A mudança para o ensino a distância afetou radicalmente a rotina das escolas que agora precisam gravar aulas em DVD

Por Ciriane Shaniuk e Isabel Aleixo

A pandemia do novo coronavírus mudou a vida de todos os estudantes que tiveram que se adaptar a nova rotina e, também, dos professores, que precisaram se adaptar ao novo jeito de ensinar, totalmente on-line. Agora, se para os alunos das grandes cidades já foi uma dificuldade, como ficaram os alunos das escolas rurais? A Escola Municipal Professor Eloy Avrechack, localizada no distrito de Itaiacoca, possui 86 alunos matriculados entre 4 a 10 anos, e as atividades pararam no dia 20 de março.

Sueli Mika Antunes, diretora há 11 anos da escola, conta como tem sido esse momento. “Tem sido bastante difícil, tanto para os alunos como para os professores, os quais precisaram se reinventar e buscar novas estratégias para chegar até os alunos. Planejar atividades para os alunos sem estar presente para orientá-los e ajudá-los é muito complicado”. A diretora ressalta que os pais têm se esforçado para ajudar os filhos com as atividades, mas que ela compreende que a relação pais/aluno é diferente da relação professor/aluno, o que acaba dificultando o processo de aprendizagem. “Neste momento temos o controle dos alunos que estão realizando as atividades com êxito, mas não podemos prever realmente se a aprendizagem vem acontecendo”, explica.

O processo da mudança de ensino

A produção de conteúdo escolar exige criatividade e dinamismo para que cheguem a todos os alunos, inclusive aqueles que possuem mais dificuldades no acesso, e possa ser compreendido com facilidade. “Como a escola fica localizada na área rural, poucos alunos têm acesso à Internet, sendo assim, gravamos as aulas em DVD e disponibilizamos aos nossos alunos para os mesmos acompanhem as aulas e os conteúdos que estão sendo trabalhados. Além das aulas em DVD, os alunos recebem as atividades do Programa Vem Aprender, as quais são complementadas por outras atividades planejadas pelos professores de cada turma. Essas atividades são orientadas diariamente pelos professores através dos grupos de WhatsApp de cada turma”, relatou a diretora.capa 2 Professores fazendo a entrega de atividades para os alunos das escolas rurais

Professores fazendo a entrega de atividades para osalunos das escolas rurais.

Vania Costa, professora há 24 anos e sete anos na escola municipal deItaiacoca, explica que a Secretaria Municipal de Educação (SME), sabendo que as aulas não iriam voltar tão cedo iniciou o projeto “Programa Vem aprender”, na TV Educativa (TVE) em Ponta Grossa, com aulas gravadas por professores da rede municipal, trabalhando os conteúdos curriculares, visando desenvolver a aprendizagem dos alunos mesmo a distância.

Dessa forma, a professora Vania comenta como foi o processo de mudança da escola para o ensino a distância. “Nossa escola, por estar na zona rural, os alunos não têm acesso as aulas pela TV, nem carregar os vídeos pela internet. Por isso, passamos a gravar as aulas em DVD, organizar as atividades e levar até a casa dos alunos de 15 em 15 dias, com o transporte da SME, percorrendo 220km em cada entrega”.

A professora conta também, que foi criado um grupo no WhatsApp de cada turma para as professoras estarem passando as instruções e esclarecer dúvidas das atividades. “As atividades da grande maioria dos meus alunos estão sendo realizadas, mas aprendizagem mesmo, só iremos saber se está sendo efetivado quando retornamos para as aulas nas escolas”, ressalta.

Vania explica que é um momento difícil, onde professores, pais e alunos tiveram que se adaptarem as mudanças. “Mas, estamos procurando fazer o melhor. Escola e família nunca estiveram tão juntos!”.

As atividades dos alunos

Segundo a professora Vania, a Secretaria Municipal de Educação, criou um grupo de professores que se voluntariaram para organizar e gravar as aulas dentro dos conteúdos curriculares de ensino. E assim, os professores da escola montam as atividades para os alunos. “Nós assistimos as aulas, organizamos as atividades que vem da SME e programamos dentro do objetivo a ser alcançado. Xerocamos, envelopamos e fazemos a entrega nas casas de 15 em 15 dias. Depois fazemos as correções para garantir a presença do aluno para não perder o ano letivo”, conta.

Muitos pais compraram o aparelho para assistir DVD e não deixar o filho sem atividade. A maioria dos alunos estão realizando atividades, apenas uma minoria não está acompanhando, o que deixa a professora feliz. “Sempre estão nos perguntando no grupo da sala e acompanham as atividades dos filhos”.

A professora ressalta que mesmo com sol ou chuva, todos os alunos recebem as atividades. “Nossa parte estamos fazendo, para que o aluno não perca a oportunidade de estudar”.

Acompanhamento dos alunos

Diandra Caroline, mãe da Julia de oito anos e do Heitor de cinco anos, relata que os filhos fazem todas as atividades e que ela incentiva para estudar, mas que tem mais dificuldade em casa. “Eu acho muito difícil o ensino a distância, o ambiente de ensino é diferente, eles se distraem mais, é complicado”. Ela ainda explica que o mais importante, em sua visão como mãe, é que os filhos não parem de estudar. “Eu tento ajudar como posso, nem sempre tenho tempo, mas me esforço para o bem deles”, finalizou.

A diretora Sueli destaca que, todo esse esforço para suprir a suspensão das aulas presenciais, vale a pena. “Tem sido um trabalho bastante árduo, porém muito gratificante. Ver a alegria e o sorriso no rosto de cada aluno, de cada família ao nos receber em suas casas não tem preço”.

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