Por: Lucas Franco

Por mais que o número de casos, internações e mortes pela Covid-19 esteja em queda no Brasil, o surgimento de uma nova variante preocupa os especialistas

Mesmo com o avanço da vacinação no Brasil e a queda dos números da pandemia, a realização do Carnaval em 2022 ainda é incerta. O principal motivo para o impasse acerca do evento é o surgimento da variante Ômicron, descoberta na África do Sul. Até o momento, o Brasil registrou pelo menos seis casos da nova cepa, registrados em São Paulo (3), Brasília (2) e Rio Grande do Sul (1).  O pouco que se sabe até agora é que a nova variante pode ser mais transmissível, mas apresenta sintomas mais leves, de acordo com análises preliminares.

São Paulo

Temendo uma nova onda de contaminações pela doença, cerca de 60 cidades do estado de São Paulo já confirmaram que vão cancelar o carnaval neste ano. Entretanto, em boa parte dessas cidades, o cancelamento das festividades refere-se apenas aos shows, desfiles e atividades que custem aos cofres do governo. Festas em clubes ou bares, por exemplo, seguem com permissão para serem realizadas, seguindo protocolos de segurança sanitária. Na capital do estado, a realização do carnaval segue sendo discutida. Algumas cidades que compõem a região metropolitana, como São Caetano do Sul, Rio Grande da Serra, São Bernardo do Campo e Ribeirão Pires, já cancelaram o evento.

Rio de Janeiro

No Rio de Janeiro, o prefeito Eduardo Paes (PSD) também já admite a possibilidade de não realizar o evento caso o quadro da pandemia volte a piorar. Mas até o momento, o carnaval do Rio segue confirmado.

Já o município de Volta Redonda, localizado na região sul do estado do Rio de Janeiro, cancelou a festividade. O anúncio foi realizado pelo prefeito Antônio Francisco Neto (PL), por meio de uma transmissão nas redes sociais. Entidades e organizações ligadas aos blocos de rua afirmaram que o cancelamento depende de uma diretriz das secretarias competentes.

Bahia e região nordeste

O prefeito de Salvador, Bruno Reis (DEM), que já cancelou as festas de fim de ano, ainda não se manifestou sobre a realização do carnaval na capital baiana. Já a cidade de Juazeiro, localizada na região norte do estado, não realizará a festa de carnaval em 2022. Os municípios de Vera Cruz, Lauro de Freitas e Salinas das Margaridas também cancelaram a folia.

O governador da Bahia, Rui Costa (PT), embora ainda não tenha falado diretamente sobre um possível cancelamento das festividades de carnaval no estado, afirmou que não colocará a população em risco.

O Comitê Cientifico do Nordeste, entidade que trata dos números da pandemia nos nove estados da região, recomenda a não realização do carnaval e também das festas de fim de ano. O posicionamento veio por meio de uma nota técnica divulgada nessa sexta-feira (03).

Paraná

As escolas de samba de Curitiba trabalham com duas possibilidades, de acordo com a Fundação de Cultura. As festividades podem ser realizadas presencialmente, como em 2020, ou de forma remota, como em 2021. De acordo com a prefeitura da capital, o formato do evento será definido em uma data mais próxima da semana do carnaval.

Na região litorânea, Paranaguá e Antonina, já anunciaram o cancelamento do carnaval. Os municípios de Pontal do Paraná e Morretes ainda não definiram que medida será tomada. Em Matinhos e Guaratuba, as autoridades optaram por manter a realização da festa.

O Comitê de Enfrentamento ao Novo Coronavírus de Foz do Iguaçu optou por cancelar o carnaval oficialmente na cidade, após reunião realizada nesta quarta-feira (1º). As prefeituras de Ponta Grossa, Londrina e Maringá ainda não têm uma definição.

Assunto divide opiniões

O cancelamento do carnaval não é uma unanimidade entre a população. Embora a maioria entenda que o risco existe, não há um consenso a respeito do assunto. Para Thais Martins Pires, estudante de ciências biológicas da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), a festividade não deveria acontecer. “A aglomeração que ocorre nessa festividade é um problema, além de ser uma falta de respeito com as vidas perdidas ao longo desse tempo. Não há motivos para comemorar. Sem contar que a pandemia ainda não acabou”, conta.

Já de acordo com Igor Vieira Martins, que também é estudante, a realização do carnaval é importante por ser um grande símbolo do retorno à normalidade. “Trata-se da valorização da nossa própria cultura, da nossa tradição. Com a realização das festas, as pessoas se preparam e a economia circula”, diz.

Com relação ao possível aumento dos números da pandemia, Igor fala que as medidas de restrição impostas pelos governos já não são as mesmas. Portanto, cancelar as festas de carnaval agora seria, segundo ele, incoerente. “O povo tem ido para as igrejas, bares, shoppings e jogos de futebol aos fins de semana já tem um bom tempo. Por isso eu não vejo sentido para não haver carnaval”, pontua.

Especialistas pedem cautela

De acordo com Adriana Rute Cordeiro, professora de Ciências Biológicas com doutorado em Bioquímica, o novo coronavírus pode sofrer mutações facilmente, caso continue circulando. Isso poderia comprometer a eficácia da cobertura vacinal no mundo todo. “Esse vírus é altamente mutagênico. Acredito que precisamos olhar para isso com mais cuidado, nos perguntando se realmente a folia vale toda essa exposição. A Ômicron foi designada como a variante mais preocupante. Embora estejamos mais preparados do que antes, não podemos baixar a guarda”, expõe.

Adriana ainda chama a atenção para a necessidade de mantermos as medidas de prevenção. “Já estamos com cerca de 78% das pessoas imunizadas com ao menos uma dose (…) mas é um momento de incertezas. Devemos manter o uso das máscaras, álcool em gel e principalmente evitar aglomerações. É melhor prevenir do que remediar”, finaliza.

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