Ponta GrossaSem categoria

Os altos e baixos do relevo Ponta-grossense

2As formações arenosas do Parque Estadual de Vila Velha teriam se formado durante o Período Carbonífero, há 340 milhões de anos.

 

Há milhões de anos, o relevo da cidade sofria com grandes modificações e isso ajudou na formação atual do solo da região

 

Por Guilherme Vieira

O relevo terrestre é composto por diferentes formas. Sabemos que o planeta Terra passou por grandes transformações ao longo dos bilhões de anos, e o ramo responsável por descrever e entender estas mudanças, principalmente em termos físicos, é a área da geomorfologia, que está inserida dentro das geociências. Como explica, o geólogo e doutor pela Universidade de São Paulo, Gilson Burigo: “analisamos quais fatores que contribuíram para que pudesse haver essas inúmeras variações de relevo como áreas altas, baixas, planaltos, planícies, morros e serras”, afirma.

Algumas variações de relevo podem ser encontradas em um mesmo município ou estado. A cidade de Ponta Grossa está em um local estratégico, pois aqui, temos várias formações, que deixaram pistas para que os geólogos pudessem desvendar o que aconteceu na região em um passado remoto. A cidade está situada sobre um enorme “graben”, que nada mais é do que uma depressão de origem tectônica, geralmente com a forma de um vale alongado com o fundo plano. Esta formação tem cerca de 15 km de extensão e 3 km de largura, no sentido NE-SO.

As principais formações presentes na região são do período Devoniano, que está compreendido entre 420 milhões e 365 milhões de anos atrás. De acordo com Gilson, na nossa região, podemos encontrar rochas ainda mais antigas. “As rochas que estão no 1° planalto paranaense, por exemplo, são rochas da era Proterozóica e essas, tem mais de 540 milhões de anos”. A Escarpa Devoniana presente aqui na região dos Campos Gerais tem esse nome, pois grande parte das rochas que formam a estrutura é deste período. Porém, a formação em si, é muito mais jovem, no máximo algumas dezenas de milhões de anos, que em termos geológicos, é muito recente.

O termo Devoniano tem esse nome porque existem rochas num lugar da Inglaterra (condado de Devon), tais rochas são deste momento da história. Durante o período, os continentes que hoje correspondem a Europa, América do Norte e Ásia, estavam pertos do equador. Existindo assim, formas de vidas típicas de ambientes tropicais, bem diferentes das formas de vida que tínhamos aqui na região sul do Brasil, no mesmo período, pois era mais frio.

No período Devoniano, as terras onde hoje está localizada a cidade de Ponta Grossa eram regiões planas, quase ao nível do mar. Isso contribuiu para que a região fosse alagada pelo ancestral do Oceano Pacífico, uma vez que o Oceano Atlântico ainda não existia, pois o que hoje corresponde a América do Sul, ainda estava ligado à África. “Ao longo da Era Paleozóica, a América do Sul tinha certas oscilações na vertical, ou seja, subia e descia. E com isso, os oceanos que estavam ao redor deste grande continente, chamado Gondwana, conseguiam avançar pelo interior”, afirma Gilson.

Com o passar dos milhões de anos, após a separação dos continentes, a região deixou de ter qualquer tipo de registro marinho, e hoje estamos a mais de 900 m acima do nível do mar, em função destes movimentos, que atualmente está em elevação. Um espesso manto de areia recobria toda a área formando o que hoje seria os arenitos furnas, muito evidente na região do Passo do Pupo, a 23 km do centro de Ponta Grossa.

Os últimos 11% da história do planeta, estão dentro de uma grande divisão que chamamos de Eón Fanerozóico. Esta categoria é dividida em três eras: Paleozóica, Mesozóica e Cenozóica. Estes últimos 11% são o momento da história em que conhecemos mais, porque, a dinâmica do planeta neste tempo não apresentou mudanças significativas. O termo “Fanerozóico” vem do grego “fânero” = visível a olho nu e “zóico” = vida. Durante o período, a vida começou a conquistar as áreas emergidas, partindo de animais microscópicos e aquáticos, para invertebrados e artrópodes, como centopeias e aranhas, por exemplo. Começaram a surgir também as primeiras florestas, principalmente formadas por samambaias.

