Consequências sociais deste fenômeno, que cresce a cada dia no país.
No dia 12 de março de 2016, conheci Edilson Pereira, que com 37 anos de idade relatou sua história de vida, desde seu nascimento no interior do município de Guarapuava, até os dias de hoje, onde garante sua vida vendendo doces em semáforos do centro da maior cidade dos Campos Gerais.
Ele conta que desde muito jovem a desilusão por um futuro melhor veio à tona em sua vida e que a vida pobre de quem vive no interior o afastou de qualquer sonho que pudesse ter, estudou até a antiga 5ª série do Ensino Fundamental e por ter de ajudar seus pais na lida da lavoura acabou por deixar os estudos precocemente.
Na primeira oportunidade pegou o “trecho”, conforme suas palavras e nunca mais voltou pra casa. Aí perguntei sobre a sensação sentida por ele ao acordar longe do conforto de um lar e de sua família, sem embaraços responde:
– Vivo um dia após o outro” – numa confissão clara de que o que vale pra ele é estar vivo mais um dia e só. Perguntei então sobre situações de violência vivenciadas ou vistas por ele. Edilson respondeu para que não aconteça o pior a ele e a seu irmão mais novo (Renilson Pereira, de 29 anos), que coincidentemente encontrou no centro de Ponta Grossa quando vendia seus doces e desde então vive sob seus cuidados, carrega consigo uma faca de aproximadamente 20 cm, nova, e que segundo ele espera nunca ter que usar para se defender de quem vir lhe tirar a paz.
Porém, explica já que já foi assaltado diversas vezes, inclusive por seus pares em situação de rua. Fiquei curioso para saber como acontece a higiene pessoal e alimentação diária e eles responderam que a dona “Rose”, deixa eles tomarem banho e fazer as refeições principais como café da manhã, almoço e as vezes café da tarde.
Mais tarde soube por um membro do Conselho da Assistência Social que a dona Rose é a responsável pelo Centro Pop (serviço que presta assistência social às pessoas em situação de rua, assim como estes irmãos com quem conversei).
Quando perguntei sobre auxílios do Estado para garantir sua a preservação de suas vidas e sobre a perspectiva de futuro para eles, que responderam que não recebem ajuda do governo, exceto do CRAS (que na verdade, é o CREAS, uma vez que CRAS demanda sobre a atenção básica, enquanto o CREAS é o responsável por cidadãos com direitos violados ou negligenciados) que de quando em vez libera uma passagem para a próxima cidade, e não esperam mais que o suficiente para sobreviver um dia após o outro.
A sensação que tive ao conversar com estes jovens é a de um presente incerto, com futuro duvidoso, sem ter em suas bases de cidadania a construção do senso de relevância do que é seu constructo social até os dias em que vivemos. O erro está posto, o culpado em evidência e nos carece a solução deste grave problema social que parece estar apenas começando progredir em índices que desqualificam a sociedade brasileira.
Por Josuel Alves da Luz.