Por: Bárbara Vaz*
Escritor, cartunista, empresário e criador da turma da Mônica, Maurício de Sousa topou ter uma conversa sobre a “Turminha do Limoeiro” e outros personagens que há anos fazem a alegria dos brasileiros. Ele deu alguns detalhes e opiniões sobre o impacto de suas histórias na vida das várias gerações de leitores. Atualmente a empresa de Maurício trabalha para inúmeros públicos, aproveitando da segmentação de mercado que foi construída ao longo dos anos de suas publicações. Confira abaixo como foi a entrevista:
Nova Pauta – NP: Onde surgiu a ideia de fazer gibis para crianças?E qual é a maior fonte de inspiração para continuarem criando histórias até hoje?
Maurício de Souza – MS: Quando comecei a publicar minhas tiras na Folha de São Paulo apenas pensei em ter uma turminha que mostrasse minhas histórias de infância.Como é um jornal para adultos eu imaginava que era para estes leitores também lembrarem de suas histórias de infância. Mas houve um fenômeno porque as tirinhas e depois o suplemento Folhinha ganharam um grande público infantil. Ao perceber isso fui cada vez mais me dirigindo a esse público que mostrava seu carinho com nossa turminha por milhões de cartas recebidas na época. Mas hoje, essas crianças da época já são até avós. E ficam felizes quando observam que seus netos gostam das mesmas historinhas que adoravam na infância.
NP: 2-Psicólogos e educadores dizem que não há dúvidas de que os gibis ajudam no processo de alfabetização e desenvolvimento da leitura. Como vocês trabalham esta questão dentro da editora? As obras são feitas com este intuito?
MS: Esta é minha medalha no peito. Quando vou a encontros e eventos sempre peço para a plateia que quem aprendeu a ler com nossos gibis levantem as mãos. Sempre todos levantam. Foi algo natural e aconteceu comigo também. Minha mãe teve que me alfabetizar aos quatro anos de idade para eu mesmo ler meus gibis que me maravilhavam com seus desenhos e forma de comunicação. Então somos uma espécie de estímulo à leitura e alfabetização de milhões de crianças por estes mais de 60 anos de publicações.
NP: A questão do jeito de falar do Chico Bento já sofreu críticas de educadores? Se sim, como vocês tratam a questão?
MS: Houve no passado um movimento de educadores sobre as falas “modo caipira” do Chico Bento. Mas ao mesmo tempo as crianças, leitores da Turma da Mônica, se mobilizaram em campanha para defender o personagem. Isto foi no passado. Hoje os educadores entenderam que o modo de comunicação de grande parte dos brasileiros que moram no interior é até uma forma de mostrar as diferenças de falas em um país de grandes dimensões. Assim, o modo de falar do nordestino ou dos brasileiros do sul também são variações regionais que criam sobre o português clássico. Conhecer estas diferenças é que faz entender o que é o Brasil e como temos culturas regionais ricas. Em nossas revistas os leitores percebem estas diferenças e por isso entendem que são variações regionais da língua portuguesa.
NP – Com crianças cada vez mais tecnológicas, mais ligadas ao mundo virtual, como atrair a atenção delas para os quadrinhos, essa tecnologia tão analógica?
MS: Sabemos que o que a criança procura é o melhor conteúdo. Não importa a plataforma de comunicação. Tanto é que nossas revistas e livros impressos têm ótimas tiragens nestes 63 anos de Mauricio de Sousa Produções. Mas estamos com nossos personagens em toda nova plataforma que surge a cada momento na evolução da comunicação.
NP: Vocês já tiveram que adaptar histórias reais para os quadrinhos? Podem destacar três que foram bastante desafiadoras?
MS: Nossa turminha não tem histórias exatamente reais. Sempre há uma criação para ter adaptação ao humor e criatividade que nossos leitores adoram. Mas grande parte dos personagens principais são inspirados em pessoas reais. A Mônica, Magali e Maria Cebolinha são minhas filhas. O Cebolinha e Cascão são amiguinhos de infância assim como o Bidu que no original era meu cãozinho chamado Cuíca. Mas temos histórias que precisam ter material baseado em informações reais que são os personagens com alguma deficiência que criamos. A Dorinha, menina cega, foi baseada e pesquisada com Dorina Nowill, grande batalhadora pela inclusão das pessoas cegas na sociedade e criadora da fundação Dorina Nowill. O Luca, cadeirante, foi criado com pesquisas e informações de cadeirantes e especialistas no atendimento a essas pessoas. A Tati, com Síndrome de Down, foi inspirada na hoje atriz Tathi Piancastelli e informações de médicos na área. O André, autista, foi de pesquisa e informações de especialistas para podermos representar de forma correta o personagem. Esses são bem reais e ajudam na inclusão e entendimento de suas necessidades na sociedade.
NP: No Papa Capim, como tem sido feito o trabalho de construção das histórias para que ele não seja estereotipado enquanto representante indígena na franquia?
MS: A turminha do Papa Capim sempre foi base de estudo nosso para não estereotipar o indígena brasileiro. Por isso, eu próprio, viajei para a Amazônia para pesquisar como é essa vivência. Posso dizer que a cada momento estamos observando não só o modo de vida do indígena mas como ele se relaciona com a natureza. Assim pretendemos passar para os leitores, em geral, que esse modo de vida é o mais natural e dentro do equilíbrio entre o ser humano na ecologia e trato com a natureza.
NP: Como tem sido a recepção em relação ao faturamento e aceitação da Turma da Mônica Jovem? Foi uma ideia acertada?
MS: A turma da Mônica Jovem veio pela constatação de que a infância vem diminuindo. Muitas crianças de 12, 13 anos já achavam que a nossa turminha clássica era coisa só de criança e eles já se sentem mais maduros. O mangá, vindo do Japão, começou a ganhar muito público nesta faixa etária. Percebemos isso e começamos em 2008 a editar a Turma da Mônica Jovem para este novo público que crescia. Assim nossa turma ficou com 15 anos em média e ao estilo “mangá” do que chamo de “mangá caboclo”. Foi e é um sucesso. Logo de início vendemos mais de 500 mil exemplares, o que bateu recorde internacional no mercado de quadrinhos ocidentais. Para se ter uma ideia, o recorde nos EUA era o Homem Aranha que chegou a vender 300 mil exemplares.
*Concluinte do Ensino Médio, especial para o Nova Pauta