Por: Alan Cristian/5.º Período

Na comunidade dos fãs de quadrinhos, há quem concorde e quem não concorde com as mudanças de seus personagens favoritos, porém há algumas exceções. Os amigos Flávia Pedro da Silva e Gabriel Dias Mattos, concordam ser normal haver tais mudanças que trazem uma maior representatividade nas histórias.

No entanto, os descontentes também estão presentes. Houve um caso onde o jogador de vôlei Mauricio Souza, foi demitido por fazer comentários homofóbicos, por conta da bissexualidade do personagem Jonathan Kent, o filho do Superman, que aparece na quinta edição de Superman Son of Kal-El. Em uma matéria do site Omelete (Não faria sentido Jon Kent ser outro salvador hétero, diz Tom Taylor), postada no dia 19 de novembro, o escritor que assina os roteiros, Tom Taylor se explicou. “Desde o primeiro quadrinho que eu escrevi, falei que todos merecem heróis e todos merecem se enxergar em seu herói. E o Superman não é diferente. Quando chegou a hora e a DC me pediu, eles perguntaram se eu estaria interessado em escrever Jon Kent como Superman. Eles sabiam que escrever o Superman era meu sonho desde sempre, mas se eu faria isso, eu precisava descobrir por quê”, relatou Taylor.

Em uma entrevista encontrada no site da Caltech, postada no dia 8 de setembro de 2019, o psicólogo Rodrigo Casemiro comentou o tema. “A pessoa se sente pertencente. Sente-se reconhecida, sua subjetividade e seu modo de ser não são excluídos, a diferença é a peculiaridade de cada um e há este sentimento de pertencimento. A autoestima pode ser fortalecida, por conta da sensação de acolhimento, de que somos enxergados. A autoestima é o valor que damos a nós mesmos, mas também recebe influência da maneira como somos vistos, e se somos representados por personagens, ficcionais ou reais, isto é muito positivo para os aspectos psicológicos”, falou.

Segundo a escritora do site Legião dos Heróis, Flávia Pedro relatou. “o próprio Stan Lee, criador de vários heróis da Marvel, citou que as histórias fictícias e o universo dos quadrinhos são um reflexo do nosso mundo, e assim como o mesmo, a diversidade deve ser um aspecto trabalhado. Sendo intolerável em ambos a falta de representatividade e a ausência de pessoas que existem e resistem diariamente”, destacou.

(Imagem:Vixen Rebirth #1, Dc Comics/JamalCampbell)

Para Flávia a inserção de minorias nos quadrinhos depende da relação entre o autor e a obra. “Acredito que dependa muito da relação entre autor e obra. Um exemplo recente é a personagem Núbia, da HQ do mesmo universo da Mulher-Maravilha que inseriu como protagonista uma mulher negra (que dá nome a obra). Ela é a próxima rainha das amazonas fora Diana.A autora inseriu também uma personagem negra trans e afirmou de maneira oficial que existem mulheres trans na ilha de Themyscira, o lar das Amazonas.

Isso pode soar como “lacração”, mas essa inserção é reflexo da própria criadora da história. Steph Williams, a autora de Nubia também é uma mulher negra e que, ao explicar a criação da personagem, diz que a ideia surgiu de conversas com sua companheira de criação e escritora Vita Ayala, que é trans e não-binária. As duas queriam criar uma história que representasse todas as mulheres, “deixando claro que Themyscira é um lugar para todas as mulheres”, disse.

Flávia aponta que há sim uma estratégia de marketing por trás da representatividade nas histórias. “Claro que há um olhar capitalista nisso, assim como há em todas as áreas, pois, é nesse sistema em que vivemos. Eles já construíram um império entre um público que é majoritariamente masculino, branco, hétero e classe média, estão vendo oportunidade de expandir seu mercado com novas pautas surgindo e é claro que isso tem relação com seus lançamentos mais recentes. Casos como o filho do Super-homem ser bi e oficialmente namorado de outro homem, o filho do Batman, e também a Mulher Maravilha… Tudo isso afirma um reflexo do que o capital desse público pode trazer de benefício para as empresas”, declarou.

Flávia também ressalta o motivo do público questionar sobre as coisas mostradas, junto das reações negativas. “Suponho que pela necessidade de sempre dar a opinião sobre tudo o tempo todo, e a internet amplificou isso. Não acredito que seja só pelas HQs, isso acontece em vários âmbitos, mas sobre HQ acho que entra a questão de ter visto os heróis em animações infantis quando eram crianças e isso reflete na vontade de comentar. Super-Homem sempre foi um exemplo de força e masculinidade, quem cresceu com essa referência fica indignado quando vê o Homem de Aço beijando outro cara e assim por diante”, explicou.

Já Gabriel relata que parte do público já acostumou com tais inserções. “O público das HQs já aceita, com mais facilidade que outros públicos, minorias protagonizando as histórias. Basta observar o sucesso de revistas como a Ms. Marvel (Kamala Khan) e Homem-Aranha (Miles Morales). A maior resistência parece ser as diversas sexualidades, mas mesmo essas acabam resultando em vendas astronômicas em suas primeiras edições, como aconteceu com os personagens Tim Drake (Robin) e Jon Kent (Superman). Aos poucos, histórias mais diversas vão atraindo novos leitores, o que renova a base de fãs das obras para um público mais aberto”, expôs.

Mattos também descreve os visuais modernos das personagens das histórias. “Mulheres compõem uma parte considerável do público contemporâneo de HQs, logo é compreensível que as histórias reflitam melhor a sua realidade. É uma necessidade do mercado que resultou em uma tentativa de trazer um viés mais realista no design das personagens, que satisfaça todo o público realmente interessado nas histórias. Um exemplo recente é a Capitã Marvel (Carol Denvers)”, conclui.

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