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Falta de conhecimento sobre o assunto dificulta acesso das universidades a cadáveres para ensino

Por Willian Koziel, Emanuel Robassa, Raíssa Galvão e Bianca Almeida

Vários cursos na área da saúde necessitam de corpos para formar profissionais. Segundo muitos médicos, a doação de corpos pós-óbito ajuda a expandir o conhecimento sobre o corpo humano.

Contudo, no Brasil, por conta de burocracia e falta de conhecimento das pessoas, há muitos cirurgiões que se formam operando diretamente pacientes vivos, sem obterem qualquer contato com cadáveres, que seria o ideal para a sua formação.

Universidades e instituições de ensino recebem os corpos, após um processo específico de cada instituição, que a sua maneira emite os termos adequados para que não haja problemas futuros como processos de familiares arrependidos, por exemplo.

Dialogar com a família sobre o assunto é um dos passos mais importantes, já que após a decisão ser tomada, mesmo que pelo sujeito em vida, quem dá fim ao processo pós-óbito são os familiares. Ressaltando que para decidir doar o próprio corpo para fins científicos é necessário ter 18 anos ou mais.

No caso de cadáveres de bebês ou crianças, os responsáveis devem assinar e autorizar toda a documentação imposta. Não há restrições com doenças, estado ou motivo de óbito. A única pendência são corpos relacionados com investigações policiais.

Completamente distinto da doação de órgãos, a doação de corpos não é muito conhecida no Brasil. Anatomistas brigam para propagar o ato relevante para a formação de profissionais da saúde.

Na história dos estudos da anatomia humana, foram séculos dependendo de corpos de andarilhos, criminosos, moradores de rua e indigentes. Hoje em dia a prática com esse tipo de cadáver é extremamente rara, porque corpos nessa condição são sepultados com custos pagos pelo estado. Isso tornou o mercado de sepultamento de indigentes vantajoso para funerárias.

A preparação depois da doação

Há corpos em diversas condições, todos passam por um processo para ser realizado o estudo. Produtos químicos como o formol são utilizados para a conservação do cadáver, que não apresenta apodrecimento ou mau cheiro após a manipulação. A liberação do corpo durante o processo de conservação pode levar de três a seis meses. Já a duração do cadáver para estudo varia muito podendo ultrapassar uma década.

Os corpos doados são velados ou passam por rituais familiares costumeiramente. Após as despedidas dos entes, as instituições coletoras guiam a logística do corpo. O Paraná é um dos estados avançados nas politicas de doações de corpos e possui acordos que simplificam o transporte do cadáver.

Carla Miglorini, de Ponta Grossa, doou o corpo do pai, Luiz Darci Miglorini, no ano de 2013, para a Universidade Federal do Paraná (UFPR). Esse foi o primeiro caso na cidade de doação voluntária. “Transformou um momento de dor em algo positivo, o ato de doação foi uma forma de homenageá-lo. Ao contrário do que imaginávamos, todos apoiaram e isso foi uma surpresa, além de tudo acharam a atitude linda”, conta.

Luiz Darci morreu de problemas relacionados à doença de Huntington, que é rara e causada pelo processo de degeneração do sistema nervoso central. A decisão de Carla e da família foi para fins estudantis, ajudar a ciência a desvendar uma cura para essa doença que é severa e pode vir a afetar ela e as irmãs, já que se trata de um problema hereditário. A ideia de doar o corpo do pai foi da irmã de Carla, que cursava medicina na época.

Segundo Carla, o maior problema foi o despreparo dos cartórios da cidade, que não continham qualquer documento sobre doação de corpos, logo o processo se tornou caótico e foi preciso ajuda do diretor do IML de Ponta Grossa para que o corpo permanecesse armazenado até que a documentação fosse finalizada.

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Maria Carla Miglorini conta como a família decidiu pela doação do corpo de Luiz Darci Miglorini.

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