Artista ponta-grossense, Ricardo Wideski, faz retratos com caneta esferográfica
Por Elisângela Schmidt
Quem vê o glamour das galerias de arte, não imagina o desafio que está por trás de cada obra. O artista ponta-grossense, Ricardo Widelski, de 43 anos, é um exemplo disso. Tímido e modesto, conta que passou a acreditar no seu trabalho como artista, após quarenta anos, quando descobriu seu talento com a caneta esferográfica.
Daqueles talentos escondidos em Ponta Grossa, Ricardo desenha desde os três anos de idade, mas pensou em abandonar a arte várias vezes.
Ainda na infância, teve que se mudar para Curitiba, por conta do divórcio dos pais, foi ajudante de pedreiro na adolescência e servente de obras. Mas, como bom ponta-grossense, em 2001 estava de volta, e foi aqui que encontrou a profissão que se dedica até os dias atuais, a pintura de paredes. Durante este período continuava desenhando, mas estava frustrado. Sem ver resultados imediatos na sua arte, Widelski pensou em desistir. “[…] Frustrado em ver o trabalho dos outros e não conseguir obter o mesmo resultado. O que na verdade é um grande erro. O negócio é você se descobrir por si mesmo, independente do que faça, sem tentar ser igual a ninguém, talvez por isso que coisas vêm acontecendo comigo através da minha arte.”
“ser diferente e
acreditar
é o segredo.”
E foi em 2017 que passou a acreditar que a arte poderia trilhar um novo caminho em sua vida. “Foi num momento em que eu estava pensando e desistir, novamente, como já tinha feito várias vezes. Fazia vários desenhos a lápis, mas não encontrava aquela realização, foi então que peguei uma caneta e comecei a rabiscar”, contou Wideslki.
Will Smith. Técnica: caneta esferográfica azul]
Após uma vida inteira desenhando com lápis, foi com a caneta que ele encontrou seu lugar. Mesmo sem nunca ter visto outros artistas realizando aquele trabalho, os rabiscos começaram a ter vida, e Ricardo passou a procurar referências e praticar. “Depois do primeiro desenho, eu fui pesquisar sobre, e descobri que existem artistas pelo mundo todo usando essa técnica. Foi então que procurei absorver informações pra tentar evoluir, mas sem tentar ser igual a nem um deles para não acontecer aquela mesma frustração de quando desenhava a lápis”, explicou.
Com orgulho, ele relembra seu primeiro desenho, que também é seu preferido e está fora de seu catálogo de venda. “Costumo dizer que ele não tem preço”, falou Widelski.
Retrato do cantor Michael Jackson com a caneta que usou para fazer o desenho. Técnica: caneta esferográfica azul.
Foi com o apoio de sua família e de alguns artistas da cidade que Widelski ganhou espaço e visibilidade para seu trabalho. Uma das pessoas que o incentivou, foi a artista e chefe da divisão de artes plásticas, da Fundação Municipal de Cultura, Mariângela Digiovanni. “Ricardo Wideslki é mais um presente raro que Ponta Grossa nos oferece. Quem não se encanta com o realismo de suas figuras humanas, construídas com a caneta esferográfica? Seus temas sociais despertam uma plenitude pura no espectador. Mas ele nos mostra também, figuras conhecidas, com grande domínio técnico”, falou com orgulho Digiovanni.
Em 2018, Widelski teve sua primeira exposição, ‘Faces do Azul’, na Estação Arte, galeria de artes da cidade. “Expor algo que eu fazia, até então, para ficar guardado numa pasta, foi mágico! Da noite para o dia pessoas te parabenizando pelo seu trabalho. Não tem preço. Abrir a Estação Arte, em um sábado, porque pessoas queriam conhecer meu trabalho, foi maravilhoso”, disse.
Exposição Faces do Azul]
Na ocasião, o artista teve oportunidade de vender suas obras e, desde então, comercializou mais 100 trabalhos, com valores que já chagaram a mil reais. Em 2019, foi convidado para expor no Premium Vila Velha Hotel, e em novembro iniciou a exposição ‘Reproduções’. Widelski contou que o nome da exposição foi um tipo de provocação aos artistas locais, que criticaram seus trabalhos na primeira exposição. “[Críticas] dizendo que o que eu fazia não era arte e sim, simples cópias”, falou.
John Lennon, caneta BIC preta
Mesmo com as opiniões negativas, Widelski não desanimou. Hoje, ele faz parte de um grupo, no aplicativo Whatsapp, com artistas do mundo inteiro que utilizam a caneta esferográfica como técnica para desenhar. “É importantíssimo esse contato com pessoas que desenvolvem o mesmo trabalho que você, todos com caneta, mas nenhum igual ao outro, cada um com seu estilo, isso é maravilhoso, acrescenta muito para meu crescimento artístico”, acrescentou.
“O maior retorno que recebo é saber que artistas consagrados nesta técnica, compartilham seus conhecimentos comigo”
Ricardo Wideksi
O artista explicou que na maioria das vezes trabalha em cima de referências, não realiza cópias. As obras que retratam pessoas do dia a dia, possuem sensibilidade, mas também fazem refletir sobre as críticas sociais. Os variados tons de azul, feitos apenas com caneta, retratam as lágrimas e expressões de forma realista, que atingem os olhos mais críticos.
Criança com máscara- Técnica: Caneta esferográfica azul
Sobre o futuro
Hoje, Widelski trabalha como pintor de paredes, e é bem realista quanto a possibilidade de sobreviver da arte. “Infelizmente a realidade é outra, esse é meu passatempo, mas se um dia acontecer vai ser maravilhoso”. O artista também disse que pretende desenvolver outros trabalhos com a caneta esferográfica, como uma exposição somente com desenhos de animais. Atualmente suas obras são focadas em retratos. Ainda modesto com seu perfil de artista no Instagram, Widekski recebe suas encomendas através das redes sociais (@ricardowidelski), realizando desenhos, desde artistas famosos até fotos de famílias, crianças e casais.
O artista também comentou sobre o espaço e reconhecimento da classe em Ponta Grossa, que mesmo possuindo artistas plásticos reconhecidos nacional e internacionalmente, ainda não há uma união da classe. “Acredito que espaço se conquista, vejo muitos artistas criticando e reclamando sem correr atrás, espaço tem pra todos,reconhecimento vem com esforço e dedicação, vejo muita desunião na categoria, não é assim que funciona”, explicou.