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Ele largou a carreira de professor em PG para viajar pelo mundo

Por Dani Ribeiro e Laísa Morais

Wanderlust, em alemão, é um termo usado para descrever um forte desejo de viajar e explorar o mundo para entender sua própria existência, e poderia ser também uma legenda para a vida de Fayson Merege. Em tempos onde a maioria das pessoas trabalha para ter uma vida estável e confortável, ele ousou. Saiu da zona de conforto para ir em busca daquilo que faz o seu coração pulsar mais forte. Aos 25 anos, o fotógrafo e professor de Educação Física, apaixonado pelo que fazia, deixou tudo para trás e acompanhado apenas de uma mochila e uma câmera colocou o pé na estrada. No total, já são 25 países, e uma bagagem cheia de experiência e histórias que não acabam mais.

Trajetória

Fayson nasceu em Goiânia, mas desde cedo teve que acostumar-se com as mudanças. Antes de chegar a Ponta Grossa, a família morou em várias cidades paranaenses, sempre acompanhando o pai, que constantemente precisava mudar de cidade a trabalho.

O menino tímido de olhos verdes e cabelo loiro era um ótimo aluno na escola. Por gostar muito da prática esportiva, quando terminou o colegial não teve dúvidas ao escolher cursar a faculdade de Educação Física. Ainda durante a graduação começou a trabalhar como professor na rede particular de ensino, dando aulas para crianças de 4 a 10 anos de idade. Essa experiência despertou uma verdadeira paixão pela área. Como resultado, depois de formado Merege especializou-se e desenvolveu sua dissertação de mestrado em educação infantil.

Profissionalmente realizado e com o curso da vida seguindo tranquilamente, o espírito nômade, forjado na infância, trouxe novas inquietações que pediam uma mudança. “Eu queria fazer alguma coisa e eu precisava tirar uns seis meses pra não fazer nada: só viajar”, explica. Uma decisão improvável que é adiada até se tornar inevitável. No ano de 2015 Merege pede demissão das quatro escolas em que trabalhava para dar início a uma nova etapa em sua vida: de professor dedicado, a fotógrafo viajante.

Fotografia

Fayson Merege teve o seu primeiro contato com a fotografia no ano de 2010, quando teve uma foto publicada em um livro. “Eu tirei a foto com o celular, brincando mesmo, e coloquei no Flickr na época, e um historiador de Campo Mourão olhou a foto, gostou e me mandou um email: ‘ah, gostei da sua foto, poderia colocar ela no meu livro?’”, relembra.

O que antes era apenas um hobbie, se tornou algo sério, levando Fayson a investir em um curso, workshops e na aquisição de equipamentos. Mais tarde, quando decidiu deixar tudo para viajar, não sabia exatamente qual seria o seu destino, mas tinha em mente que a fotografia era essencial em sua jornada. “Quando eu decidi sair viajar, eu sempre deixei muito claro para mim, o meu intuito não era só sair viajar […], eu tinha um propósito. Decidi que iria viajar para conhecer outras culturas, outros povos, eu queria fazer isso de uma forma diferente. Eu quero retratar isso. Eu quero fotografar as cidades que eu visito, a cultura local, as pessoas que eu conheço. Eu quero ter material pra algum dia poder mostrar, ser um fotógrafo de viagem, de natureza”, diz.

Sem roteiro

Com o apoio dos amigos que sempre o incentivaram a ir atrás dos seus sonhos, Fayson Merege colocou o pé na estrada (literalmente). Com o mínimo de dinheiro possível, sem planos em longo prazo e deixando as coisas fluírem, Fayson partiu, fazendo sua primeira parada no Chile, onde ficou cerca de um mês.

Pelos lugares que passou, Merege sempre buscou aproveitar o tempo que tinha trocando experiências com os moradores locais, se hospedando e fazendo o que eles fazem, contemplando-os. O objetivo nunca foi ter o passaporte recheado de carimbos, de viagens com roteiros clichês, focadas apenas em lugares e coisas inanimadas. Na concepção de Fayson, as maiores experiências que se pode obter em uma viagem estão escondidas em cada pessoa que cruza seu caminho. “Como eu conheço um país? Eu conheço pelos relatos que as pessoas falam. Como que eu conheço sobre a política de um país? Ouvindo o que as pessoas estão falando. Eu tento interagir e aí na forma deles eles acabam explicando e é a minha forma de ter um conhecimento cultural de um país”, explica.

Enquanto se aventurava pela Alemanha, Fayson viveu uma dessas experiências marcantes que jamais seria possível a um viajante apressado. Era um fim de tarde, ele sentou-se na beira da estrada para tomar água e enquanto pensava sobre onde dormiria aquela noite, foi abordado por dois meninos paquistaneses. Apesar de alguma dificuldade com os idiomas, Fayson entendeu que estava sendo convidado para ir com eles a um alojamento. Tratava-se de um local destinado aos refugiados da Síria e África, onde Merege pode tomar banho, comer (um prato típico do Paquistão) além de conhecer mais sobre a cultura desse povo.

