Por Dani Ribeiro

À frente de suas escolas de artes, Alberto Portugal, Bianca Almeida e Larissa Ogg, vivem ‘sua paixão’ enquanto trabalham com a formação de novos artistas

Nos últimos meses, sendo obrigados a diminuir a velocidade frenética da vida e com um grande volume de notícias ruins chegando, muita gente encontrou na arte um escape da realidade. Teve quem conseguiu tempo para pôr a mão na massa, no pincel, no instrumento empoeirado, ou para se conectar na live que trouxe o artista para dentro da casa. Terapêutica para alguns, hobby para outros, a arte também é profissão. Para conhecer um pouco sobre a vida de quem escolheu – e consegue – viver de arte, conversamos com três profissionais da nossa cidade.
Alberto Portugal, 33 anos, Bianca Batista de Almeida, 32 anos, e Larissa Ogg Simões Manosso, 26 anos, são artistas e empreendedores, proprietários de escolas especializadas no ensino da arte em Ponta Grossa e região. Formando novos artistas e fomentando a indústria cultural local, eles fazem parte de uma geração que ainda sofre com a desvalorização da classe e da própria cultura, mas ao comparar o presente com o passado, conseguem ver melhorias e são otimistas quanto ao futuro.
Portugal é bacharel em Artes pela Universidade Tuiuti do Paraná, Arquiteto e Urbanista, pós graduado em Dança, Teatro e Música. Escritor, é membro efetivo da Academia Ponta-Grossense de Letras e Artes, da Academia Bahamut e do New Art Gallery. No teatro já dirigiu dezenas de espetáculos e coleciona prêmios. Desde 2015 é diretor da Casa das Artes, que atua em várias cidades da região, oferecendo mais de 30 cursos livres como aulas de ballet, dança contemporânea, jazz, sapateado, teatro musical, clown, entre outros.
Bianca Almeida, que está concluindo a licenciatura em Teatro na Faculdade de Artes do Paraná (FAP), é diretora, roteirista, professora de teatro e proprietária da escola que leva seu nome, e conta com aulas de cinema, ballet, jazz, contemporâneo, zumba e técnica vocal, além do curso de teatro, carro-chefe da Instituição.
Larissa Ogg, licenciada em Artes Visuais pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), e especialista em filosofia pela Universidade Cândido Mendes (UCAM), é responsável – juntamente com seu esposo Maick – pelo Centro de Artes Expressão, que oferta cursos de desenho, pintura, fotografia e mais de 20 instrumentos musicais.

Confira a entrevista e conheça um pouco da história e da realidade desses três artistas:

Qual a importância da arte para a sociedade?

Alberto: ela é um instrumento de transformação social e das pessoas. A gente usa sempre uma frase do Nietzsche: ‘temos a arte para não morrer de verdade’. Estamos em um tempo tão difícil, que é só desgraça, a gente liga a TV e só vê coisa pesada, ruim, e a arte vem sempre provocar alguma coisa. Seja uma discussão, um pensamento mais crítico, beleza. É tão importante ver coisas belas, que nos tiram da nossa caixinha. É importante ver algo além, a comida é o alimento para o corpo, e a arte, o alimento para a alma.

Bianca: a sociedade preciso da arte, pois é uma ferramenta de transformação e revolução. A arte tem poder de mudar vidas, salvar pessoas, a arte volta a dar sentido na vida das pessoas, a arte tem poder de gerar vida a todos que se permitirem receber isso. A arte não é só entretenimento, é uma arma poderosa, cabe a nós decidir de qual forma vamos usá-la para benefício em meio a sociedade. O teatro é político, são pessoas, seres humanos, igualdade, luta, mudança!

Larissa: a arte é importante para o ser humano, ele precisa de arte, é um ser estético por natureza. Se você pensar que desde o mais primórdio de uma sociedade já existia a arte, você para e pensa, opa, acho que talvez seja relevante. E a gente tem uma história da humanidade construída em cima de arte. O ser humano precisa de arte para se expressar, precisa de estética, do belo, da contemplação, do sublime, são coisas intrínsecas ao ser humano.
Enquanto sociedade, a arte é uma leitura do tempo, ela expressa o tempo. Se você olhar a história da arte, você consegue ler o espírito de uma época por meio das obras que foram produzidas. Tanto que se você pegar o renascimento, romantismo, modernismo, é tudo um espelho da sociedade. A arte reflete a sociedade, e isso é muito profundo.

