Foto: Eduado Pais (montagem cenográfica)

Devido ao isolamento social as vítimas se tornaram alvo fácil, na maioria dos casos a agressão começa dentro de casa por seus companheiros.

                     Por Bruna Matos, Dulce Pais

 

A pandemia causada pelo Covid-19 fez os casos de violência doméstica contra mulheres ter um aumento significativo em 2020. Uma matéria do G1 mostra um levantamento das denúncias feitas no Ligue 180 e no Disque 100 publicado em março desse ano que aponta mais de 105 mil casos no Brasil. Em Ponta Grossa um comparativo feito entre janeiro e outubro de 2020 apontou um aumento de 33,78% em relação a 2019, nesse período de nove meses o Núcleo Maria da Penha (Numape) atendeu 254 mulheres, já no ano anterior foram 190 atendimentos.

Isso ocorre porque durante o isolamento social as vítimas estão ainda mais expostas as agressões. A presença do agressor no mesmo ambiente e a falta de informações sobre como proceder com o Boletim de Ocorrência em meio à pandemia, são alguns dos fatores que impedem as mulheres de pedir ajuda, e apesar dessa dificuldade o número de denúncias foi alto no último ano.

A dona de casa Lucia Martins, de 46 anos, conta que sofre violência doméstica e agora com o marido em casa as agressões são frequentes. “Ele está alcoolizado quase todos os dias e quer me bater por nada, eu tenho cinco filhos com ele e quando isso acontece as crianças ficam enlouquecidas, não dou queixa do meu marido porque não tenho como trabalhar, se ele for preso não tenho como sustentar meus filhos”.

Segundo a assistente social que cuida do caso, Rafaela Base, situações como a de Lucia são frequentes e é necessário ter cautela e paciência para convencer a vítima a denunciar. “Não é tão fácil como imaginamos fazer uma denúncia, é preciso ter paciência para convencer a vítima a entender que a melhor coisa a se fazer nesse caso é denunciar e afastar os filhos de uma pessoa agressiva, e se isso não acontecer eles poderão sofrer consequências que provavelmente possa levar a algo grave como a morte”.

No Paraná foi desenvolvido o Botão do Pânico Virtual, uma ferramenta que com apenas três toques no celular a mulher vítima de violência doméstica pode acionar a Polícia Militar. O dispositivo passou a integrar o Aplicativo 190 no dia 12 de março e está disponível apenas para mulheres que possuem Medidas Protetivas de Urgência, concedidas através da Lei Maria da Penha. A Iniciativa é fruto de uma parceria entre o Tribunal de Justiça do Paraná, Assembleia Legislativa e o Governo do Estado, através das Secretarias de Segurança Pública, da Justiça, Família e Trabalho, Celepar e Polícia Militar.

Em Ponta Grossa existem serviços que as mulheres podem recorrer em caso de violência, abaixo você confere alguns deles e para o que cada um serve:

Núcleo Maria da Penha (NUMAPE): projeto de extensão da UEPG que realiza atendimento com equipe técnica especializada (advogada, assistente social e psicóloga). Podem ser solicitadas Medidas Protetivas de Urgência, além de prestar atendimento jurídico, social e psicológico gratuito.

Patrulha Maria da Penha: serviço municipal que visa à segurança da mulher. Atuam no monitoramento do cumprimento das medidas protetivas e realizam orientações sobre elas, prestam visitas em domicílio e interagem com o Poder Judiciário.

Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (DEAM): unidades da Polícia Civil que realizam o atendimento inicial à mulher em situação de violência. Lá é realizado o Boletim de Ocorrência, a solicitação de Medidas Protetivas de Urgência e o fornecimento de suporte policial em domicílio e realizam encaminhamentos à rede conforme a demanda.

Centro de Referência Especializado da Assistência Social (CREAS): serviço especializado da Política de Assistência Social. Realiza orientações e encaminhamentos a serviços da rede, presta atendimento humanizado com equipe de referência.

Casa Corina Portugal: fornecem o acolhimento institucional temporário à mulher vítima de violência e seus familiares, além de atuar com a identificação de demandas socioassistenciais para realização de encaminhamento a outros dispositivos da rede.

Disque 180: serviço telefônico criado para denunciar casos de violência contra a mulher. O atendimento é de 24 horas de forma gratuita, eles realizam o acolhimento da mulher, prestam orientações, encaminhamentos à rede e registram denúncias de situação de violência.

 

Foto: Dulce Pais

CONFIRA DEPOIMENTOS REAIS DE AGRESSÕES À MULHERES

REALIZADAS POR VÍTIMAS DE PONTA GROSSA

Declaração da vítima anônima

“Na noite anterior ao ocorrido havíamos discutido pelos mesmos motivos de sempre: mensagens de outras mulheres, traições, questões mal resolvidas, possessividade, ciúmes vindos da minha parte devido a confiança quebrada, autoestima abalada, filho pequeno, relacionamento baseado em competição e dependência emocional.

Quando acordamos continuamos discutindo, eu disse uma frase que deve ter soado como gatilho para ele que passou a quebrar o próprio celular, notebook, violão do nosso filho, coisas da casa, além dos xingos, gritos, olhar de louco, veia saltada, não aguentei ver isso e quebrei o violão dele, então surtou ainda mais.

