Zé Rafael passou por Coritiba, Novo Hamburgo e Londrina até chegar ao Bahia. (Imagem via atleta).

As escolinhas de futebol são vistas somente pelo lado esportivo, quando sua principal importância é formar cidadãos de bem

O Brasil é o país do futebol. Essa marca vem devido à seleção brasileira ser a única pentacampeã da Copa do Mundo. O gosto pelo esporte atinge inúmeras crianças ao longo do nosso país, sejam eles meninos ou meninas.

Devido a essa grande demanda, as escolinhas de futebol se tornam pontes entre desejo e sonho. O sonho de se tornar um (a) jogador (a) de futebol e ser o orgulho de seu país, mas acima de tudo, o de sua família.

Na cidade de Ponta Grossa não é diferente. Existem várias escolinhas: América, Guarani, Genoma Colorado, Operário; isso que nem são citadas as escolinhas de futsal. Logo, elas se tornam peças chave na vida desses meninos (as). É o pontapé inicial.

Como essas escolinhas são de futebol, muitos acham que elas trabalham com isso, na formação de atletas. Mas será que de fato é esse o papel principal?

Construindo cidadãos

Conversamos com Everson Luiz Da Luz, 36 anos, técnico há 15 anos. Ele atualmente trabalha no Clube Guarani. O clube desenvolve esse trabalho com crianças de seis até os 15 anos. Everson conta qual a principal função da escolinha. “O primeiro objetivo é formar o cidadão. Fornecer a prática do esporte e formar o cidadão. Aí você identifica se tem algum talento, para aí trabalhar de uma forma diferenciada”, comenta.

Devido esse trabalho acontecer no período de formação da criança, como pessoa, e ser um período longo, Everson comenta sobre a satisfação de preparar pessoas de bem. “Esse trabalho é legal porque você vê o resultado que acontece. Jogadores formaram poucos, mas pessoas de bem, que terminaram faculdade, que hoje tem uma família, isso é 80, 90 por cento. Você traça um objetivo inicial, e quando você vê o resultado é muito satisfatório”, exalta.

Apesar de o principal objetivo ser a formação de cidadãos, as escolinhas também têm a responsabilidade de esculpir futuros atletas. Sobre como esse trabalho é desenvolvido, Everson fala sobre a identificação de um atleta diferenciado. “Você identifica o jogador e aí começa a trabalhar um treinamento mais puxado. Sobe o menino de categoria e procura achar campeonatos para ele participar, sendo dentro como fora da escolinha, para que esse menino amadureça nesse sentido de competição. Assim, a gente realmente percebe se ele tem potencial”, explica.

Formação de jogadores

A cidade já revelou alguns jogadores de futebol, e Everson fez parte na formação de dois atletas: Bruno de Lara Fuchs, 18 anos, atualmente nas categorias de base do Internacional, e José Rafael Vivian, 24 anos, jogador profissional do Esporte Clube Bahia.

Conversamos um pouco com os dois jogadores, que nos contaram um pouco mais como foi esse processo, até chegarem a grandes clubes. Bruno explica que nunca teve um clube fixo, sempre procurou jogar em vários lugares. “Sempre foi por várias escolinhas, sendo futsal e campo, até que cheguei no Genoma Colorado/Ponta Grossa e fui através de uma “peneira”* para o Internacional”, afirma. José Rafael também teve vários treinadores e falou qual a importância deles. “Tive vários treinadores que me ensinaram muito, mas acho que o mais importante foi o Nico**, que me ensinou os primeiros passos dentro das quadras. Aprendi muito durante muitos anos de treino, mas principalmente que se você sonha e acredita, você alcança”, explica.

Muitos pensam que ser jogador de futebol é algo fácil, entretanto, a vida de um atleta é bem desgastante, é o que conta José Rafael. “A rotina é muito ao contrário do que todo mundo pensa, é bem cansativa. Treinamos todos os dias, sem exceção alguma. Se tiver feriado, se for folga, finais de semana temos treino, exceto em dias de jogos que descansamos para o momento do jogo. As maiores dificuldades são que geralmente ficamos muito tempo viajando ou concentrados, e isso nos tira muito tempo de ficar com a família”, relata.

O fato de ser uma das pessoas que formaram esses atletas deixa Everson orgulhoso de si. “Aqui da cidade o Bruno, o próprio Carlinhos que está na Suíça, o Zé Rafael mesmo. Eu sempre comparo a medicina. Você formar um jogador é algo bem difícil. Agora, eu acho que a gente deu um pouco de suporte a esses meninos. O centro de tudo era o talento deles, mas a gente ajudou um pouco. Vários técnicos daqui da cidade colaboraram um pouco, e a ideia é exatamente essa, onde a gente cada vez mais consiga dar oportunidade para esses meninos jogarem e, quem sabe, virarem jogadores profissionais”, afirma.

Por se tornarem exemplos de atletas formados na cidade, Bruno e Zé Rafael falam sobre seus sonhos, respectivamente. “Acho que todos sonham, e depende muito de si para chegar até lá. Você também tem que desapegar de muitas coisas importantes, como a família. É extremamente difícil isso, mas é um sonho”. “Eu acredito que em Ponta Grossa tenham muitos talentos e muitos meninos que sonham desde pequeno como eu. O que posso dizer é que se preparem e treinem muito, que acreditem no seu sonho e que sobre tudo tenham fé que ele irá se realizar. Isso não é somente para os meninos (as) que sonham em jogar futebol, mas para todos que tem um sonho e um objetivo em suas vidas”, exalta.

Rodolpho Bowens

* Peneira é o termo usado para designar teste. Exemplo: a menina realizou um teste no Santos;

**Treinador do Colégio Sagrado Rede de Educação.

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