Reportagem: Eduardo Vaz

Entenda como é a técnica utilizada e para quais transtornos ela é indicada

A hipnoterapia, tratamento que utiliza as técnicas de hipnose com fins terapêuticos para ressignificação mental de transtornos, traumas e dores emocionais, vem crescendo exponencialmente em todo o Brasil. Segundo uma pesquisa do Instituto OMNI Brasil, que forma profissionais especialistas nestas técnicas em todo o mundo, no ano de 2019 quase 120 mil brasileiros já haviam passado por uma sessão de hipnose. Destes, mais de 96% já haviam buscado outras formas de tratamento e 45% tiveram as queixas resolvidas em até duas sessões de hipnose. Mas como funciona este tratamento?

A hipnoterapeuta, psicóloga e doutoranda em psicanálise Eliete Falcão afirma que há hipnose desde que o ser humano existe mas, como ciência e processo terapêutico, vem sido estudada junto com a psicologia. “Infelizmente criou-se muita mística e crenças erradas com relação a essa ferramenta poderosa, por isso é muito importante saber analisar o conhecimento profissional de cada terapeuta”, explica. Segundo ela, a hipnose, como terapia, vem sendo difundida há cerca de 12 anos “apenas”, e, apesar de muito disseminada no Brasil e no mundo, em Ponta Grossa o trabalho ainda é muito recente. Ela explica que, devido à pandemia, a procura cresceu de maneira significativa. “Confesso que esse ano, talvez devido à pandemia, a procura cresceu tanto no presencial como no online, mas ainda considero baixo o nível de conhecimento, tendo em vista os benefícios para a saúde mental”, pontua.

A terapeuta explica que a hipnose é um estado natural da mente e o ser humano entra em ‘estados hipnóticos’ várias vezes no dia, sem ao menos se dar conta. “Isso porque hipnose é, simplesmente, um foco intenso foco e concentração em algo, ao ponto daquilo tornar-se real para a mente subconsciente. Um exemplo: quando assistimos um filme e nos emocionamos, sentimos medo, choramos. Conscientemente sabemos que é somente um filme, mas nosso subconsciente sente todas as emoções durante e, inclusive, depois trazendo imagens e lembranças desse filme. Na hipnoterapia usamos a mesma ferramenta, mas com fim terapêutico, para ajudar a pessoa a resolver seus conflitos emocionais”, diz. Segundo ela, todo mundo pode ser hipnotizado, porém nem todo mundo se permite atingir o estado mental. “É preciso o paciente permitir, ou seja, não adianta levar o filho para hipnoterapia se ele não quiser passar pelo processo”.

Dos tratamentos mais buscados pelos pacientes, a profissional afirma que a ansiedade vem em primeiro lugar. O dado é confirmado pelo levantamento da OMNI Brasil, que aponta que 21% dos entrevistados buscaram tratar a ansiedade. “Principalmente adolescentes buscam por isso, mas qualquer dor, desde que seja emocional, pode ter melhora significativa com o auxílio da hipnoterapia. Depressão, fobias, síndrome do pânico, baixa autoestima, timidez, dependência química, dependência emocional, crenças limitantes, traumas de infância, abuso, relacionamentos tóxicos, crises em geral, ou seja, tendo cunho emocional, poderá ser atendida por um hipnoterapeuta”, conta. Mas atenção: Eliete aponta a importância de continuar com outros tratamentos simultâneos à hipnose. “É muito importante aqueles que estão tomando medicamentos, que são acompanhados por psiquiatras, continuarem o tratamento, pois a hipnoterapia é apenas uma terapia complementar nesses casos”, reforça.

Conforme o levantamento OMNI Brasil, as mulheres são a maioria na busca pela hipnoterapia. Elas representam 62% do público geral, contra 38% dos homens. Além das tradicionais sessões presenciais, já é possível realizar o tratamento de maneira remota. “Depende muito do profissional, do seu conhecimento, do nível de abertura e esclarecimento do paciente sobre o processo terapêutico e o caso.  Mas sim, é perfeitamente possível após a verificação das condições (internet, local) e uma anamnese (processo de avaliação do caso do paciente) bem feita”, explica Eliete.

