Os felinos foram os pets que mais ganharam espaço nos lares brasileiros nos últimos anos

         Por Dani Ribeiro  

De acordo com o Instituo Pet Brasil, de 2013 a 2018 a quantidade de gatos nos lares brasileiros aumentou 8%. Foram os pets que mais cresceram no período, somando 23,9 milhões de felinos. Para o Instituto trata-se de uma tendência, as pessoas desejam cada vez mais ter um pet, mas morando sozinhas e em espaços menores, os animais pequenos e mais ‘fáceis’ de cuidar acabam sendo escolhidos. Daí a popularidade dos bichanos que tem fama de independentes.

Carolina Trochmann Cordeiro é médica veterinária, especialista em clínica médica e cirúrgica de felinos. Na clínica onde atende, a maior parte dos tutores de gatos moram em apartamentos, o que segundo ela, aponta para um estilo de vida, normalmente agitado e com pouco tempo livre. “Quanto mais as cidades são verticalizadas, mais a gente tem gatos, então como as cidades estão em um ritmo de crescimento, parece que os gatos estão nesse mesmo ritmo, e tem a ver com hábitos”, destaca a médica.

Quando comparados com os cães, os gatos aparentam ser mais fáceis de cuidar, já que não precisam de tanto espaço, sair para passear, fazem as necessidades em um caixinha, não precisam de banhos frequentes, além de passarem a ideia de que não são tão carentes. Mas não é bem assim. “Na verdade, se pensa que o gato não precisa de nenhum cuidado, que dá para largar no apartamento e trabalhar, 12h, 16h por dia, e voltar para casa dormir, mas a gente pega muitos casos de doenças por estresse na espécie, como tédio, ansiedade e depressão”, comenta Carolina.

DANI 2 Doutora Carolina

Para que o bichano tenha uma boa qualidade de vida, é importante ter um ambiente que seja interessante para ele com brinquedos e arranhadores, por exemplo. “Porque é ele que vai ficar ali 24h por dia, e agora na pandemia a gente percebeu o quanto é difícil ficar trancado em um apartamento, então tem que ter atividades”, salienta a veterinária que também recomenda o mínimo de 20 minutos diários de tempo para interagir e brincar com os animais, que pode ser dividido em dois tempos de 10.

Personalidade

Assim como cada ser humano é único, nos gatos a personalidade é individual e não dá para generalizar características afetivas, de comportamento, entre outras. Há aqueles que são muito carinhosos com os donos e aqueles que preferem distância dos humanos. Carolina divide os felinos em três grupos: gatos que gostam de gatos, que são aqueles que não vão aceitar colos, carinhos, e vão preferir brincar mais com outros gatos; gatos que gostam de humanos, que vão ser super grudados com os donos, o que pode se tornar um problema e causar ciúmes em casas com outros animais; e gatos que gostam dos dois.

Nesse sentido,e dependendo do estilo do tutor, a veterinária aconselha a adoção de gatos adultos. “Porque o filhote vai ter comportamento de bebê, brincalhão, fofinho, e se for bravo, não machuca a gente. Ele vai demorar até um ano de idade para definir o comportamento. Já no adulto a personalidade está definida”. Independente do estilo de cada animal, a médica destaca que é preciso entender e respeitar cada um, sem querer que eles sejam quem não são.

No apartamento do Gabriel Sartini, moram três gatos: Nora, a mais velha, Piná, que no início se chamava Ringo, por um erro de análise de sexo, e Rocky, que apareceu literalmente no caminho dele e da namorada Loise, quando eles iam a um restaurante. De acordo com o tutor, todos são amorosos. “Quando chego do trabalho, eles estão na porta me esperando, sempre miam pedindo carinho e deitam com a barriga pra cima (o que, para um gato, é um sinal muito grande de carinho e confiança). Sem dizer que nos dias em que estamos com algum problema, seja físico ou emocional, eles parecem sentir e sempre vêm ficar perto dos humanos, como se quisessem ajudar a curar os problemas. Pode até parecer absurdo, mas parece que eles sentem quando os humanos não estão bem e sempre ficam por perto, ronronando, como se estivessem tentando ajudar”, relata Gabriel.

Por outro lado, Sartini conta que os pets não são muito simpáticos com visitas. “A Nora não é nem um pouco sociável, não gosta de visitas e não costuma deixar outras pessoas fazerem carinho nela, somente seus humanos preferidos. A Piná e o Rocky são muito medrosos, então todas as vezes que chega alguém diferente em casa, eles se escondem embaixo da cama e demoram muito para saírem”, relata o tutor.

DANI 1 Adriana com seus dois gatos

Casa

Para as pessoas que moram em casas, é quase impossível manter os gatos trancados. Ao mesmo tempo que eles ganham ambientes mais arejados e, às vezes, contato com a natureza, podem se tornar mais selvagens. As experiências que alguns passam, como corridão de um cachorro, uma agressão de um humano, por exemplo, também os deixam mais inteligentes e independentes.

Carolina conta que muitos gatos semi-domiciliados possuem mais de um dono. “É bem comum a gente ver histórias deles aparecem castrados, com uma coleira, um bilhetinho, etc.”, comenta a veterinária. Por serem ‘livres’, mesmo apegados aos tutores, eles acabam escolhendo vantagens como carinho, tranquilidade, segurança e qualidade da comida.

A Adriana Sabatovicz, por exemplo, foi escolhida por uma gata que apareceu no forro da residência. Por ter cachorros, nos primeiros dias a dona de casa tentou tocar o animal, mas não adiantava, no outro dia ela voltava. Com a insistência do esposo que não gostava nada de gatos, ela chegou a procurar pecuárias para deixar o pet para adoção, o que também não deu certo. No fim, a família adotou a gata, que um mês depois deu cria de sete filhotinhos. “Não foi fácil, enfrentei uma briga com o marido que chegou até a dizer uma vez: ‘ou eu ou os gatos’, e eu não abri mão de nenhum, nem dele, nem dos gatos, estão todos aí”, relata Adriana.

Situação parecida aconteceu com a Vanda Campos, que já tinha cachorro, coelho, passarinhos, e há seis meses tem uma gata. “Então, ela apareceu aqui e foi ficando até que ficou de vez”, conta a tutora que revela nunca ter gostado de gatos “até aparecer essa lindeza aqui”, explica. Segundo Vanda, Kengui é muito sociável e dengosa com humanos, já em relação aos outros animais tem dias mais conturbados, mas logo já “estão todos juntos de boas”, relata a tutora.

A veterinária Carolina ressalta que o fato de, eventualmente, os gatos terem mais de um dono, não significa que não sejam leais, ou que não se conectem profundamente com as pessoas. “Eles se ligam às pessoas, é muito comum até a gente ver casos, por exemplo, de tutores que foram a óbito, estão doentes ou se afastaram dos gatos por algum motivo, e a gente ter esses gatos entrando em processo de luto, depressão, ansiedade, doenças físicas, por afastamento dos donos […] mas, como vivendo com acesso à rua eles têm muitos riscos, eles precisam ser inteligentes e escolher lugares e pessoas”, esclarece a médica.

Serviço: Wulf Centro Médico Veterinário / Dra. Camila Trochmann Cordeiro42 9134-5392
DANI 4 Kengui, a gatinha da Vanda

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