Por: Gustavo Neves

No ano passado, a Polícia Militar do Rio recebeu mais de duas mil ligações sobre violência contra a mulher no carnaval. Observar esse número significa que uma mulher foi agredida a cada poucos minutos, funcionários de segurança e vários grupos não governamentais lançaram campanhas contra o assédio.

“Alguns homens têm a sensação de que podem fazer qualquer coisa com o seu corpo”, disse Ana Lobo, uma artista de 29 anos que mais tarde naquela noite foi a uma das muitas festas temáticas feministas. “É hora de as mulheres aproveitarem esse momento”, rebate.

Muitas mulheres estão planejando medidas durante as celebrações do carnaval do próximo ano, com festas do bairro só de músicas, camisetas, colares e coroas com mensagens como “minhas regras” e várias campanhas para denunciar e reprimir assédio. “Eu estava grávida de seis meses na época, estava em uma festa de rua pré-carnaval quando um homem começou a gritar e me xingar“, afirma Lobo.

Milhares de adesivos serão distribuídos com mensagens como “’Não’ é ‘não!’” e “Me agarrar não vai render um beijo!”. A Policia Militar incentiva as mulheres a denunciarem assédio e as encaminham para as delegacias de polícia. O movimento #metoo contra o assédio que assola os EUA ainda não pegou no Brasil, que tem uma das maiores taxas de homicídio de mulheres do mundo, de acordo com o Mapa da Violência sem fins lucrativos.

Crédito: Gabriela Mota, de Salvador, BA

“O carnaval é uma das maiores festas do Brasil e também um momento em que sem dúvidas a gente se sente mais vulneráveis, não só por ter milhões de pessoas em volta e que não conhecemos, ou pelas ruas lotadas, mas também por ser uma festa em que a gente sempre quer colocar uma fantasia legal e curtir. Mas claro que não tem como sentir bem o tempo todo porque infelizmente o assédio é frequente. O álcool ainda piora a situação. Já sofri assédio em que um homem veio para cima de mim tentando me agarrar, mas meus amigos me tiraram na hora. Deveria ser um momento para curtirmos, mas infelizmente a gente precisa estar atentas o tempo inteiro e pior, temos medo o tempo inteiro também”, afirma Júlia Diniz, frequentadora dos blocos de rua do Rio de Janeiro.

O carnaval é apenas uma pequena parte de um problema muito maior. Vários outros grupos de festas de rua com tema feminista foram formados em cidades em todo o país. “Já presenciei muitas cenas de assédio, não só verbais quanto físicos também. Verbais acontecem o tempo inteiro. Os físicos nos afetam ainda mais. E eu me sinto mal por quem é vítima. Acho que toda mulher que vê outra mulher sendo assediada se sente mal também. É uma sensação horrível”, finaliza Júlia.

10Creative Commons – CC BY 3.0 – Guia didático da diferença entre paquera e assédio

Mas enquanto grupos de mulheres dizem que o Brasil tem um longo caminho a percorrer para enfrentar a desigualdade e o machismo enraizado, eles veem vislumbres de um movimento potencialmente maior no diálogo público sobre o assédio durante o carnaval e o que as autoridades e várias organizações estão fazendo para reprimi-lo.

 

 

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