Ex-narcotraficantes relatam a vida amarga durante e após saírem do mundo do crime  

                                                                      Por Camila Debtio, Jeniffer Case, Emanuel Robassa e Renato Pitella

 

A Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas (Dapp/FGV) mostrou que 62% das mulheres encarceradas no Brasil estão presas por terem tido envolvimento com tráfico de drogas. Nos dias de hoje, a entrada no mundo do narcotráfico tem se tornado cada vez mais fácil para  brasileiras, segundo o mesmo Centro de Pesquisa.

No Paraná, com a grande movimentação do narcotráfico dentro do estado em 2019, ano em que se atingiu o número recorde de apreensões (mais de 10 toneladas), a entrada das mulheres no mundo do crime vem crescendo em proporções cada vez mais altas.

Maurício Souza Luz, delegado da 13º Delegacia de Polícia de Ponta Grossa, diz que não só mulheres jovens são presas por traficar drogas na região, mas também adultas e que, em geral, mulheres de todas as faixas etárias já foram presas na cidade pelo mesmo crime.” Pela experiência que temos visto, nós já prendemos desde adolescentes até a chamada ‘vovó do tráfico’. Realmente não temos uma idade específica para esse crime”, afirma.

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Foto: Polícia Militar

Como o tratamento com as mulheres pela polícia é diferenciado, as mulheres, segundo o delegado, sabem valer-se da condição de seu gênero na prática do crime “Elas têm aí diversos meios de esconder a droga. Então, realmente, isso tudo aí é utilizado. Recentemente apreendemos uma grande quantidade de cocaína escondida justamente embaixo do colchão do berço da criança (filha da traficante em questão).”

Percebendo que a venda de drogas é um meio de subsistência eficaz, as mulheres, jovens, adultas e vovós, que não têm a chance de entrar para o mercado de trabalho, e tampouco de concorrer num vestibular, veem-se tentadas a aceitar a participação numa prática ilegal, mas que rende muito dinheiro. Dâmaris Melo, que cedeu à tentação, contou sua experiência como narcotraficante e usuária de drogas.

“Eu comecei a usar drogas com 13 anos. Depois, a vida do crime me abriu um leque bem grande de possibilidades. Eu comecei, então, com pequenas entregas e fazia um serviço meio que “laranja”, quer dizer, algo mais leve. Mas a ganância é algo que leva você muito rápido, Em questão de dias eu já era mais vendedora do que consumidora de drogas”, relata.

Contudo, se no início o tráfico de drogas garantiu para Dâmaris uma recompensa rápida e proveitosa, a vida após o contato com o mundo do crime revelou-se a ela de forma bem mais amarga. “Ainda carrego comigo várias cicatrizes desse período. Tenho um desvio de septo nasal  por conta do uso excessivo da cocaína. Tenho também algumas limitações físicas, como problemas no estômago. Mas a parte mais triste é a parte burocrática.”

Com efeito, a busca por uma vida melhor, depois da passagem pela prisão, torna-se algo quase impossível para as mulheres. Entre as maiores dificuldades enfrentadas por elas estão a rejeição em entrevistas de emprego, a perda do respeito por parte dos grupos que frequentam e a ameaça reiterada por parte de policiais.

 

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