Lugares

Depois de conhecer tantos lugares, Fayson já não consegue apontar qual o seu favorito, porque acredita que todo país tem suas belezas. Entretanto, ele revela um carinho especial por duas nações: Bolívia e Itália. Do país sul-americano ele destaca a cultura, as cores encantadoras de um povo muito amigo e acolhedor. Do europeu, onde Fayson já chegou a morar por alguns meses, ressalta as belezas do norte, Trento e Rovereto, além de Florença, cidade onde sonha em morar desde os 12 anos.
Ao falar em hospitalidade, Fayson lembra de outros dois países bastante acolhedores, Uruguai onde ficou por um mês e Alemanha, no qual, apesar dos moradores terem fama de serem mais “frios”, Merege foi muito bem recebido.

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Paisagem boliviana

Desafios

Se perder em meio às ruas dos países em que visita é algo corriqueiro para Fayson. O mochileiro conta que isso acontece com frequência, principalmente quando não tem conhecimento do idioma local. “Viajando entre a Polônia e a República Tcheca, até Alemanha em algumas situações, você olha para o idioma e não entende nada. Não tem nenhuma noção do que está escrito ali, e daí você acha que é para um lado é para o outro, daí quando chega desse lado, você vê que era do outro lado! [brinca]”.

Para sair dessas situações, Fayson recorre à ajuda das pessoas que estão por perto no momento, mas explica que a comunicação nem sempre é eficaz. “Daí você vai tentar perguntar para uma pessoa, a pessoa também não fala muito bem o inglês e aí você vai na mímica, no gesto. Mas acaba se perdendo, não tem como não se perder, por mais que tenham vários aplicativos de celular, uma hora ou outra você acaba se perdendo”, relata.

Além de contratempos com o roteiro, Merege também precisa encarar dificuldades diárias com a higiene. Em sua última viagem, conseguia hospedagem em casas de família somente a cada dois ou três dias. Durante esses intervalos, acampava em sua barraca e os banhos eram substituídos por lenços umedecidos. “Quando eu chegava nas casas, uma das primeiras coisas que eu pedia era um banho!”, relembra.

Companhia

Na maior parte do tempo, Fayson viaja sozinho, o que segundo ele, ajuda no autoconhecimento, entretanto, alguns amigos já pegaram carona em suas aventuras. Um deles é Eliseu Junior, 23, analista ambiental. Apesar de um ser palmeirense e o outro corintiano, a amizade que nasceu em um retiro da igreja, resistiu e está os levando cada vez mais longe.

Recentemente os amigos viajaram juntos para a Europa. Além de belos pontos turísticos, como a mágica capital Francesa, Eliseu guardou na memória a afeição que recebeu pelo caminho. “O que mais me marcou foi o contato com as novas amizades, o carinho das pessoas em que nós tínhamos contato, como na casa de Phellipe, por exemplo, onde ficamos hospedado dois dias e recebemos um carinho enorme da sua família, as pessoas eram entusiasmadas pela nossa viagem”.

Eliseu não concluiu o percurso na Europa conforme o planejado, depois de uma semana de trajeto ele passou mal e decidiu voltar ao Brasil. O incidente, segundo ele, trouxe grandes aprendizados sobre si mesmo, seus limites e expectativas. Episódio superado, Eliseu já conta os dias para a próxima viagem. Em abril ele e Fayson partem em direção a Bolívia. Ainda sobre o amigo mochileiro, Junior ressalta que espera poder caminhar sempre bem próximo de Fayson: “para mim ele é um irmão, difícil encontrar pessoas hoje em dia que se possa chamar de irmão, ele se destaca por entusiasmar as pessoas a resgatar seus sonhos, através de seu estilo de vida, ajuda as pessoas a saírem de suas jaulas que a sociedade impõe, é um cara que quero sempre ter por perto”, finaliza.

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Amizade em frente à Torre Eiffel

Reconhecimento

Hoje em dia é do trabalho fotográfico que Fayson tira parte do seu sustento, seja com a venda das fotos ou mesmo com trocas de serviço por hospedagem. Além das fotos de viagens, de paisagens e da natureza, ele também faz questão de deixar um espaço na agenda para um projeto paralelo, de ensaios fotográficos.
Merege já teve duas fotos publicadas pela revista Viagem e Turismo, da editora Abril e sete fotos publicadas pela National Geographic, entre elas está uma das suas favoritas, dois cisnes passeando em um fim de tarde de tirar o fôlego na Hungria (confira no final desta reportagem).

Com um rico acervo de fotos e muitas histórias pra contar, Fayson sonha dividir toda essa experiência em livros, exposições e documentários. Um desses projetos já está em andamento, um documentário que será gerado em parceria com uma produtora de Curitiba para ser transmitido no canal de TV Travel Box Brasil.

Seu maior sonho hoje é ser reconhecido por seu trabalho. Um fotógrafo de paisagens, com um olhar apurado para a vida que se move ao seu redor. “Eu sou um pouco de mim no outro e um pouco do outro em mim”, finaliza.

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Paisagem Húngara que está entre as preferidas do fotógrafo/viajante

Comentários

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864 thoughts on “Fayson Merege, histórias de um fotógrafo mochileiro”
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