Com aulas remotas desde abril, alunos cumprem atividades em casa e assistem aulas pela TV
Por Lucas Franco
Com as atividades escolares suspensas por tempo indeterminado desde o início do ano, um retorno seguro para as aulas vem sendo cogitado pelo poder público. A princípio, as autoridades trabalhavam com a hipótese de antecipar as férias escolares. Entretanto, nos primeiros meses de isolamento, uma nova realidade foi se concretizando: a do ensino à distância ao longo de todo o ano.
No estado do Paraná, mais de um milhão de estudantes da rede pública de ensino assistem as aulas de matemática, ciências e língua portuguesa por canais de televisão da rede aberta, pelo Youtube e pelo aplicativo “Aula Paraná”. A plataforma reúne os conteúdos, além de disponibilizar um espaço para bate-papo entre alunos e professores.
Segundo Ana Cristina Weiber, professora de História da rede estadual de ensino do Paraná, uma das dificuldades encontradas na educação à distância está na adaptação de alguns professores com as novas tecnologias. “Muitos já são pessoas de mais idade, que não tinham o hábito com computador, internet e aplicativos. Nem todos os professores possuem uma boa conexão de internet, um computador legal para abrir vários arquivos e salvar documentos. (…) O governo proporcionou um acesso para a gente, mas não é nada rápido”, afirma a professora. Ana Cristina explica que, em muitos casos, escolas pequenas, com pouca estrutura e em áreas periféricas atendem pessoas de baixa renda. “Algumas famílias vão buscar cesta básica por falta de alimentação em casa. Como vamos exigir que esse aluno faça as provas e atividades sem comida?”, lamenta.
De acordo com Telma Martins, professora do ensino fundamental, o problema maior está na elaboração dos conteúdos ministrados. “Eu venho buscando meios de montar aulas de forma que os alunos sigam na ativa, mesmo fora da escola. Uma das dificuldades que eu vejo é propor atividades que deixem nítido o entendimento que eles tiveram. As informações devem ser muito claras para que eles consigam interpretar”, aponta. Telma leciona na rede pública e no ensino privado. Segundo ela, muitas são as diferenças entre os perfis dos alunos. “Na escola particular os alunos participam mais, embora estejam cansados dessa rotina, sem socialização, interação, sem o contato com os professores. (…) Faz muita falta. Quanto à escola pública, eu sinto bastante falta da presença familiar. A maioria das crianças ainda não é alfabetizada. (…) Eles acabam entregando atividades fora do prazo, mais ‘largados’. A criança não vai ter responsabilidade em entregar, a falta de estrutura familiar compromete”, diz.
Desde o mês de abril, os alunos da rede municipal de ensino de Ponta Grossa contam com aulas pela televisão. O conteúdo é ministrado de segunda a sexta-feira pela TVE, às 9h, às 14h e às 15h30. As aulas também são disponibilizadas nas redes sociais da própria emissora e da Secretaria Municipal de Educação.
Para o jornalista Marcelo Franco, diretor-executivo da TV, mesmo que as aulas não substituam o calendário acadêmico, a iniciativa é essencial nesse momento. “As crianças não poderiam perder o contato com a escola durante o isolamento. Com o avanço da pandemia e a dificuldade no retorno do ensino presencial, foi preciso que as tele aulas fossem preparadas atendendo as diferentes faixas etárias dos alunos. Dessa forma, está sendo possível evitar com que as crianças percam o ano letivo”, afirma.