Por Milena Batista

Segundo o site “ONU News”, estudos da Organização Mundial de Saúde indicam que, acrescentar arte na vida das pessoas, por meio de atividades como dançar, cantar e visitar museus pode melhorar a saúde física e mental. Não é por acaso que, nos hospitais, existem voluntários realizando atividades musicais e teatrais para alegrar os internados.

A pesquisa diz que essas atividades são capazes de reduzir a ansiedade, a dor e a pressão arterial, principalmente para crianças. Além disso, praticar a dança oferece melhoras clinicamente significativas, na capacidade motora de pessoas com a doença de Parkinson.

O começo de tudo

Fernanda Novak, de Ponta Grossa, tem 34 anos e trabalha na área artística há 22 anos. Seu primeiro contato com a arte foi aos cinco anos de idade, quando participou de uma peça teatral. Ela nem imaginaria que, anos depois, estaria no circo atuando na lira americana e no tecido acrobático. “Eu tinha dezesseis anos quando fui fazer uma apresentação no circo Medrano, que havia acabado de chegar à cidade. Já fazia teatro e dança, mas sempre achei que faltava algo em minha vida. Então, veio à oportunidade de fazer essa apresentação”.

Ela conta que não esperava que essa performance fosse mudar a sua vida por completo. “Eu iria ser a partner do mágico, fiquei muito feliz com o convite. Fiz grandes amizades com as pessoas do circo e fui me envolvendo cada vez mais”.

O amor pelo picadeiro

“Acabei namorando um dos artistas e, hoje, é o meu esposo. O circo ficou aqui por alguns meses e, quando estava indo embora, resolvi ir junto para a próxima cidade, que seria Castro. Depois, nunca mais abandonei essa vida mágica”, conta Fernanda.

Novak comenta também que sempre teve o apoio da família, pois era visível que ela realmente gostava do que fazia. “Alguns amigos diziam que era loucura e que eu não iria ficar por muito tempo. Achavam que era uma vida difícil. Mas, minha família me acompanhava na maioria das cidades que o circo ia. Acredito que foi o apoio deles que me deu força e incentivo para continuar”.

Subindo no palco

Para Fernanda, a arte é tudo. Em relação à sensação de se apresentar para várias pessoas, a artista diz que “é a melhor experiência do mundo”. “Eu amo o que eu faço e ver o sorriso do público, principalmente das crianças, é muito gratificante para mim. Uma sensação de felicidade e amor”.

A rotina no circo

“A rotina é cansativa e estressante. Às vezes, as mudanças são de até 600 quilômetros e, quando chegamos à cidade, não temos luz, nem água, ficando até três dias sem. Mas, sabemos que, quando mudamos de cidade, sempre terá uma nova história para começarmos e é isso que nos motiva, a expectativa de grandes realizações”.

A arte e as crianças

Segundo Fernanda, as crianças representam o futuro e é nelas que temos que focar. “Devemos incentivar e aconselhar da melhor forma possível que, a arte do circo, é muito importante, porque além de levar alegria também leva sabedoria. Praticar exercícios, é essencial para uma boa qualidade de vida. E, através da arte circense, realizamos workshops com alongamentos, truques de nós, além dos aparelhos do circo. Elas amam e sempre querem dar continuidade ao exercício”.

Portas fechadas

“Foi muito difícil quando a pandemia se iniciou. Estávamos com o circo em Porto Ferreira e, após três dias da estreia, veio o decreto que não poderíamos mais trabalhar”.

Novak compartilha que tem um grupo chamado “Friends Produções” onde são realizadas diversas atividades circenses e shows infantis. “Quando o circo fechou, foi um susto. Esperamos por duas semanas e nada dos espetáculos voltarem, começamos a ficar desesperados, pois haviam várias famílias que dependiam do circo. Tivemos doações da prefeitura local e também de moradores da cidade, que nos levavam alimentos”.

Ela completa que já estava sem expectativa de voltar para Ponta Grossa. “Até que veio a lei de incentivo Aldir Blanc, que nos salvou com recursos financeiros. Pudemos então, retornar para casa. Ficamos dois anos parados sem poder atuar, tivemos que nos reinventar e trabalhar em outros locais.”

Fernanda fala que somente agora estão voltando com os shows, já que, durante a pandemia perderam muitos materiais e precisaram repor aos poucos. “O circo Medrano fará sua primeira apresentação pós-pandemia, aqui em Ponta Grossa no mês de setembro deste ano (2022) e, poder voltar ao picadeiro não é só um trabalho e sim o retorno da arte às vidas”.

O teatro na vida dos jovens

Já a Letícia Maganha, de 19 anos, teve seu primeiro contato com a arte fazendo pequenas apresentações para a escola. “Eu decorava textos, interpretava e apresentava, mesmo sem saber o que era teatro. Eu nunca havia feito aulas, até então. E pouco tempo depois, iniciei a dança, com o ballet clássico”.

Ela sempre teve o apoio de sua família, pois acreditavam que a arte ajuda em vários quesitos, como a comunicação, o potencial criativo, e a socialização. “Não consegui mais largar. É um vício muito bom, me ajudou em várias coisas, principalmente na minha formação como ser humano. Hoje, não me vejo mais sem a arte na minha vida, é algo totalmente necessário, me traz bem estar e eu amo o que eu faço”.

Sobre as apresentações teatrais, Maganha comenta que ainda hoje há um certo nervosismo. “Até hoje, sinto um frio na barriga e nervosismo. Mas, mesmo assim, é incrível. Uma sensação única, meio inexplicável, mas muito maravilhoso. Eu amo a ideia de me apresentar para várias pessoas, sentir a energia do palco e do público. Não troco por nada”.

A rotina dela é muito cansativa, mas, de acordo com ela, vale a pena. Segundo Letícia, a arte ajuda muito no desenvolvimento da criança. “Não somente na sua formação, mas também no jeito de interpretar as coisas e de se expressar. É essencial, principalmente para a interação com os colegas”.

Para ela, ficar sem se apresentar, na pandemia, foi como uma tortura. “Desencadeou várias crises. A arte é extremamente necessária pra mim, senti muita falta, não tinha a dança e o teatro pra me expressar, colocar pra fora os sentimentos, além de ficar sem sentir a energia do palco, o carinho e os aplausos do público, sem nenhum contato com as pessoas”.

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