Escritora Aparecida de Jesus Ferreira avalia efeitos da desigualdade de gênero na literatura; apesar dos obstáculos, autoras da região vêm conquistando espaço com suas produções
Por Matheus Pitela e Gabriel Ipólito
A literatura também é um espaço marcado pelo machismo. Por muito tempo a falta de visibilidade tem sido um grande obstáculo para as mulheres nessa área. As editoras, a imprensa especializada e também o público por muitas vezes não enxergam o trabalho das escritoras da mesma forma que o dos escritores. Em virtude disso, muitas delas acabam por não receber o reconhecimento compatível com suas obras.
“A desigualdade de gênero afeta a atuação da mulher na literatura de muitas formas. Entre elas está o fato de não termos mulheres (negras, brancas e indígenas) representadas na literatura ocupando espaços de poder nos livros que são escritos, nas associações que tem a responsabilidade de divulgação de livros e nas grandes editoras”, é o que afirma a escritora Aparecida de Jesus Ferreira, professora e pesquisadora do curso de Letras da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), pós-doutora pela University of London.
Além da desigualdade de gênero, a questão racial também tem efeitos na participação das mulheres na literatura. Assim como em outras artes, o silenciamento e a falta de representatividade da mulher negra também são problemas encontrados nessa área. Em seu livro “As Bonecas Negras de Lara”, lançado em 2017, Aparecida traz crianças que abordam sobre suas experiências com bonecas negras. “Quando publiquei o livro ‘As Bonecas Negras de Lara’, as pessoas que tiveram contato com o livro, tanto professoras, mães, pais e responsáveis pelas crianças, me disseram que não conseguem encontrar um grande número de livros em que a menina negra seja a protagonista”, explica.
Apesar do cenário desfavorável, Aparecida tem notado um crescimento da representação feminina na literatura, com escritoras que tratam de temas importantes para o empoderamento das mulheres. “A atuação das escritoras está empoderando mulheres negras, brancas e indígenas para que mostrem, publiquem seus livros e participem de eventos que possam estar representando as mulheres na literatura, seja ela local, nacional ou internacional”, conta.
Outras autoras ponta-grossenses
Para superar esse problema da desigualdade de gênero na literatura, é importante que o público valorize as obras produzidas também localmente por mulheres. Para incentivar essa valorização, aqui vão algumas indicações de escritoras princesinas e suas obras:
Renata Regis Florisbelo, autora de ‘Haicai Devoniano – Poética Atemporal’ (2017), ‘Sempiterna’ (2016) e ‘Filosofia Natural’ (2015)
Gislene Carvalho, autora de ‘Rastros’ (2017)
Lucia do Valle, autora de ‘Entre o Caos e o Bom-Humor’ (2016) e ‘Contos da Primeira Guerra Mundial’ (2016)
Ana Rezende, autora de ‘Relato de Nós Dois’ (2014).