E atualmente, estamos em qual período da história terrestre? O geólogo Gilson explica: “Até algum tempo atrás, reconhecíamos que estaríamos na época do Holoceno. Alguns autores tem defendido que agora nós devamos propor a existência de uma nova era, que seria o Antropoceno”. Isso se deve ao fato de que após a revolução industrial, as nossas ações humanas começaram a modificar o relevo, assim, deveríamos utilizar um termo mais recente. Porém isso ainda não é oficial.

Inúmeros fatores contribuíram para que os altos e baixos de Ponta Grossa fossem formados. O conjunto de rochas que temos na região acaba representando um dos principais fatores. Somados a isso, a movimentação da litosfera, que é camada exterior sólida da superfície da Terra juntamente com as diferentes variações do clima, determinaram todas estas variações de formações de relevo que temos atualmente.

Se falarmos em escala que represente o município como um todo, temos como principal exemplo, a própria Escarpa que forma uma espécie de degrau, separando o segundo do primeiro planalto. Esta formação acaba criando várias feições que estão associadas a sua existência. Temos cânions, desfiladeiros, furnas, cavernas e também as falhas. Em alguns lugares, as rochas se trituram e se quebram entre si. A maioria não está em atividade, mas representam linhas de fraquezas no solo que irá intensificar um processo erosivo, e porventura, rios poderão ter seu curso nessas regiões de falhas. Apesar de elas serem encontradas em vários pontos da cidade, as falhas não representam problemas sérios. Por onde passa o Rio Verde, na região do bairro de Uvaranas, por exemplo, se encontra uma dessas falhas geológicas.

Muitos ponta-grossenses ao passar perto da rodoviária, nem imaginam que ali, podemos identificar outra falha. A região situa-se numa zona, onde no passado, ocorreu uma intrusão de diabásio, conhecida por “pedra-ferro”. Enquanto nos bairros mais a leste, como em Olarias, encontramos folhelhos argilosos (Formação Ponta Grossa), no bairro da Ronda, a predominância é de arenitos, conhecidos também, como Grupo Itararé. As duas áreas de domínio, são separadas por esta enorme falha próximo ao centro da cidade.

Desde o século XVI, a população de Ponta Grossa está bem familiarizada com o morro na região central da cidade. Há aproximadamente 120 milhões de anos, a superfície de Ponta Grossa sofria com violentos terremotos e fendas profundas começaram a se abrir na região, permitindo ao magma fluir até a superfície. Este material oriundo das profundezas da terra se resfriou nas áreas abaixo, fazendo com que o solo acima, se elevasse. Formando assim, o famoso morro no centro da cidade.

Outra formação que merece destaque é “Arco de Ponta Grossa”, que tem a forma da letra “C”. Essa região se ergueu ao longo dos milhões de anos e ao se elevar, acabou sofrendo maior processo de erosão. As rochas que estavam abaixo deste conjunto, passaram a serem expostas, como afirma o geólogo Gilson: “está ocorrendo um processo erosivo que revelam as rochas que estão por baixo dessa área que se elevou. Algumas rochas irão resistir mais a esses processos externos que modelam a superfície, como a chuva e variação de temperaturas”.

Tais variações de temperaturas tiveram impacto muito importante na formação atual do relevo do município. Durante o período glacial, há 300 milhões de anos, houve o surgimento de rochas que são diferentes das demais que podemos encontrar aqui. Esta diferença está evidente também, nas suas composições, que são diferentes. Na colônia Witmarsum, a 57 km de Ponta Grossa, podemos verificar marcas que as geleiras deixaram no momento em que elas se movimentaram e rasparam o solo. Após o fim das eras glaciais, os principais rios da região como o Tibagi, Iapó e Rio Iguaçu, que iniciaram a sua formação em um momento muito mais recente na história, aproximadamente há 120 milhões de anos.

Se pudéssemos voltar no tempo e tentarmos encontrar o momento em que o relevo de Ponta Grossa começasse a ter a forma familiar de hoje me dia, teríamos então, que retornarmos após a última era do gelo. “A cada momento em que voltamos no tempo, o relevo irá se modificar. Por exemplo, há 20 mil anos atrás, tivemos uma era do gelo no hemisfério norte, aqui, não tivemos, pois estávamos afastados dos polos. Porém, o clima era muito diferente do atual, era muito mais seco. E esse clima seco fazia com que tivéssemos um modelado do relevo diferente do atual. Em grandes traços, poderíamos já encontrar a Escarpa Devoniana e as formações de Vila Velha, porém com algumas diferenças”, conclui Gilson Burigo.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *