Redução de renda e incertezas no retorno são citados por profissionais do setor, um dos mais atingidos no período

 Por Gabriel Hipólito

A área dos esportes foi uma das primeiras a paralisar as atividades com o início das medidas de combate à pandemia do coronavírus no Brasil, ainda em março. O alto nível de contato físico e compartilhamento de espaços nas práticas esportivas fizeram com que os atletas de diferentes níveis e modalidades tivessem que interromper as atividades.

Diferente de outros setores da economia considerados essenciais, os esportes levaram mais tempo para retornar na maior parte do país. O futebol profissional, com seu poder econômico e midiático e estrutura para testes, começou a ser liberado no início de junho, mesmo que cercado de controvérsias. Esse não foi o caso das demais modalidades e das pessoas que vivem do esporte, como personal trainers, treinadores, produtores de eventos esportivos e vários outros profissionais e empresários da área, além dos próprios praticantes.

Paralisação afetou a renda

Em Ponta Grossa, um desses profissionais é o personal trainer Emerson Ferreira. Ele conta que chegou a ficar 46 dias sem trabalhar na pandemia, o que fez sua renda diminuir no período. “Muitos alunos também sofreram com uma redução na renda e cancelaram consultorias, personais ou avaliações físicas”, conta Emerson, que também viu a procura por seu trabalho diminuir. “Com os espaços fechados, muitas pessoas perderam interesse no serviço dos profissionais”, relata.

A agenda das corridas de rua, uma das modalidades mais praticadas no país, também precisou ser interrompida em 2020. A medida trouxe dificuldades para empresas do setor, como conta Kléber Cavalli, que é dono de uma empresa de eventos esportivos. “Tínhamos 16 eventos previstos para 2020. Logo que percebemos que poderiam ser cancelados, acompanhamos mais de perto as notícias. Naquele momento, era importante entender o que realmente estava acontecendo para tomar decisões”, explica o empresário.

A paralisação não chegou a comprometer a situação financeira da família, que tem outras fontes de renda, mas atrasou o planejamento da empresa. “Tivemos que refazer ou adiar alguns planos. Principalmente os planos de expansão que havíamos traçado para esse ano”, conta Cavalli, que também é funcionário público federal. Seu filho, que é sócio da empresa, tem uma loja de artigos de aventura, que está reagindo após passar por uma retração no mercado.

Na opinião de Kleber, o poder público deveria tomar iniciativas para reduzir o prejuízo no setor. “O setor de eventos, seja ele de música, comida, ou esportes, foi o mais atingido nessa pandemia. Muitas empresas já se encontram fechadas, sem perspectiva de reabertura, porque estão à beira de falência, sem conseguir pagar suas contas”, diz o empresário, que acredita que o poder público deveria olhar com mais cuidado para esse setor que gera renda, emprego e impostos.

Retorno tem adaptações e insegurança

Emerson trabalha em uma academia no Shopping Palladium, que voltou às atividades no fim de abril. Ele comenta sobre como a pandemia fez a rotina de trabalho mudar. “Eu sinto que esse é o novo normal. São medidas que necessitam de adaptação nos treinos, pois a máscara tende a baixar a capacidade aeróbica do aluno. Em alguns horários, você tende a evitar exercícios que possuam muitos alunos em volta”, descreve o preparador, que também destaca a mudança de rotina dentro da academia, com a triagem completa antes de entrar e a higienização dos equipamentos.

A empresa de Cavalli ainda planeja eventos para esse ano, com as alterações e medidas sanitárias necessárias. “Estamos replanejando eventos e esperando o momento para lançá-los. Mas se faz absolutamente necessário aguardar e colocar para o público um evento com toda a segurança necessária”, ressalta Cavalli. Ele acredita que o retorno vem com dificuldades como eventos mais enxuto e sobrecarga nos organizadores. “Cremos que irão retornar ao ritmo normal só no ano que vem. Quando todos entenderem esse vírus, como se previne e uma possível vacina e cuidados que serão comuns”, opina.

Apesar de ter voltado ao trabalho há meses, Emerson ainda não se sente totalmente seguro. O fluxo de pessoas no lugar onde trabalha causa receio no preparador, devido à maior facilidade de propagação do vírus em lugares mais movimentados. “No começo da pandemia eu estava muito preocupado. As pessoas não seguiam tanto as restrições e o uso de máscara. Hoje você vê um respeito e um cuidado maior, mas o medo sempre fica”, afirma.

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