Onde começa sua história com a arte?

Alberto: comecei a minha história na arte ainda criança, fazendo parte de uma companhia de teatro de um colégio em que estudei. Eu sempre gostei, e com o objetivo de fazer as pessoas rirem, fui atrás do teatro para ser um canal de extravasar. Por incrível que pareça, eu já fui tímido um dia na minha vida [risos], então a ideia era vencer a timidez. Aos 15 anos comecei a fazer teatro para valer, tendo participado de várias companhias. Viajei, fui para vários lugares.
Minha mãe dava super força, achava que era legal. Mas na minha família eu não tenho ninguém assim próximo da área do teatro, todo mundo é da área do Direito. Eu até tentei, mas fui para outro lado completamente diferente, existe até uma resistência na minha família, muita gente, não desvaloriza, mas não reconhece como profissão o teatro.

Bianca: a minha história com a arte começa dentro da igreja. Na minha adolescência eu comecei a congregar e então recebi um convite para fazer parte de um grupo de teatro. Só que na verdade eu sempre fugi, porque eu nunca gostei do teatro, da arte na minha infância. Eu sempre fui uma pessoa muito introvertida, fechada, resistente, tinha dificuldade em fazer novas amizades, eu era muito na minha, no meu mundo, até demais. Então a arte, se expor para as pessoas, eu nunca gostei, fugia.
E daí na igreja, a líder desse grupo sempre me convidava para eu fazer parte, até que um dia de tanta insistência eu acabei indo para ver como que era, e aí comecei a frequentar os ensaios. Depois de uns dois, três meses frequentando o grupo, a líder veio e perguntou se eu queria fazer uma participação na peça. Eu falei que se fosse rápido, tudo bem. Eu fui ver e o meu papel era o principal.
E como eu sempre tive isso dentro de mim, tudo aquilo que está nas minhas mãos, eu procuro dar o meu melhor, fazer com qualidade. Eu não tinha conhecimento técnico, não sabia nada sobre teatro, mas eu lembro que eu me trancava o dia inteiro no meu quarto, ficava ensaiando sozinha, trabalhando voz, postura, trabalhei até técnicas que eu nem sabia que eram técnicas.  E eu orava muito, eu falava ‘Deus, me mostra qual é o meu lugar no mundo, se é através do teatro, das artes que o Senhor vai me usar, se é o meu propósito de vida’.
E no dia da apresentação da estreia, eu falei novamente ‘Deus me mostra, se é o teatro que o Senhor quer que se torne minha profissão, que eu possa sentir algo como uma confirmação’. Dito e feito, eu senti uma paixão absurda tomando conta do meu coração no momento em que eu estava em cena. E depois que terminou o espetáculo eu lembro que eu chorava muito, porque não era a Bianca que estava em cena. Eu sentia a personagem. Foi uma peça incrível que mexeu com o público, impactou muito num sentido positivo.
E eu fiquei surpresa com o que tinha dentro de mim e eu não sabia, e naquele momento Deus me mostrou esse dom e talento que eu sempre tive, e que Ele estava acordando em mim. Eu senti como se Deus falasse assim ‘eu te chamo para a área das artes, estude, eu vou te capacitar, e essa vai ser a sua vida’. E a partir dali entrou um amor imenso pelo teatro e então eu comecei a ir atrás, buscar conhecimento, parte técnica, me aprofundar para fazer o teatro da melhor forma possível. Então esse encontro com a arte começou dentro da igreja. Eu acho que se eu não tivesse um encontro com Deus antes, eu não teria conhecido, quem sabe, a arte e esse dom e talento que tinha dentro de mim e eu não sabia.

