Por Lucas Portela

Estudantes foram os mais afetados com as medidas restritivas e a falta de recursos para continuar a graduação pode levar à evasão universitária

Com a pandemia, junto do isolamento social vieram as demissões e paralisações nas aulas. Com isso ficou muito mais difícil de continuar a graduação e estudantes acreditam que estão perdendo momentos muito significativos de seus cursos. Salas de aula que antes faltavam carteiras por lotação, hoje são preenchidas por um vazio enorme.

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Muito mais do que apenas perder a parte prática do curso, estudantes estão perdendo a chance de suas vidas de concluir uma formação superior, algo que é difícil de conquistar em um país com tamanha desigualdade social.

Com a contaminação do coronavírus pelo mundo, as mudanças no cotidiano vieram junto de novas formas de se viver, com isso vieram também algumas paralisações de aulas presenciais e transferências para a modalidade de Ensino a Distância (EAD), entre outras medidas necessárias na educação.

Além da fácil distração dos alunos em frente ao computador, outros fatores como não conseguir se expressar totalmente por timidez para tirar dúvidas sobre as disciplinas, podem prejudicar drasticamente o aprendizado. Sem falar da questão de acessibilidade, pois, muitos alunos não possuem nem computador, nem internet e muito menos um local adequado para estudos.

Em março desse ano, como medida de prevenção ao contágio por covid-19, todas as universidades públicas e particulares de Ponta Grossa decidiram suspender as aulas. Em abril, as escolas estaduais da cidade tiveram as aulas suspensas por tempo indeterminado, e como solução, adotaram o EAD.

No ensino fundamental e no médio, o método de ensino consiste em fazer a transmissão de aulas usando a televisão, através do canal Paraná Educativa. São disponibilizados três canais com cobertura estadual, um canal para 6º e 7º anos, um canal para 8º e 9º e um canal para ensino médio. Para cada série, há um bloco de cinco aulas por dia.

Dificuldade financeira

Um dos principais problemas da pandemia é a questão financeira das famílias e dos estudantes, que acarreta em desistências e alunos trancando os cursos por falta de recursos para se manter na faculdade.

A evasão universitária, que já tinha uma tendência alta, com esse cenário pode aumentar mais ainda em 2021. Na rede privada, onde estão quase 80% dos universitários, segundo o portal G1, o impacto econômico é sentido diretamente nas mensalidades. Na rede pública, o baque ainda deverá ser capturado. Mas, a estimativa é que deve haver maior evasão no período de pandemia.

O que dizem os estudantes

O aluno do 4º período de Engenharia Civil, Jhonatan Henrique Ferreira disse que no começo da mudança das aulas presenciais para o formato EAD, aconteceu tudo muito rápido, como conta ele, em uma semana estavam tendo aulas normais na faculdade, e já na semana seguinte estavam tendo aulas online.portela 5

Jhonatan Henrique Ferreira

Jhonatan acredita que atualmente os estudantes já estão mais habituados com essa forma de aprendizagem, porém, no início muitos alunos tiveram dificuldades e sua turma que era dividia em três, foi bastante reduzida, passando de 80 estudantes nas aulas presenciais, para apenas 30 no EAD.

“No EAD ficou um pouco mais difícil de aprender, porque eu tenho bastante dificuldade na aprendizagem, então no método a distância você não tem o professor ali pessoalmente para tirar as dúvidas. Os meus professores dão todo o espaço possível para gente perguntar, mas mesmo assim é diferente de você estar numa sala e conseguir se expressar de uma forma em que o professor te compreenda” diz.

O estudante do 3° ano de Enfermagem, Bruno Abel Resende Silva defende que em um primeiro momento achou interessante a ideia de transferir as aulas presenciais para o formato EAD, mas que o modo com que a consulta feita com os estudantes, para saber se haveria disponibilidade e recursos para todos participarem das aulas online, não foi feito da forma correta. “A minha instituição se prontificou a disponibilizar os notebooks para os alunos que não tinham esse recurso, porém, não fez nada quanto à acessibilidade a internet” disse Bruno.

“A gente teve que capacitar os professores, porque alguns deles não sabiam abrir as nossas tarefas para corrigir. Alguns não sabiam nem abrir o bate-papo na vídeo-chamada, então a instituição não pensou em nenhum momento em capacitar os professores para essa modalidade”, afirma.

Ainda segundo Bruno, essa forma de aprendizagem não está dando conta de ensinar os alunos a como exercer suas futuras profissões e no caso dele, não há nenhum método que possa substituir a prática, pois, os exames clínicos, diagnósticos e avaliações necessitam obrigatoriamente de um paciente para serem realizados. “Na minha área de formação, o que eu vejo é que estão se formando profissionais da saúde por meio de vídeo-aulas e pelo YouTube. A gente não está aprendendo nenhuma técnica na prática”, afirma o estudante.

Por outro lado, a estudante do 4º ano de Engenharia de Materiais, Isis de Oliveira Ávila de Matos, acha que a mudança foi necessária tendo em vista a realidade que todos estão passando, mas que ela trouxe problemas principalmente na parte psicológica e emocional dos alunos e professores.

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Isis de Oliveira Ávila de Matos

Um ponto que poderia ser pensado é tentar mudar um pouco a forma de dar aula e tornar elas mais participativas, para não ficar só o professor falando para um monte de imagens de perfil, para todo mundo abrir a câmera e não para assistir a aula somente porque é obrigatório”, afirma.

Isis acredita que o método utilizado não é correto, que não é possível aprender corretamente a distância sem a prática das aulas presenciais e que deveriam ocorrer mudanças na metodologia para que os alunos possam de fato adquirir conhecimento técnico.

“Eu não acho certo esse método, nem quando era incorporado nas aulas presenciais, porque o método de ensino no Brasil em si é bem errado. Eu acho que não aprendemos as coisas assim, e deveria ser mudado para fazer a gente pensar, dar problemas reais para gente resolver, porque a gente só consegue aprender na prática”, defende.

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