Por Gabriel Ramos

Uma das primeiras classes de trabalhadores a serem atingidos, os artistas ligados ao teatro passaram por uma pausa forçada de quase dois anos. Para entender como está sendo o retorno conversamos com alguns participantes o 49° Fenata

Após aproximadamente dois anos, os teatros voltam a receber artistas, técnicos e principalmente, os expectadores. Aos poucos, eventos e peças são apresentadas, e ao acompanha-las podemos notar claramente a emoção nos olhos do público. Mas muitos podem se perguntar o que se passa por trás das máscaras da atuação, utilizadas pelos artistas ao subirem no palco. Para tentar entender um pouco mais sobre isso, conversamos com um ator e a diretora de uma peça apresentada no 49° Fenata, um dos festivais de teatro mais antigos do Brasil, que ocorre em Ponta Grossa.

Afastado dos palcos desde o fim de 2019, Renan Sota, que além de atuar realizou a assistência de direção e dramaturgia da peça “A Borboleta da Colina”, conta o que sentiu ao voltar, finalmente, para as apresentações presenciais. “Retornar aos palcos foi uma das coisas mais emocionantes da minha vida, sentir o calor e o olhar do público é algo que preenche as lacunas impostas pelo distanciamento”.

O ator conta que se reinventar profissionalmente não foi uma escolha, mas sim uma necessidade para todos os artistas, que passaram a buscar estratégias de fazer teatro remotamente. “As dificuldades não foram empecilhos para nós. Nos reuníamos virtualmente semanalmente, estudávamos, produzíamos, pesquisávamos e, publicávamos”.

Viviane Aparecida Oliveira da Silva, responsável pela direção e estética geral da peça ressalta os momentos de dificuldades e tensão vividos duramente a pandemia. “A arte sempre está circulando. E como a pintura “Guernica” de Picasso, foi tudo em tons de cinza e azul escuro, pedaços de sentimentos para todos os lados, foi difícil estar em meio a tudo o que acontecia no sentido da saúde, social, político e cultural”.

Através das reinvenções digitais Viviane diz que os artistas conseguiram evitar a sensação de solidão e afastamento. Ela mesma, durante este processo, garantiu a premiação de melhor atriz coadjuvante pela atuação na peça “Shakespeare- paixão e poesia”, apresentada no festival Profesteatro. Além disso, também foi convidada para participar do Coletivo Cacareco, de Ponta Grossa.

Viviane afirma que possíveis medos e apreensões do retorno aos palcos não serão empecilhos para os artistas, mas que inevitavelmente eles precisam de pessoas, do público, e também de incentivo, seja do governo ou privado, para que possam dar vida a projetos e estudos desenvolvidos durante a pandemia.

Ambos, diretora e ator, foram aplaudidos de pé ao fim da peça “A Borboleta da Colina”, e o sentimento de agradecimento e acolhimento é idêntico em Renan e Viviane.

“Consegui ver o teatro de uma forma nova, parece que cresci. Tenho mais coragem e força, e os aplausos foram como uma luz de afago e esperança depois de tanto tempo afastada. Nunca vou esquecer esse retorno caloroso que recebi da plateia” conta Viviane. Renan relembra: “Fomos aplaudidos de pé aos gritos de bravo, algo que nunca havia acontecido com a intensidade que foi. Isso fez nossos olhos lacrimejarem de emoção. Só sentimos gratidão”.

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