Larissa: Eu sempre gostei da arte. A minha mãe sempre lidou muito com artesanato. Quando eu era bem pequena ela pintava tela, então ela sempre estava lidando com coisas manuais. E na minha casa a gente sempre foi muito ligado à filmes, as vezes no fim de semana a gente colocava colchão no chão da sala e assistia uns seis filmes. Ia na locadora, pegava fita [risos] e assistia vários filmes. Então, sempre tive uma relação muito forte com o cinema também. E música, meu pai gostava bastante de ouvir música, Kid Abelha e Cássia Eller.
Quando eu fui crescendo, com uns 12 anos, eu queria fazer faculdade de cinema. Mas depois acabei mudando, na hora de escolher uma faculdade, é uma decisão difícil né? E passei por ‘quero fazer direito’, ‘quero fazer história’, e daí por fim escolhi fazer psicologia, tanto que eu cursei um ano e meio de psicologia na Unicentro, em Irati, morei lá por dois anos, mas desisti. Quando eu voltei fiquei meio perdida no que fazer, mas chegou uma altura que falei, ‘não, eu vou decidir o que eu vou fazer da minha vida’. E eu sabia que seria alguma coisa relacionada a arte.
E aí eu fiz o vestibular para Artes Visuais aqui na UEPG. E enquanto não saia o resultado eu fui fazer uma escola de missões em Campinas, na JOCUM. Lá eu orei e falei para Deus que se era para realmente eu fazer aquele curso, que eu passasse em primeiro lugar. E enquanto eu estava lá nessa escola saiu o resultado do vestibular e eu tinha passado em primeiro. Naquele momento eu senti Deus falando ao meu coração que era para isso que Ele estava me chamando, para as artes. Que Ele tinha me chamado através disso, porque eu me converti em um acampamento em que estava dançando. Ele falou que me chamou através das artes e que ele iria me usar através das artes. E aí fiz o curso de Artes Visuais e me encontrei, é o meu lugar.

E como foi o processo de profissionalização na sua vida, de passar a ‘viver de arte’?

Alberto: Aos 18 conheci o Bailarino e coreógrafo Guilherme Tupich, e logo em seguida fundamos nossa própria cia, a Oficina Nova Expressão, que pouco tempo depois começou a se chamar Casa das Artes.
Em 2006, transferimos a cia para Curitiba, e fazíamos parte de dois projetos de pesquisa em teatro e dança. A Cia Cidade Proibida foi um grande sucesso, com uma proposta de levar arte pra situações inusitadas além dos teatros. Com o espetáculo Chicago, invadíamos festas, feiras, formaturas e até ruas movimentadas. Depois, entramos no ramo da comédia, e aí e ficamos em cartaz um bom tempo com o espetáculo Topete Curitibano, em que eu fazia 18 personagens, e os bailarinos “destruíam” coreografias de repertório. Era ridiculamente maravilhoso!!!
Eu sempre comento que estava fazendo a faculdade de artes, e no terceiro ano resolvi estudar arquitetura também. Quando passei no vestibular, minha mãe me abraçou emocionada e disse “finalmente, agora você vai ter uma profissão!” foi uma fala espontânea, mas eu já estava fazendo uma faculdade para ter uma profissão… e é assim mesmo. Muita gente relaciona arte como hobby, como um pedaço apenas. E não é. Levamos nossa empresa a ferro e fogo, e acreditamos que no Brasil a cultura vai mudar em breve. As pessoas darão mais valor à cultura.
Aí no final de 2013, a gente vivendo em Curitiba, trabalhando com outras coisas, além do nosso projeto da Cidade Proibida, a gente montou um grupo de teatro em Tibagi, que é um município que tem um histórico cultural bem forte e estabelecido. Criamos um grupo de teatro e um de dança, o Guilherme inclusive chegou a ter 600 alunos de dança em todo o município, e depois nós abrimos a Casa das Artes do Tibagi. Foi um super projeto que viajou, que participou do Festival de Dança de Joinville, do Prêmio Desterro de Florianópolis, do Festival de Teatro. E no finalzindo de 2018, resolvemos voltar para Ponta Grossa, porque já tínhamos uma proposta paralela de trabalho, e abrimos a Casa das Artes aqui, inclusive vários alunos nossos acabaram nos acompanhando.

Bianca: O processo de profissionalização na minha vida demorou bastante, porque quando eu comecei a estudar o teatro, eu fazia parte desse grupo que era só de dentro da igreja, então eu só fazia peças para a igreja, peças cristãs. E eu fiquei anos fazendo até que foi me passado a liderança do grupo de teatro, então eu já não era só um membro no grupo, eu tinha uma responsabilidade maior. Na época o nome que eu dei para o ministério era Companhia de Artes Ele Vive, porque eu acreditava que Deus tinha que viver em cena, viver nas nossas ações e tudo mais. Deus sempre esteve presente – nunca a religião – na minha vida.
E daí eu comecei a estudar mais ainda, uma obrigação maior de saber o que estava fazendo porque eu estava conduzindo outros artistas naquele grupo. E a minha mentalidade foi se abrindo de um jeito muito grande quando eu comecei a fazer cursos, fiz cursos de artes lá em Ibiúna, com a Companhia de Artes Jeová Nissí. Comecei a fazer alguns workshops em Curitiba, comecei a investir naquilo. Porém, eu só fui viver da arte 100% em 2014, quando eu tomei a decisão de abrir a minha escola, abrir a empresa Escola de Artes. Desde então, em seis anos de escola eu tenho vivido 100% disso. Não tenho outro trabalho, não tenho outra renda. E antes disso, enquanto eu era líder do grupo da igreja, eu trabalhei como secretaria, dentro da igreja também.

