Projetos sociais promovem esporte e cidadania em PG

União PG e FutCeu treinavam mais de 600 crianças e jovens antes da pandemia

Por Dani Ribeiro

A prática da educação física e do esporte é um direito fundamental de todos. A frase é da Carta Internacional da Educação Física e do Esporte, da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO). No Brasil, a Constituição Federal, no Artigo 217, ressalta o dever do fomento, nesse caso por parte do poder público, à práticas esportivas. No entanto, não é difícil perceber que grande parte da população não tem acesso ao esporte – além daquele que assiste na TV -, e o ‘esporte lazer’ é um privilégio para quem tem dinheiro. É aí, na deficiência de políticas públicas e condições financeiras, que entram os projetos sociais, como por exemplo, o FutCeu e o União PG, que juntos, atendem gratuitamente mais de 600 crianças e jovens ponta-grossenses, promovendo o esporte e a transformação.

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Os dois projetos citados acima, estão com as atividades suspensas devido às medidas restritivas impostas na prevenção contra o novo coronavírus. O União PG, que neste ano colocou uma equipe na disputa do Campeonato de Futebol Amador de Ponta Grossa, garante a preparação física dos atletas desse elenco com treinos de ‘crossfoot’, modalidade esportiva que mescla futebol e treinamento funcional, mas com pouco contato físico, e que está liberada no município.

Mesmo sem treinos e partidas, os projetos mantêm o contato com as famílias e com os participantes, todos na expectativa do retorno das atividades. No país do futebol, muitas crianças sonham em ser atletas profissionais, seja pela fama ou pela chance de ascensão econômica. Nesse caminho, para os mais pobres, poder participar de uma escolinha já é uma grande oportunidade, e os ganhos para eles e para a sociedade vão além do treinamento físico.

Educação

O FutCeu, que atende64 meninos e três meninas, na comunidade da Vila Coronel Cláudio, foi uma ideia do Ivan dos Santos, que há 15 anos trabalha como instrutor em projetos sociais. Ele não tem formação acadêmica, mas sempre teve muita vontade de fazer algo para mudar a realidade do lugar onde mora, a começar por aqueles que são o futuro.

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“Gosto muito de incentivar a garotada no futebol tentando fazer com que eles não caiam nas coisas erradas que a vida oferece por aí. Sempre cobrando em primeiro lugar na vida deles o estudo acima de tudo e também tendo disciplina familiar”, explica Ivan, que se alegra em contar que alguns dos alunos, através do futsal e futebol, já ganharam bolsas para estudar em boas escolas particulares.

A educação também é um dos pilares do projeto União PG, criado em 2018 pela Cléo Nascimento e a mãe dela, Maria Jacira Nascimento, que sentiam a necessidade de um projeto de inclusão social na região onde moravam. No projeto, que nasceu na vila Dalabona, com 32 meninos, e hoje tem polos de treinos na 31 de Março, Maria Otília e Jardim Carvalho, e soma 572 participantes – inclusive algumas meninas, não basta jogar bem em quadra, é preciso ser craque nos estudos, e a frequência escolar da turma é acompanhada de perto.

Valores

Os benefícios que a prática de um esporte fornece ao ser humano são muitos. De acordo com o Ministério da Saúde, na infância e juventude, a prática moderada e regular de atividades pode “afastar o risco de obesidade precoce, evitar problemas de saúde, aumentar a socialização, desenvolver melhor a personalidade e até favorecer a descoberta de aptidões e talentos”.

Com suas regras, disciplinas e necessidade de relações interpessoais, como acontece no caso do futebol, valores também são aprendidos. “A inclusão social através do esporte, pode trazer novas e boas experiências às crianças e adolescentes oriundos da pobreza, tráfico, violência. Eles são inseridos na sociedade. Além disso prezamos por valores que passamos dentro do Projeto:  respeito, tolerância, humildade, responsabilidade. Sabemos que poucos sairão profissionais, mas muitos sairão cidadãos”, comenta Cleo Nascimento.

Os treinos também fortalecem os vínculos comunitários e familiares, é o que relata a Cidneia do Rocio, que tem dois filhos no União PG, o João Vitor, de 14 anos, e o Carlos Henrique, de 15 anos. Segundo a mãe, a transformação nos meninosfoi visível. “Eu vi bastante mudança, porque na verdade eles gostavam muito de andar pra rua, e depois que eles começaram a treinar eles param mais na casa. Até em comportamento de obediência, eles me obedecem mais”, relata Cidneia.

Já a Ana Claudia Pacheco, que também tem dois filhos no projeto, o Deylan Lucas, de 16 anos, e o Cauã Wyllian, de 13 anos, percebeu que após serem iniciados aos treinos, os meninos se tornaram mais responsáveis. “A dedicação foi bem forte, e isso já me deixo orgulhosa. Sem ter preguiça de participar de nada, levantam cedo, eles se dedicam e tem compromisso com isso”, relata a mãe coruja.

Obstáculos

Para que os projetos mantenham sua atuação a maior dificuldade é financeira. Sem um mantenedor, as conquistas de estrutura e uniformes são possíveis graças às família, doações, e ações como bazares, rifas e almoços beneficentes. “Tudo o que temos foi através de doação ou através dessas ações que conseguimos”, comenta Cleo, que com a colaboração da comunidade, já conseguiu até reformar a casa de um dos meninos atendidos.

Muitas das crianças precisam de ajuda até com as chuteiras, que os pais não têm condições de comprar. “São todos garotos carentes, quando começa às competições de futsal eles precisam muito de tênis apropriado. Mais um projeto social precisa de vários materiais esportivos para treino. O nosso projeto é carente, eu corro atrás e consigo com os amigos, peço patrocínio”, conta Ivan.

As pessoas que trabalham nos projetos atuam de forma voluntária, e precisam se desdobrar para conseguir acompanhar todos os treinos. Mas mesmo com muita força de vontade nem sempre é possível ajudar a todos. O União PG, por exemplo, em dois anos, abraçou três regiões da cidade, mas a fila era tão grande, que foram adotadas peneiras para decidir pelas vagas.“Nós queríamos ter mais ajuda para tirar mais crianças da rua, para desenvolver mais esse projeto. Nosso foco é tirar a criançada da rua e dar um sonho para eles. Tenho muito orgulho de estar nesse projeto”, conta um dos treinadores do União PG, Anderson Clayton de Camargo.

Agora, resta esperar pelos desdobramentos da pandemia para saber quando os atletas-mirins vão poder voltar a treinar e correr pelos seus sonhos.

Serviço:

Cleo Nascimento (42) 9862-8362

Ivan dos Santos (42) 9906-5844

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