Mais uma vez ele me jogou no chão, tentou me enforcar, me deu tapas no rosto e me trancou na garagem. Em algum momento dessa loucura quebramos um dos vidros da janela e enquanto eu estava trancada na garagem em tentativas, quase falhas, de me esconder atrás da roda do meu carro, que ele amassou com pedaços do violão quebrado, ele tentava me acertar com os cacos de vidro.

De repente ele parou e entrou na casa, como sempre estou com meu celular liguei para os pais dele contando o que estava acontecendo e eles falaram que estavam a caminho. Quando meu ex voltou, portava meu notebook cheio de fotos do nosso filho e meu TCC finalizado e corrigido sem estar salvo em outro lugar. Começamos a discutir pela janela, ele com meu notebook e eu presa na garagem, ele mandava eu implorar para que não quebrasse o notebook em meio a ameaças que quebraria. Eu só sabia chorar, implorar, gritar e xingar, até que ele apoiou o notebook na janela e o empurrou contra meu rosto.

Quando ele empurrou senti uma pressão no nariz, tentei respirar e engoli meu próprio sangue, olhei para o chão e via pingar e se espalhar nos meus pés e minhas mãos estavam manchadas. Ele me olhou assustado, então entrou na casa para guardar o notebook e pegou um pedaço de papel higiênico para limpar o sangue, gritei que estava presa e queria sair dali então só assim ele me soltou”.

 

DEPOIMENTO ANDREA SASSE

Por Bianca Haile

Eu achava que não iria acontecer dentro da minha casa e aconteceu

Ândrea Sasse e a violência doméstica: um relato real

Ândrea Sasse, apresentadora, Pedagoga, detentora de diversos títulos de beleza nacionais e um internacional.  Hoje aos 42 anos de idade  Ândrea Sasse foi vítima de violência doméstica e a resolveu quebrar o silencia e compartilhar sua experiência:

Neste relacionamento eu conheci  um pseudo príncipe encantado, um homem que me tratava imensamente bem, tratava minha família da melhor forma possível e que aparentava não ter nenhum tipo de macula. Era um homem perfeito que seria o ideal para ser o meu companheiro. Logo veio o pedido de casamento e eu aceitei.

No cartório ocorreu tudo da melhor forma possível. Já no início do casamento ele mostrou ser uma pessoa que não era no namoro, iniciou com agressões verbais, ofensas e humilhações. Na sequência, veio com as proibições, tanto para o meu trabalho quanto para amizades, as críticas constantes, o uso abusivo dos meus bens financeiros: do meu carro e do meu cartão de crédito.

Ele morava em minha residência e contribuía com o mínimo para a manutenção da casa. Ele me criticava em todos os aspectos, me diminuía sempre! Não me valorizava e não me apoiava. Num primeiro momento, enquanto namorávamos, ele queria me acompanhar, para mostrar que era parceiro, depois quando casados, sempre me tratava com desconfiança, falando coisas de baixo calão e fazendo analogia das piores, como “fulano te olhou, fulano comentou, é porque você quer ter algum tipo de vínculo sexual e afins.”

Fui aguentando a pressão psicológica e verbal, inclusive escrita, pois na época eu tinha inúmeras conversas no ‘whats’ com palavras realmente ofensivas e de baixo calão.

Houve um momento em uma discussão, no final do relacionamento, na qual ele me sacudiu e eu reagi gritando e então, ele teve um acesso de fúria e quebrou a porta da minha casa, causando um prejuízo material, além do físico e psicológico. Eu achava que não iria acontecer dentro da minha casa e aconteceu.

Eu sou uma mulher que sofreu violência doméstica e que teve condições de contratar um advogado e ir atrás de recursos mas, e quem não tem? às vezes não tem informação, às vezes tem medo e aí você vendo uma mulher mostrar, explicar, contar, faz com que as outras tenham coragem.

Neste período eu fui na delegacia e em fórum e eu vi que existe direito gratuito para quem não pode pagar advogado, eu vi que você não é criticada. Eu fui na Delegacia da Mulher e ninguém disse pra mim “mas você fez alguma coisa que fez ele te dar agredir? “. Em momento nenhum apontaram o dedo pra mim, eu fui acolhida e isso é muito importante.

A mulher tem que entender que ela pode sim quebrar ciclo de violência.  Ponta Grossa tem estrutura, na Delegacia da Mulher você vai ser acolhida, recebida, você vai ser instruída dos passos seguintes.

Judicialmente eu consegui resolver da melhor forma possível, teve litígio, mas hoje eu já sou uma mulher divorciada dele e toda parte financeira ele me pagou, ainda tem umas parcelas mas ele está honrando com o acordo feito judicialmente. Comigo foi feita a justiça.

Estou aqui firme e forte e quero compartilhar minha história com outras mulheres, falar que você não tem do que  ter vergonha, se você foi agredida, se você apanhou, se você foi humilhada, você tem que ter vergonha se você continuar aceitando.

Acho que dessa forma o feminismo pode agir de verdade, eu acho que o verdadeiro empoderamento feminino é esse, as mulheres lutando por outras mulheres e pela mulher que não tem forças para lutar por ela mesma

Então mulherada que está lendo, agressão física é inaceitável em qualquer estágio de relacionamento, em nenhum modelo.”

 

 

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By admin

690 thoughts on “Violência contra a mulher cresce durante a pandemia”
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