Larissa: Eu já trabalhei com algumas coisas relacionadas à arte. Já trabalhei em escola regular, como professora de Artes, no Ensino Fundamental II. Dei aula de técnica vocal e desenho na Escola Bianca Almeida. Dei aula de musicalização infantil, em uma outra escola. E trabalho no Centro de Artes Expressão, que eu e meu marido somos proprietários. E já fiz alguns desenhos por encomenda.

Quais foram as maiores dificuldades que você encontrou pelo caminho?

Alberto: as maiores dificuldades estão nesse movimento louco de desvalorizar a cultura, de banalizar e de censurar a arte. Isso acaba sempre minando o Público. Há um ranço político sendo implantado sobre a arte, o que evidentemente é uma forma de deixar as pessoas menos críticas…e aí, consequentemente menos gente vai aos espaços culturais, as pessoas vão ficando alienadas, o país vai sendo mais destruído. Parece uma teoria da conspiração… mas não é!

Bianca: a falta de valorização no trabalho das artes, as pessoas queriam às vezes estudar o teatro de graça porém nunca davam o devido valor por isso. Outra dificuldade foi a parte financeira. Os maus falatórios, pessoas que tentavam denigrir minha imagem, por eu ser artista cristã, eles pensavam que na minha escola eu “pregava a palavra de Deus para os alunos” e que por ser cristã eu não tinha conhecimento técnico na área do teatro.

Larissa: com relação à escola principalmente, começamos assim de um jeito informal, o meu marido dava aula em casa, para depois estruturar. Até chegar em um momento que a gente falou ‘não, a gente precisa reunir tudo isso em um lugar’, aí abrimos a escola. Então as coisas aconteceram de uma maneira natural, conforme a gente sentia as necessidades, ia adaptando. Mas de dificuldade assim, acho que um pouco da questão da desvalorização em relação à pagamento.
Por exemplo, a pessoa chega assim ‘faz um desenho para mim’, daí você fala ‘beleza, é tanto!’, aí a pessoa já ‘mas como assim? Você vai cobrar?’. Sabe? Mas eu vou gastar material e principalmente tempo, as pessoas não têm noção. Eu sempre falo assim, eu não nasci para ser médico, eu nasci para ser artista, outras pessoas nasceram para ser médicas. Mas o tempo que um médico gasta fazendo uma cirurgia, eu gasto fazendo um desenho. As pessoas não têm noção que tem desenhos que você leva 10h para fazer, 15h. Então você está gastando seu tempo ali. E nem relógio trabalha de graça. O principal problema é a mentalidade que artista não é profissão. Sabe aquela coisa de ‘ah você é músico, mas você trabalha com o que?’.

Ponta Grossa é uma cidade que valoriza a arte/o artista?

Alberto: Em Ponta Grossa, eu diria que a grande dificuldade é conquistar o público. Tem peça que a gente leva pra outras cidades e lota a plateia. Aqui, muitas vezes apresentando de graça, temos pouca gente assistindo. A cidade tem um desenvolvimento cultural muito ativo. Há programação e produção para todos os tipos de público. Mas acho que as pessoas deveriam valorizar mais, frequentar os espaços culturais com mais frequência. Tem gente que se orgulha de dizer que nunca pisou num teatro, nunca foi a uma galeria.

Bianca: Olha, é meio relativo. Porém a cidade avançou muito na maneira como enxerga a arte e o artista, então acredito que sim, a cidade tem valorizado. Mas é sempre bom ressaltar que pode valorizar muito mais ainda.

