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Chá de Ayahuasca: medicina ou droga?

Entenda os efeitos da planta Ayahuasca no corpo humano

Por Amanda Nunes Stefaniak, Gabriel Fornazari, Mayara de Pontes, Naiane Jagnow e Raissa Galvão

 

Historicamente utilizada por mais de 400 tribos indígenas em toda a América do Sul, a terapia da ayahuasca está presente há milênios na tradição cultural de alguns povos nativos da região amazônica. Desde os anos 80, o uso era proibido no país e apenas em 2010 o Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas (CONAD) regulamentou a legalização, porém somente em rituais religiosos, mantendo a proibição de distribuição comercial, uso terapêutico, turismo, publicidade e o consumo de ayahuasca com drogas ilícitas.

Em Itaiacoca, distrito localizado a 30 km da cidade de Ponta Grossa, acontece mensalmente a cerimonia de Xamanismo na Casa Flores de Jagube. Segundo a proprietária, Ananta Oliveira, o xamanismo não é uma religião e sim um conjunto de práticas religiosas e cultos muito antigos. “Esse tipo de crença atravessou séculos e usamos o chá para evocar espíritos aliados”, explica.

“É visto como alucinógeno por muitos”

No ritual xamânico, a música é essencial para obter os resultados desejados. Os indígenas que produzem a ayahuasca dançam, tocam instrumentos como chocalhos e maracas, e cantam em homenagem à natureza, tudo isso dentro do “rezo”, como é denominado pelos participantes. Depois de cultuar e agradecer os elementos considerados sagrados, tais como o fogo, a água e as florestas, o chá é distribuído em pequenas doses e todos iniciam a meditação. Enquanto isso, cuidadores auxiliam para que toda a cerimonia seja segura e agradável.  Os efeitos colaterais mais frequentes após ingestão da mistura são vômitos, náuseas e diarreia, que mesmo sendo intensos são considerados pelos participantes como uma limpeza das impurezas do corpo, sendo um acontecimento totalmente comum nas cerimonias. Outros relatos incluem ainda suores excessivos, tremores, aumento da pressão arterial e aumento dos batimentos cardíacos

A ayahuasca, líquido de cor marrom escuro, é produzida a partir de uma mistura do cipó de Mariri (Banisteriopsis caapi) e as folhas da chacrona (Psychotria viridis), plantas originadas na Amazônia. É visto como alucinógeno por muitos, por conter uma substância conhecida como DMT, que imita o efeito de um neurotransmissor do corpo humano capaz de criar estados de consciência sobrenatural, levando as pessoas a ter visões relacionadas aos seus próprios problemas, sentimentos, medos e experiências. Porém o termo correto para caracterizar o efeito da ayahuasca é enteógeno, que significa “manifestação interior do divino”, pois altera a consciência e induz ao estado xamânico ou de êxtase, algo semelhante a uma meditação profunda.

Fora da região amazônica, o consumo do chá se tornou mais popular com as religiões do Santo Daime, União do Vegetal e A Barquinha, que surgiram no século XX e compartilham a característica de seus membros não pregarem suas crenças com o intuito de conquistar novas adesões. Uma distinção importante entre A Barquinha, o Santo Daime e a União do Vegetal é que enquanto na primeira a incorporação de espíritos e entidades pelos fiéis é admitida e tem uma centralidade, nas demais esse tipo de prática é desestimulada, e não compõe o corpo ritual principal dessas duas crenças. Entretanto, todas acreditam nos benefícios sagrados que o chá de ayahuasca pode proporcionar.

“A gente acredita que melhorou como pessoa”

O chá de ayahuasca transformou a vida do advogado João Luiz Stefaniak e do vendedor Kochise Ramos de maneiras diferentes.

Desde os 12 anos, João Luiz se considerava materialista e ateu. “Eu não acreditava na existência de Deus, mas na primeira experiência com o chá eu tive um aumento muito grande da percepção da realidade. Eu tive um aumento da visão, as cores se acentuaram; da audição, os sons tinham outro frequência; do olfato, que ficou muito sensível; já com o tato foi ao contrário, eu perdi a percepção, principalmente das pontas dos dedos”, relata. Porém, o segundo contato com a bebida indígena foi mais profundo e espiritual. “Na primeira vez eu não tive contato com espíritos ou outros seres que estão presentes nestas cerimônias. Foi a partir da segunda experiência que tive contato com esse mundo que está além dessa dimensão em que vivemos”, relata.

Enquanto a principal mudança de João Luiz foi no campo espiritual, de Kochise esteve mais relacionada com o estilo de vida. O jovem enfrentava problemas com as drogas quando conheceu o Santo Daime por meio de uma reportagem do programa de televisão Fantástico. “O vício foi apenas uma desculpa que Deus arranjou para eu chegar até aqui e me conhecer mais, porque o Santo Daime e o ayahuasca é um mergulho dentro de si”, afirma.

Os dois concordam que melhoraram de vida após ter contato com o chá. “Eu tenho um temperamento muito explosivo e isso foi melhorando por meio do uso das medicinas naturais presente nas cerimônias indígenas, mas principalmente por meio da ayahuasca. A gente acredita que melhorou como pessoa, como ser humano, no convívio em sociedade e com a própria natureza”, conta Stefaniak.

“Ainda há muito a se descobrir”

Uma pesquisa realizada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e pelo Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (Idor), comprovou que os benefícios da erva vão além do campo religioso e místico. Segundo dados obtidos em processos químicos, é possível que uma substância da ayahuasca estimule o crescimento dos neurônios, especialmente na regeneração das células nervosas. Estudos ainda demonstram que os aspectos biomédicos da planta têm potencial terapêutico, podendo ser usada como antidepressivo e ansiolítico, assim como seu baixo risco à saúde física.

 Shawã Tuví Kyo Jaguar, se apresentou como porta voz da tribo Katukina, que vive no Acre e disse que muitas das doenças com que lidam os índios em suas tribos são contornadas por suas práticas médicas. “Há uma crescente defesa da integração da medicina tradicional ao conjunto de saberes e serviços da medicina indígena. E ainda há muito a se descobrir através das pesquisas cientificas”, finaliza ele.

Por Naiane Jagnow
Por Naiane Jagnow

Ouça o relato do praticante do xamanismo João Luiz Stefianiak sobre o preparo do chá de Ayahuasca

One thought on “Chá de Ayahuasca: medicina ou droga?

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