O empresário João Diniz, que já passou por um processo de hipnoterapia, explica que, mesmo quase dois anos após as duas sessões contra a insônia, até hoje tem o sono regular. “Sou bom de cama, deito e durmo”, brinca. “Após as sessões parece que desbloqueei algo que fazia com que meu sono fosse totalmente agitado. Já na primeira sessão senti diferença e, a partir da segunda, não houve dúvidas de que o problema tinha sido resolvido. Não era físico, eram questões emocionais que me faziam ter problemas para dormir, o que diminuía meu rendimento durante todo o dia”, conta.

O empresário faz parte do grupo que mais busca o tratamento com hipnose, segundo a OMNI Brasil. O levantamento mostrou que 96,6% já haviam buscado outros tipos de tratamento; 41% deles possuem entre 31 e 40 anos e 45,5% deles tiveram as queixas resolvidas em apenas dois atendimentos.

As sessões de hipnoterapia podem variar conforme cada paciente e profissional. Eliete explica que desenvolveu um método de quatro sessões que costumam durar em torno de 1h30 de maneira presencial e uma hora online. “Primeiramente faço uma anamnese online de forma gratuita para verificar o problema da pessoa, se vou poder ajuda-la e também para tirar todas as suas dúvidas. Somente depois marco as sessões. São quatro sessões, com uma sessão por semana e, entre as sessões, sugiro áudios de auto-hipnose diários personalizados para cada paciente” revela.

Entre as perguntas mais respondidas pela terapeuta estão o risco de ficar em transe para sempre, a terapia com crianças e se o paciente dorme durante o processo. Confira:

CRIANÇAS PODEM SER HIPNOTIZADAS E PASSAR POR TERAPIA?

Resposta: Sim, podem, pois a mente infantil é totalmente subconsciente e ainda mais fácil de trabalhar com o lúdico e o imaginário, mas precisa ser um profissional especializado em crianças, devidamente autorizado e formação necessária, um psicólogo infantil, nesse caso a partir de quatro anos.

EXISTE O ‘RISCO’ DO PACIENTE FICAR EM TRANSE PARA SEMPRE?

Essa é a causa de muitas pessoas terem receio de buscar um hipnoterapeuta. Não existe risco nenhum de ficar em transe para sempre até porque o transe é apenas um estado da mente. Durante a hipnoterapia o paciente ouve o terapeuta o tempo todo e sabe muito bem onde está. Ele apenas está relaxado para que sua mente subconsciente aceita as sugestões com mais facilidade. Estando nas mãos de um profissional capacitado a pessoa terá uma boa explicação e se sentirá segura, isso facilita muito o processo.

O PACIENTE DORME DURANTE A HIPNOSE?

Não. O paciente permanece acordado durante toda a sessão. Ele precisa estar ouvindo o hipnoterapeuta o tempo todo para que aceite as sugestões e o processo terapêutico funcione. Apesar de mexer com um estado da mente, causar muitas dúvidas e aguçar a curiosidade, a hipnose e a hipnoterapia não possuem relação com religiões ou quaisquer grupos ideológicos ou crenças. “Elas são totalmente cientificas, não tem nada a ver com crenças, religiões, nem espiritismo ou vidas passadas. Claro, a maioria dos pacientes têm suas crenças religiosas, por isso reforço sempre a importância do conhecimento. Na verdade, algumas religiões têm muito de hipnose, só que não chamam de hipnose”, revela Eliete.

A hipnoterapeuta acredita que a busca pelo tratamento com a técnica ainda é baixa devido ao “medo do desconhecido”. Ela reforça a importância dos cuidados mentais. “Muitas pessoas estão sofrendo e não são capazes de reconhecer isso. Assim como nosso corpo, também nossa mente precisa de cuidados. A Hipnoterapia é uma terapia breve, prática, simples, super eficiente e benéfica em várias áreas da mente, mas infelizmente muitas pessoas preferem fazer de conta que nada existe ou tomar medicamento a vida toda, do que se encarar, se deparar com as reais causas e raízes emocionais dos seus sofrimentos”, diz. “Eu fico feliz quando recebo adolescentes porque logo penso: um adulto problemático a menos. Quando recebo pessoas com mais 50 anos também fico feliz por que nunca é tarde para se resolver e se encontrar, mas aí são eles, ao final da terapia que se questionam: porque não procurei a Hipnoterapia antes?”, conclui.

 

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