Por Gustavo Neves
Mais de 12 milhões de pessoas sofrem de depressão no Brasil de acordo com os dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). O Brasil também é considerado o mais ansioso do mundo com 18,6 milhões de brasileiros que possuem transtorno de ansiedade. Quadros de ansiedade, depressão e pânico aumentaram em todo o planeta, e no Brasil não foi diferente.
“A pandemia atravessou fases. A primeira delas foi o fator surpresa e o medo do contágio, que nos levou ao distanciamento social para prevenir a disseminação do vírus, logo em seguida veio o medo da quebra da economia e de não conseguir viver com dignidade”, enumera o neurocientista e neuropsicólogo Fabiano de Abreu.
Esses fatores se somaram aos longos períodos de confinamento e convivência familiar, com as crianças sem poderem ir à escola, tendo aulas online. Logo surge também a preocupação sobre o ano escolar dos filhos, se de fato estão aprendendo como devem. Até que começam os comentários e reflexões sobre o “novo normal”, expressão que se popularizou. Fabiano de Abreu explica que este contexto apenas acentuou problemas previamente existentes. “Antes do vírus aparecer, as nossas vidas já estavam muito atribuladas, a saúde mental já vinha sendo discutida por conta do aumento dos índices de depressão no mundo todo”.
O que mudou é que o estado constante de alerta alcançou níveis insuportáveis para milhões de pessoas e começaram a falar sobre isso muito mais intensamente.
Agora, Fabiano entende que há globalmente uma grande dor sendo compartilhada, inclusive por quem nunca havia sentido qualquer problema semelhante antes. “A importância de estarmos organizados mentalmente refletiu em nossa rotina de forma direta, pois os conteúdos internos começaram a emergir sem filtros, atravessando o comportamento e nos limitando as ações práticas. O que era interno e invisível passou a ser externo e visível”, revela Fabiano de Abreu. Basicamente, agora estes problemas vieram à tona, “a pandemia jogou luz a assuntos que estavam embaixo do tapete”.
Ele acredita que não é possível ter saúde sem que a mente esteja sã, portanto deverá haver uma percepção maior da importância do psicológico e do emocional com a saúde em dia.
“Todos verão que uma vida de qualidade se faz urgente”, afirma o pesquisador. O neurocientista explica que o nosso código genético não está pronto para mudanças tão abruptas. “Nascemos para sobreviver e estamos utilizando instintos para a sobrevivência, como a ansiedade, por exemplo, para variadas metas de curto prazo que nos viciaram e nos tornaram dependentes em dopamina. Ele serve apenas como uma motivação natural para nos impulsionar as conquistas para a própria sobrevivência, mas hoje está sendo canalizado em vários aspectos desnecessários”, analisa.
Portanto, ele acredita que a sociedade já estava doente e que precisou apenas de um gatilho. A pandemia também serviu para revelar a importância do desenvolvimento da inteligência emocional. “Os que buscaram desenvolver os seus recursos internos emocionais estão sabendo lidar melhor com a situação atual”, finaliza.
Essa seria a cura: mudança de comportamento.