrer tiver uma corrente para fortalecê-la, somos capazes de mover essa estrutura”, reforça a jornalista.

Sororidade virtual

De longe apenas um movimento em plataformas digitais. De perto grupos de amigas, irmãs que buscam união e companheirismo. Que conectam se através de textos, vozes, histórias, hastags, debates, fotos, conselhos e diversas formas de relatar e compartilhar sobre a luta diária.

 Desigualdade social

Vale lembrar a importância do cumprimento de direitos básicos como educação e saúde para toda sociedade. Pois nota-se facilmente que mulheres com menos recursos financeiros sofrem com a escassez de políticas públicas, racismo além de precisarem superar o machismo.

Engajamento pela causa

Em contrapartida Tatiana ressalta que estamos presenciando uma primavera feminista e vê com positivismo a luta por direitos, igualdade de gênero e contra a violência. O feminismo não é apenas vestir uma camiseta de Frida Kahlo e utilizar a hastag #girlpower é comprometimento e engajamento. É não se calar ao presenciar ou sofrer uma opressão. Criar hábitos para auxiliar a comunidade feminina em que a pessoa vive. É se conhecer e se reconhecer como mulher e lutar a favor da sua classe e gênero.

Em um dos textos de Tatiana ela reflete sobre porque a sociedade patriarcal fomenta a rivalidade feminina. A conclusão foi que: “enquanto mulheres lutarem umas contra as outras, homens continuarão dominando”.

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