Larissa: Eu vejo que Ponta Grossa já foi muito pior, mas muito pior do que hoje. Alguns anos atrás você percebia que a única coisa envolvendo ‘cultura’, ‘artes’, era show na MünchenFest e na Efapi. Eram as únicas coisas que tinha. Hoje a gente já vê o Coro Cidade, a Orquestra, espaços da Prefeitura para exposições de arte, apresentações como o Sexta às Seis, Festival de Música. Então, se você olhar de alguns anos para trás, para cá, melhorou muito.
Mas eu vejo que é uma iniciativa da Prefeitura que a população não acompanha. É uma mentalidade que o ponta-grossense não tem tanto, de ir num teatro, em um festival de música, de apreciar. Então, essas iniciativas da Prefeitura são muito boas, porque vão, a longo prazo, gerar essa cultura de ir à festivais, teatro, exposições, mas o ponta-grossense ainda não tem essa mentalidade, de ir em espaços de artes, de consumir arte, logo, também não valoriza.

Como é ser artista no Brasil?

Alberto: No Brasil a gente tem muita dificuldade porque existe uma marginalização da classe artística, a gente percebe que a galera aponta o trabalho do artista como um bico, ou como um hobby. E isso é péssimo, faz com que o artista tenha que sempre estar apelando para outras áreas, outras funções no trabalho. Não temos a visão que a cultura pode ser uma indústria de entretenimento, de tecnologia. E isso reflete muito no desenvolvimento do nosso país. Não é à toa que a Europa investe em cultura, em turismo, tanto quanto em saúde, educação, até porque cultura é uma forma de manutenção das cidades.
Não é fácil ser artista no Brasil, a gente precisaria muito mais de incentivo, muito mais de consumo. Que as pessoas consumissem o produto cultural, quer dizer, comprassem o ingresso dos espetáculos, prestigiassem os espetáculos. Aqui em Ponta Grossa, esse, na minha opinião, é o maior problema. A gente vê espetáculos que estão rolando no país inteiro e chegam para se apresentar em Ponta Grossa e dificilmente a gente tem as plateias lotadas.

Bianca: Não é nada fácil! Pra você ter destaque precisa trabalhar muito, mas muito mesmo. A área das artes pode ser um campo muito perigoso também se você não souber quem você é e o que você quer. Um dos maiores problemas é a síndrome da comparação, artistas que se baseiam só em comparações, e então isso acaba bloqueando seu processo criativo, e tudo que reproduzem são apenas cópias. Enquanto têm alguns artistas pagando o preço, estudando, levando a sério as artes, existem também outros que não têm feito nada disso, e buscam apenas ganhar vantagem em cima da arte.

Larissa: Tem cidades que essa cultura já está mais forte. Curitiba é uma cidade que tem mais uma cultura de consumo de arte, já faz mais parte do dia a dia da cidade, penso que São Paulo também. Mas principalmente, acho que na questão de valorizar enquanto profissão, ainda é muito complicado no Brasil e em Ponta Grossa. A valorização da profissão artista, não é entendido que é uma profissão extremamente necessária para o bem-estar social, para o desenvolvimento de um país, do ser humano.

Dá para ganhar dinheiro e ‘viver bem’ sendo artista?

Alberto: Ouvimos muita gente dizendo que é impossível viver de arte, mas acho que sempre conseguimos. Não sem dificuldades, mas conseguimos. Estudei teatro em várias escolas, e Guilherme também. Provavelmente vai ter gente querendo me matar por dizer isso, mas não sei se hoje faria faculdade de artes… Tenho certeza que o mais difícil é vender o próprio peixe, e isso a gente aprende na vida.
Infelizmente, o que a grande maioria dos artistas faz pra sobreviver é se dedicar a outros ofícios também. Principalmente quando se está sem algum incentivo. Eu faço várias coisas, além de dar aula de teatro. Se hoje dependesse só do teatro pra viver, estaria passando fome. Mas levamos como dá.

Bianca: Sim com certeza! E tenho trabalhado muito por isso, para me tornar uma referência sobre esse assunto, para comprovar para todos os artistas que é possível SIM viver somente do que se ama, que é as artes. Se houver trabalho árduo, constante, sério, respeitoso por trás, com certeza dá pra viver disso sim! Outra coisa é que, precisar existir paixão acima de tudo.
Antes de querer viver da arte, é preciso perguntar para si mesmo: “Eu amo isso? Meu coração queima por isso? Eu quero ajudar e mudar pessoas com minha arte? Mesmo em meio a dificuldades eu vou querer desistir da arte? Eu vou fazer a diferença na vida das pessoas através da arte? A arte é meu chamado e propósito de vida?” Tem que ter certeza absoluta de que você foi chamado para essa área, para poder ter força pra lutar, conquistar e se tornar referência pra milhares de pessoas.

