Artistas se reinventam para manter as atividades culturais.

Por: Maryellen Ferreira Nogaretti

Muitos setores foram atingidos com a chegada da pandemia do novo coronavírus e com o setor cultural não foi diferente. Com a necessidade do isolamento social muitos estabelecimentos como teatros, cinemas, bares e casas de espetáculos tiveram que fechar as portas.

Os artistas sofreram muito com a mudança de cenário. Em entrevista o ator e professor de teatro, Kaio Gomes Bergamin fala um pouco sobre os impactos causados pela pandemia.

“Eu acho que um dos maiores impactos provocados pela pandemia, falando artisticamente, é a própria questão do impedimento do contato, o que é muito importante. A gente entende a importância desse isolamento existir, mas o impacto de você não poder trocar com o outro em um ensaio, uma aula de teatro… A gente trabalha o contato, a proximidade porque trabalha esse caráter humano. A própria apresentação que é esse grande encontro com o público, essa troca que a arte nos provoca, não pode acontecer presencialmente”.

A quarentena também afetou os ensaios e aulas de teatro. Kaio fala sobre essa mudança de cenário e a readaptação das aulas.

“Como professor, dentro desse cenário atual, o processo de readaptação está acontecendo aos poucos, à medida que a gente tem um novo aplicativo que melhore o desempenho das aulas em questão de transmissão, uma nova atualização que a gente pode estar baixando para aperfeiçoar. Então, cada dia é uma coisa nova, uma nova descoberta!”.

O professor conclui contando um pouco de como estão funcionando as aulas e as dificuldades que vem enfrentando.

“A maioria dos meus alunos já me acompanha há algum tempo e mesmo os que estão há pouco tempo, já entendem um pouco da minha metodologia. Então, muita coisa eu consigo fazer guiando, eu vou explicando, vou pedindo um exercício, vou pedindo um alongamento e eles conseguem fazer, e quando é necessário eu mostro. Então, está muito nesse lugar, um pouco descritivo, um pouco exemplificado por mim mesmo. A gente vai transitando nesse momento dessa maneira. Tenho duas dificuldades: a própria questão da conexão com a internet que às vezes tem um momento de delay, tem momento que cai a conexão; E a própria motivação, entender que não é para sempre. A própria motivação, tanto dos alunos quanto dos próprios professores, e eu me incluo nisso. Acho que são essas duas questões que dificultam um pouco o andamento”.

Devido ao isolamento social e o cancelamento dos eventos culturais, artistas de todo o mundo se reinventam para manter as apresentações através de transmissões ao vivo, muitas dessas apresentações via lives, que servem para que esses profissionais continuem mantendo seu sustento. Mas, muitas pessoas desconhecem esse trabalho. Kaio opina sobre a questão da visibilidade do setor cultural durante a pandemia.

“Eu fico um pouco triste de saber que tem pessoas que defendem que o artista tem que apresentar de graça através de lives, até porque é o nosso trabalho, nosso ganha pão! A gente estuda tanto quanto qualquer outra profissão para fazer nosso trabalho e a arte vai muito mais do que o entretenimento, tem toda uma questão de propor uma reflexão, a comunicação, gerar conversas. Eu acho que se a opção do artista é fazer uma live de graça, ele testá dentro do direito dele, mas não como uma imposição, até porque a maioria das pessoas não entende que dentro de uma montagem de teatro existem não somente os atores que devem ser pagos. Há a direção, existe o dramaturgo, o maquiador, o cenógrafo, o figurinista, o programador visual, os atores mesmo, a contraregragem e o próprio material para montagem do espetáculo. Existe todo um universo que é abraçado pela apresentação e a maioria das pessoas acabam desconhecendo isso”.

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