Por Kelly Kuky

Nos dias de hoje há quem pense que Carambeí se resume a ser a cidade colonizada por holandeses, de belezas naturais incríveis, das deliciosas tortas, do famoso Parque Histórico e do maior museu a céu aberto do Estado. De fato todas essas informações são corretas e importantes, porém devemos lembrar que o município com seus 23 mil habitantes tem muita história para contar. Histórias que vão além da colonização pelos holandeses, histórias de pessoas que assim como eles fazem história na crescente cidade.

Dentre as muitas outras histórias que o município tem para contar existe sempre aquela que cativa a todos e sempre é bom ser relembrada. E pensando nisso e nesse momento que o mundo todo vive sua luta contra uma onda enorme de racismo e preconceito contra os negros (e mulheres) tem-se a oportunidade de mostrar a luta de uma mulher, negra, de família humilde, nascida numa cidade em crescimento que foi colonizada por “brancos”, mostrar a todos que independente da cor, condição financeira, e de todos os preconceitos é possível ser vista no mundo.

UMA HISTÓRIA PARA RECONTAR

Para mostrar um pouco dessa luta dos negros e mulheres conversei com Telma de Oliveira Waceliko, bacharel em Direito desde 2008. Para contar um pouco da sua luta, das dificuldades enfrentadas pelas mulheres e negros e como não desistiu na busca por seus sonhos.kelly Capa

Em 1983 Telma, uma mulher negra, humilde que morava na roça, vinda de uma vida de extremas dificuldades, conseguiu seu primeiro emprego como faxineira em uma grande empresa. Aluna exemplar, apaixonada pelos estudos, mas sem condições para tal, decidiu ir trabalhar para ajudar a família. Mal sabia ela que esse trabalho seria o início de sua história. Através dele conseguiu duas bolsas de estudos: com uma concluiu o ensino fundamental (primário), com a outra o ensino médio (ginásio). Após concluir o ensino médio ficou sem condições financeiras para ingressar numa faculdade e por 10 anos adiou seu sonho. Nesse período se casou, teve dois filhos e começou a trabalhar no Sindicato dos Trabalhadores de Carambeí.

Porém, no ano de 2003, aos 37 anos, ela resolveu retomar seu sonho, fez três vestibulares e conseguiu entrar para faculdade de Direito. Enfrentou grandes obstáculos nesse período, não tinha sequer dinheiro para comprar o lanche. Além disso, ajudava no sustento de sua casa e mesmo assim não desistiu. Cinco anos após realizar o sonho de se formar, Telma começou outra batalha: passar no temido Exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Durante dois anos tentou sem sucesso devido às dificuldades financeira que passava. Conseguiu finalmente passar somente em 2012 quatro anos depois de sua formatura.

Ainda em 2008 abriu um escritório de advocacia em sua casa, com foco especial nas áreas previdenciária e trabalhista. Perguntada se enfrenta preconceito por ser negra e mulher ela foi direta. “O meio jurídico tende a ser muito preconceituoso, o simples fato de ir a uma audiência na qual a outra parte é um homem, percebe-se que a mulher é inferiorizada, porém, o desempenho, conhecimento e profissionalismo estão acima de qualquer preconceito”.

Atualmente a advogada possui escritório em local de grande movimento na cidade de Carambeí, contando com mais de 400 clientes. Cursando uma pós-graduação e avó de dois netos ela diz que se sente realizada por suas conquistas e por nunca ter desistido, apesar dos inúmeros obstáculos encontrados no caminho. “A palavra perseverança, se você quiser chegar aonde deseja, tem que ter coragem e perseverança, porque sem essas duas coisas não vai conseguir. Meu sonho demorou 10 anos para ser realizado e se eu não tivesse perseverança e coragem, eu jamais teria chegado aonde cheguei”, finaliza.

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