Larissa: É uma questão complicada, porque você enquanto artista precisa ser empreendedor. Não tem como você ser artista, viver de arte, sem empreender, e eu acho que isso não é ensinado.  Por exemplo, aqui em Ponta Grossa eu conheço várias pessoas que lidam com arte, fiz a faculdade, convivi com várias pessoas desse meio e não se tem essa mentalidade de empreender. Enfim, ideologias e várias coisas passam por isso, mas toda pessoa precisa ser empreendedora em algum nível. E o artista precisa ser empreendedor, ‘vender o peixe’.
Beleza, ‘eu quero viver de arte, eu quero trabalhar com isso’, você precisa ser uma empresa. Essa é uma mentalidade que não existe na classe artística, que é muito complicado. Porque você precisa entender, eu sou uma empresa, vai lá, abre um MEI de artes, tenha um CNPJ e trabalhe como uma empresa. Acho que essa visão ajuda muito a profissionalizar o seu serviço enquanto artista e também a gerar uma classe consolidada de pessoas que trabalham nesse ramo. Então eu acho que para você ser artista e viver de arte você precisa ser empreendedor.

Antes da pandemia, quais projetos que você tinha para este ano?

Alberto: Este ano estrearíamos de espetáculos e entre eles ‘A menina dos meus olhos: canções da minha vida’, um musical incrivelmente lindo, com um elenco na faixa dos 70 anos de idade e outro mais jovem. Deveríamos agora estar viajando inclusive, porque seria uma turnê de espetáculos. Tivemos que suspender sem data de retorno por causa da pandemia.

Bianca: Muitos… entre eles, várias apresentações de espetáculos teatrais, nosso espetáculo de final de ano que seria um clássico de Crônicas de Narnia, abertura de novos cursos, e eventos artísticos

Larissa: Nossa, tinha alguns planos. Com relação à editais (isso tem muita relação com a fala anterior). Existem editais, licitações e se você não pensar como uma empresa, você não entra em um edital na área de cultura.  Com relação à escola, a gente queria ter mudado de lugar, mas a pandemia deu uma dificultada.

E com a pandemia, como está sua vida profissional e como você está sobrevivendo?

Alberto: Durante a pandemia, nós suspendemos nossas atividades no teatro da Casa das Artes.  Exceto aulas de dança de níveis avançado e intermediário que acontecem on-line. Está saindo caro para nós, mas a vida é bem mais importante

Bianca: ainda continuo com o teatro, com a minha escola funcionando (não está no normal ainda) e também comecei a investir em mini cursos de teatro on-line, workshops de teatro on-line, que têm alçando muitos artistas de todo Brasil. Confesso que fui surpreendida pela grande procura do meu curso.
Atualmente estou dando aulas para duas turmas que abri do mini curso que tem duração de quatro meses, aulas em tempo real pelo zoom, tenho 24 alunos nessas turmas. O Instagram da escola tem crescido muito mesmo, estamos chegando a 5K de seguidores, muitos contatos novos têm surgido.
Tenho investido também em vídeos, conteúdo gratuito para todo mundo. E atualmente, em meio à pandemia, assumi a direção de uma das escolas de artes referência em Curitiba, Atos Escola de Artes. Surgiu mais essa ótima oportunidade também. Então, possuo hoje duas escolas de artes, uma sendo em Ponta Grossa e outra em Curitiba.

Larissa: Com a pandemia a gente conseguiu fazer uma adaptação. Acho que todo mundo teve que fazer isso, de ir para a internet. Adaptamos as aulas para ser à distância, alguns alunos optaram por isso.  Precisamos tomar todos os cuidados com as aulas presenciais, de marcar horários que não tivesse muita gente, fazer higienização, tomar todos os cuidados necessários. Tivemos que reduzir bastante o horário de funcionamento e ir para o on-line. Estamos tentando produzir muito conteúdo para o Instagram e fazer esse acompanhamento à distância. Precisamos se adaptar a essa realidade.

A maior parte dos seus alunos são pessoas que querem ‘ser artistas’, ou eles procuram as aulas mais como um hobby, uma terapia etc?

Alberto: Aqui na unidade da cidade Ponta Grossa temos uma média de 70 atores na casa, a maioria com foco de trabalhar com isso, mas sem pretensão de ser a única fonte de renda. Essas pessoas que estão estudando com a gente têm um perfil muito disposto a ensaiar final de semana, domingo, feriado, quando há necessidade.

