Por Dani Ribeiro

Quem é o presidente teimoso que não desiste do quase centenário clube do Olinda?

Em 2022 o Olinda Esporte Clube completará 100 anos. É um senhorzinho cheio de história na bagagem, com títulos e momentos de glórias, mas também com muitas dificuldades. Nesse trajeto foi necessário muita paixão e força de vontade de algumas pessoas para que o clube que faz parte da história do esporte ponta-grossense não fechasse suas portas. Um desses personagens, é o contador Ricardo Luiz Guandeline, atual presidente, e que desde moleque já frequentava o campo do Olinda.

Ricardo é filho de Alcebíades e Laura Guandelini, o pai foi militar e funcionário do Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (DNER), e a mãe sempre foi dona de casa. A criação era rígida e na infância, junto com os pais e os quatro irmãos, Ricardo passou por algumas dificuldades. O melhor momento para ele era a hora da de brincar de bola na rua com os amigos.

“Escolinha? Não, existia. O que tinha era a rua e os campinhos em cada esquina, a única diversão era futebol. Estrutura nenhuma, nem bola,nem uniformes. A pobreza era grande em todos os sentidos. Muito menos alguém como técnico orientador. Única instrução que tínhamos era dos professores na escola. O resto a gente se virava. Limpando lotes, vendendo sorvetes, lavando carros e limpando jardins. Isso era nossa infância. E brincar de bola na rua”, relembra Guandeline.

Estádio 1

Em 1977, a brincadeira começou a ficar séria quando Ricardo e os amigos foram ‘percebidos’ enquanto jogavam no Time dos Comprinhas, na Igreja São Judas Tadeu em Olarias. “O saudoso senhor Afonso nos viu jogando futebol e nos convidou para jogar no Dente de Leite – time da base do Olinda – e assim começou minha história”, comenta Guandeline.

No Dente de Leite a estrutura era simples, o técnico Toniquinho dava uma bola e os meninos faziam um racha aos sábados à tarde, depois era jogo. Ricardo era meia esquerda, mas na fase adulta, quando jogou profissionalmente no Taboão da Serra, em São Paulo, foi transferido para o ataque. A escolha pela carreira de jogador desagradava seu Alcebíades. “Meu pai dizia que futebol era coisa de vagabundo. Foi difícil esse relacionamento”, recorda o ex-atleta.

Mesmo sem estrutura e apoio familiar, ele decidiu tentar, e ficou dois anos atuando como profissional em São Paulo. Quando questionado se era bom em campo, Guandeline diz que enganava bem. “Olha, sempre quando me perguntam isso eu digo que nunca fui craque, mas inteligente. Um bom arroz e feijão com um ótimo tempero. Fiz minha parte”, explica o presidente do Olinda, que depois decidiu estudar e trabalhar em outras atividades, movido principalmente pelas dificuldades financeiras.

Olinda

Ao retornar para Ponta Grossa, Ricardo se reaproximou do clube que já teve tempos de grande popularidade na cidade. Ver o Olinda jogar era o programa da comunidade no bairro de Olarias. Em seus melhores momentos, o alviverde conquistou muitos títulos, alguns, nos períodos em que era presidido por Guandeline. Entre um mandato e outro foram 12 anos como presidente e 16 títulos. O mais inesquecível para ele, foi em 1994. “Categoria adulto. Meu primeiro título como presidente. Invicto e com o clube desacreditado e sem títulos há 17 anos […] E ainda joguei a primeira partida desse campeonato a pedido do técnico na época, mas não segui junto com o elenco, pois, achava que seria mais útil como presidente e não queria misturar as coisas”, recorda o Olindense.

Novamente na presidência, Ricardo que também já atuou como técnico, faz o que pode para ajudar o Olinda, inclusive tirando dinheiro do próprio bolso. Os recursos também vem de 30 sócios, alguns colaboradores, e da locação do campo do Estádio André Mulaski. Uma parceria com o Operário, que mantém uma base da sua escolinha no local, ajuda na manutenção da estrutura. O Olinda também possui uma equipe disputando o Campeonato Amador de Futebol de Ponta Grossa.

ESTADIO 2 Olinda Amador

Olinda Amador

No dia a dia, além de amigos das antigas que também não desistem do Olinda, Guandeline conta com os três filhos, Raphael, Giglio e Enzo, que aprenderam a amar o alviverde. “Meus filhos são meus parceiros. Estão sempre comigo, jogando e ajudando no comando”, explica Ricardo.

Com a pandemia, a situação que era difícil, ficou pior, mas com os campeonatos retornando, as coisas aos poucos vão se normalizando. Nada que desanime o presidente que acredita que o amor pelo clube e sua teimosia são o combustível que não o deixam desistir.

“Não dá para deixar morrer sua história de quase 100 anos. Mesmo pelo pouco caso que muitos têm pelo clube. Pela falta de sensibilidade e pobreza de espírito pecuniária de muitos ditos seres humanos, enquanto estiver vivo, vou lutar por esse clube e quero manter sua história viva e forte na mente de muitos”, finaliza Ricardo.

 

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By admin

1.518 thoughts on “‘Enquanto estiver vivo vou lutar por esse clube’, diz Ricardo Guandeline”
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