Por: Eduardo Pereira Vaz

Carinho, compreensão e senso de bem-estar  podem vir dos bichanos durante o isolamento social

“Ter eles ali para brincar, conversar e até desabafar nos momentos mais tensos foi essencial!”. É assim que Camila Delgado descreve a relação dela com os dois gatos de estimação durante a pandemia de Covid-19. Nico e Ollie foram a única companhia presencial da jornalista nos primeiros meses do isolamento social imposto pela onda do coronavírus. Assim como para ela, os bichinhos de estimação, em especial os gatos, passaram a fazer parte de um número maior de lares brasileiros. Com temperamento, muitas vezes, descrito como individualista e antissocial, o gato pode ser a companhia perfeita para quem, humanamente, vive só.

Uma pesquisa realizada em abril pela Radar Pet 2021 mostrou que houve um aumento de 30% nas adoções de animais, em todo o Brasil, durante o isolamento social. E acredite! A adoção de felinos superou a dos cães, até então os preferidos pelos adotantes. Foram entrevistadas 750 pessoas, em todos os estados da federação, e o levantamento apontou que 84% dos bichanos para adoção ganharam um novo lar, contra 54% dos cães.

Para a veterinária Cristiane Trentim, os gatos podem ser uma excelente companhia, desde que eles se sintam amados pelos tutores. “Gatinhos são excelentes companheiros, amorosos, de personalidade forte, mas extremamente carinhosos quando se sentem amados e acolhidos”, conta. Ela reforça características comuns à espécie. “São leais, fortes, ágeis, dotados de grandes reflexos, sentidos apurados e instinto de caça”, explica.

Para o psicólogo João Paulo Santos, tutor de três bichanos, é inegável o carinho que um animal de estimação pode proporcionar. “Para uma vida saudável, ter a companhia deles agrada muito porque eles vêm e trazem essa presença. Não é uma presença exigente, exceto pela necessidade de cuidados, e eles são empoderados e independentes. Mas quando você tem um bom vínculo com seu bichinho, eles também cuidam de você”, diz.

Outro estudo, realizado no Reino Unido com mais de 5 mil pessoas por pesquisadores das Universidades de Lincoln e Nova York, mostrou o impacto da pandemia no comportamento dos animais domésticos. O levantamento apontou que os gatos ficaram mais afetuosos durante o período do isolamento social. O psicólogo conta que este afeto e a sensibilidade do gato podem fazer diferença no sentimento de solidão do tutor. “O gato vê que o ser humano não está bem e muitas vezes ele mesmo já vai providenciando cuidado, um agrado, uma massagem. Eles sobem no colo e trazem uma retribuição daquilo que o dono já proporcionou para ele. A companhia deles é ótima, muito saudável, faz bem para a saúde mental e é muito recomendada para que esteja passando por um período de solidão”, reforça.

Tutora de Nico e Ollie, que, aliás, ilustram esta reportagem em uma galeria de fotos especial do seu dia a dia, Camila explica que mora em um apartamento pequeno e, com a presença constante em casa desde de março de 2020, houve o estranhamento por parte dos bichinhos no começo da nova convivência. “Ficaram mais agitados e queriam atenção a toda hora, mas depois foram se acostumando. Aí, o problema foi quando voltei a trabalhar presencialmente. Foi uma nova adaptação comigo estando pouco tempo em casa”, conta.

E a volta ao presencial ou a um modelo híbrido precisa, sim, de um novo período de adaptação. “Ao chegar em casa, dê uma atenção maior nestes primeiros dias. Leve petiscos, brinque, mime o seu gatinho compensando ele o tempo que você ficou longe. Ele merece! Assim vai acostumar com a nova rotina”, explica a veterinária.

Independente da pandemia, o psicólogo afirma que a interação com os gatos não substitui a interação humana, mas que ela diminui consideravelmente o senso de solidão. “Não vamos pensar que eles são substitutos para as pessoas. O contato humano deve se sobressair. Mas a presença do bichinho contribui para que a pessoa não se perceba como sendo solitária, além de trazer alegria e muito senso de bem-estar”, reforça.

Seja para quem mora sozinho ou deseja a companhia de um bichano, Camila revela que Nico e Ollie são parte da família e, como o carinho deles no final do dia, não tem igual. “Eu, como uma gateira, posso dizer que gatos são terapêuticos. Chegar em casa depois de um dia cansativo ou estressante e ganhar o carinho deles faz toda a diferença”, conclui.

Fotos: Camila Delgado / Arquivo Pessoal

 

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