Bianca: Não são todos não, porém dentro da minha escola, a maioria que começa a fazer o curso de teatro tem como foco seguir carreira artística, pois trabalhamos nessa área, de preparação de atores, artistas.

Larissa: Dos meus alunos, a maioria é por hobby, terapia, ou querem aprender alguma coisa nova. É difícil encontrar uma pessoa que começa a fazer uma aula de violão, guitarra, desenho, que já vai com o intuito de ser artista. Mas isso é uma coisa que a gente tenta explorar. Temos tentado mostrar que essa é uma opção, colocar a pessoa enquanto artista. Porque quando a pessoa começa a tocar violão ela não se enxerga enquanto artista, ‘ah eu vou aprender uns acordes para aprender a tocar as músicas que eu gosto’.
Nas minhas aulas de desenho, eu tenho tentado desenvolver no aluno a parte de criação, da pessoa se enxergar enquanto artista também. Porque as pessoas não chegam como essa visão. Eu acho que a maioria das pessoas enxerga o artista como um ser de outro planeta, mas elas também podem ser artistas, então a gente tenta desenvolver essa mentalidade.

No seu trabalho com a formação de novos artistas, você vê muitas pessoas, com muito potencial, desistindo? E se sim, quais são os principais fatores que levam a esse abandono do sonho?

Alberto: Muito gente acaba desistindo do processo de formação como artista porque não consegue levar uma jornada dupla, ou muitas vezes tripla de trabalho. Temos muito atores ali, que acabam entrando em empregos diversos e aí têm dificuldades de conciliar o cuidado da família, trabalhar em outro lugar e se dedicar à arte, que é um processo exaustivo, nós temos ensaios que chegam a durar 5h, 6h um espetáculo, e acabam cansando e abandonando.

Bianca: Infelizmente sim. Os fatores são: falta de comprometimento, responsabilidade, falta de foco, falta de paixão pelas artes, muitos tem paixão pela fama, o que não ajuda em nada. A falta de querer pôr a mão na massa mesmo sabe, e se deixar em tudo, estudar, se aprofundar, faz com que artistas que têm potencial, desistam. Outro fator é a falta da autoconfiança em seu próprio trabalho e a síndrome da comparação.

Larissa: as experiências que a gente tem de ver que a pessoa tem muito potencial mas acaba largando, muitas vezes é por causa de outros projetos. A pessoa precisa trabalhar com outras coisas, ou a pessoa tem outros planos, e acaba largando.

Quais benefícios o ensino da arte (de maneira geral) traz à vida das pessoas?

Alberto: falando das áreas que a gente mais atua na Casa das Artes – teatro e dança – questão de postura, disciplina, respiração, memória, se desinibir, porque o mais difícil é a pessoa ter coragem de enfrentar um palco, descobrir os limites do próprio corpo. É uma forma de estar sempre tendo uma expectativa, quer dizer, a pessoa daqui a pouco vai ter alguma coisa para apresentar, ela está sempre esperando alguma coisa.

Bianca: inúmeros. Como sempre falo, o teatro é infinito pra se limitar apenas em um palco, ele vai além disso, é para nossa vida. E os benefícios mais simples são: melhor comunicação, você descobre quem é você, o seu propósito de vida, o teatro confronta você a mudar, a conhecer suas limitações, passa aderir mais criatividade, mais positivo consigo mesmo e com a vida, melhora a alimentação, saúde, condicionamento físico, novas habilidades, e te torna mais humano.

Larissa: É muito importante porque esse senso estético, capacidade de leitura de uma obra de arte, de compreensão da arte precisa ser desenvolvida. Não só ‘a eu conheço história da arte’, mas você quando assiste um filme, consegue captar as mensagens do filme? Analisar o que a cor daquela cena significa? Porque arte é linguagem, existem as linguagens cinematográficas, da música, do teatro… É o mesmo que eu chegar em um país que eu não sei falar a língua, eu não vou entender. É a mesma coisa com a arte, você precisa aprender a gramatica daquilo, para você ser capaz de compreender. Então o ensino da arte é fundamental para o desenvolvimento dessa capacidade de você aprender o que você está vendo, escutando…

Quem foram/são suas maiores inspirações em sua carreira?

