O túmulo de Corina coleciona centenas de pedidos e mensagens de agradecimento
Por Julio Cesar
No conhecido e tradicional Cemitério São José, localizado na região central da cidade de Ponta Grossa, repousam cidadãos desconhecidos e personagens icônicos da cidade. Ainda se pode encontrar uma variedade de túmulos, dos mais simples aos mais robustos.
Entre eles, há um que se destaca pela quantidade de homenagens diariamente depositadas. De flores a centenas de homenagens e cartas de agradecimentos por graças recebidas, o túmulo 1258 do Cemitério São José, acolhe os restos mortais de Corina Antonieta Pereira Portugal, mais conhecida como Corina Portugal.
Jovem Carioca
Corina nasceu no Rio de Janeiro no ano de 1869. Ainda criança, órfã da mãe, ficou aos cuidados da avó e depois, quando esta morreu, por uma tia. Aos 15 anos, Corina conheceu Alfredo Marques de Campos, farmacêutico e 11 anos mais velho que ela. Aos 16 anos se casa com Alfredo, como passavam por dificuldades financeiras na cidade de Realengo- RJ, o casal se muda para Ponta Grossa, onde o marido de Corina pretendia montar uma farmácia. Este seria o início dos dias mais amargos da jovem carioca.
Vida Curta
O marido, dependente de álcool e de jogos de azar, gastava o dinheiro com bebidas, jogos e mulheres. Na noite de 26 de abril de 1889, depois de uma discussão com a esposa, Alfredo desfere seguidas 32 facadas sobre a jovem de apenas 20 anos. A vida sofrida de Corina, rendeu um curta-metragem da Rede Globo, canções e livros como História de Sangue e Luz do advogado Josué Correa Fernandes, que narra a vida da jovem que, veio a se tornar santa popular dos Campos Gerais.
“Não é o santo que faz o milagre, é Deus quem faz milagre pela intercessão dessa pessoa”
Pe. Edvino Sicuro
Santa popular
A obra de Fernandes apresenta o sofrimento de Corina, que era relatado ao seu pai através de cartas enviadas ao Rio de Janeiro. Quando essas cartas vieram à tona, Corina passa de adúltera, com era considerada, para uma mártir e começa a receber pedidos de mulheres que sofriam as mesmas agressões que ela sofreu, assim, ganha o título de santa popular.
Para a escritora Dione Navarro, autora de dois livros dobre Corina: Súplicas e respostas e Relatos e Graças Recebidas, “a devoção começou depois que foi provada a inocência de Corina como adúltera. Quando ela foi cruelmente assassinada, seu marido Alfredo Campos para poder se ‘safar’ da cadeia, a acusou de estar lhe traindo com o Dr. Dória, e, para lavar sua honra de marido traído, ele a matou. Por anos se acreditou nessa mísera versão, até que o pai de Corina, Antônio Fernandes Pereira Portugal, veio do Rio de Janeiro mostrando as cartas que a filha lhe escrevia, lamentando de todas as agressões físicas e ameaças de morte. Corina, então, virou mártir e seu túmulo começou a ser visitado por mulheres que viviam em situação de risco como ela”.
Visão da Igreja
Ainda que Corina receba em seu túmulo diversos pedidos de seus devotos e agradecimentos por graças recebidas, para a igreja católica, ela ainda não é considerada santa.
O padre diocesano Edvino Sicuro, conta que para uma pessoa ser considerada santa, ela precisa passar por alguns processos pelo Vaticano. “A igreja, tendo em vista muitos abusos, estabeleceu normas para declarar alguém santo. Existe todo um processo que analisa a vida do candidato ao longo da sua existência e depois da morte, se alguém recebeu favores de Deus através da intercessão dessa pessoa, por exemplo, e o processo começa declarando a o possível santo servo ou serva de Deus, então, pode se estabelecer um culto público”.
Sicuro aponta ainda que é preciso comprovação científica de alguma cura pela intercessão dessa pessoa, “não é a santo que faz o milagre, é Deus quem faz milagre pela intercessão dessa pessoa, e isso tem que ser comprovado pelos médicos que declaram que não existia mais recurso na medicina e alguém foi curada, isso dá um segundo grau na canonização da santa, onde ela se torna beata”.
Depois, é necessário mais um milagre para que ela seja declarada santa. Então é um longo processo. A comissão Congregação para as Causas dos Santos, do Vaticano, analisa os documentos dos médicos, dos peritos e a partir daí é que se declara que a pessoa é beata e depois a santa.
O padre considera também que “no caso de Corina Portugal, para o ponta-grossense, é considerada uma santa pelo que ela passou na vida, quase como uma mártir, mas ninguém entrou com o processo junto à igreja e isso pode ser feito por pela diocese ou por uma congregação religiosa”.
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