Alberto: minhas grandes referências no teatro, felizmente eu conheço pessoalmente. Sou muito fã de Edson Bueno, de Nena Inoue, de Rosana Stavis, de Maria Alice Vergueiros.

Bianca: Caique Oliveira (diretor da Cia Nissi) um grande mestre pra mim, referência em excelência, qualidade, entrega do artista, crescimento sem perder a humildade! Fernanda Montenegro, uma grande referência, pois ela exala paixão pelo teatro, até hoje ela ainda sobe aos palcos, e mesmo ela fazendo Tv ela nunca deixou do teatro!

Larissa: dois professores da faculdade me inspiram até hoje, tanto na questão de estudo e pesquisa, quanto de produção artística. A professora Adriana Suarez, ela é aqui de Ponta Grossa, e tem várias pinturas. E o professor Renato, que é de Curitiba e dá aula na UEPG. Ele é aquele professor que você olha e você fala ‘nossa eu quero ser igual esse cara’, e enquanto artista ele tem uma produção muito bonita, que mexe muito comigo, questão de luzes da cidade.

Ainda tem sonhos não realizados? Se quiser dividir algum…

Alberto: Hoje tenho 82 peças escritas e dirigidas por mim. É bastante coisa, entre todos os gêneros. Fiz muita comédia, e acredito que as pessoas precisam rir. Ainda tenho muita coisa pra fazer.

Bianca: Sim, muitos rsrs… como disse no começo, sou sonhadora!!! Um deles é ter minha própria escola (sem ser alugada) e ter meu próprio teatro na cidade! Outro sonho, é preparar e levantar uma equipe de professores de teatro, dança, na cidade de Ponta Grossa para eles poderem viver disso também!

 Larissa: Eu tenho alguns projetos em andamento, então ainda não estão realizados porque não estão finalizados. Possivelmente, terei um livro escrito em nome de Jesus, que foi um sonho que Deus me deu esse ano. Com relação à escola, a gente tem muitos sonhos de ser um lugar de referência na cidade, de abrir mais cursos. E na área acadêmica eu também tenho o sonho de fazer mestrado, de fazer pesquisa, porque eu gosto muito de estudar.

Serviço:

Escola: Casa das Artes

Rua Rui Barbosa, 291, Centro

Contato: (42) 98839-3114

Facebook: @casadasartesdotibagi

Instagram: @casadas_artes/
Escola: BA – Bianca Almeida Escola de Artes

Rua Dr. Paula Xavier, 925, Centro

Contato: (42) 9943-8116

Facebook: @baescoladeartes

Instagram: @ escoladeartes_biancalmeida/

 

Escola: Centro de Artes Expressão

Rua Santana, 182, Centro

Contato: (42) 99962-2800

Facebook e Instagram: @centrodeartesexpressao

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202 thoughts on “De arte tenho vivido: a percepção e fragmentos da vida de três artistas da região”
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  3. Film, genç bir senarist olan Amin’in (Shaïn Boumedine) yaz tatilini konu alıyor. Amin, tatilini geçirmek üzere Paris’ten güney sahillerindeki memleketi Sète’e döner ve barlarla plajlar arasında vaktini geçirmeye başlar. Tam da birine âşık olmuşken, ilk filmini hayata geçirmesini sağlayacak bir yapımcıyla tanışır. Kısmet, Sevgilim: İlk Şarkı, yaz mevsiminin tüm sıcaklığını üzerinde taşıyan, müzik dolu bir film. Jae Whary

  4. Joaquin bir gece zemin katta bilgisayar tamiri yaparken, duvarın arkasından gelen belli belirsiz bir sesle irkilir ve kulağını duvara dayar. Böylelikle Galereto (Echarri) liderliğindeki bir hırsız çetesinin yandaki bankayı soymak için tünel kazdıklarını anlaması uzun sürmeyecektir. Joaquin bu soygun planını boşa çıkartmak için harekete geçer. Andy Flens

  5. Sovyet döneminde geçen film, içinde korku öğeleri barındıran, gerçek yaşam kesitlerinden oluşmaktadır. Tırmanışa giden bir grup dağcı, Sibirya’daki son günlerinde tuhaf olaylar yaşamaya başlarlar. Grup lideri Olle, gizemli bir biçimde ortadan kaybolur. Grubun diğer üyeleri, yardım almak için yakınlardaki bir köye giderler. Ancak burada başlarına gelecek korkunç olaylardan haberleri yoktur. Fletcher Vanert

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