Marcas desenvolvidas por mulheres jovens visam o consumo consciente e contribuem para a economia local

Por Mayara de Pontes

As mulheres estão conquistando cada vez mais lugares, antes ocupados majoritariamente por homens no mercado de trabalho. Atualmente na cidade, é possível encontrar muitos produtos feitos por mulheres jovens, de forma independente e marcas desenvolvidas com consciência social.

A estudante de psicologia e criadora da marca Tosca Studio, Nicole Gonçalves de Almeida, 22 anos, conta que pessoas jovens inseridas no meio empresarial é um diferencial. “O mercado está cheio demais do mesmo, de capitalismo exacerbado no marketing, consumismo sem consciência. Eu nunca quis trabalhar assim. Acredito que o diferencial seja esse, o público mais jovem está mais disposto a empregar o consumo sustentável e consciente”, afirma.

A criação da marca Tosca Studio, que é do setor têxtil, teve como motivação o desemprego e a necessidade de tempo para estudar, além de um desejo antigo de trabalhar com moda. “A Tosca Studio nasce primeiramente do desemprego e falta de tempo para um emprego CTL convencional por ser estudante de psicologia e também por um conjunto de motivações que fazem parte da minha trajetória, uma delas parte de um sonho de poder trabalhar com moda e criatividade, por ser mulher gorda tive esse direito negado pela indústria por muito tempo, a vontade de entrar no mercado e fazer minha parte nessa causa, sempre fez parte de mim”, relata.

A marca está atuando há cinco meses, mas antes do seu lançamento, Nicole passou sete meses estudando o mercado. A Tosca Studio trabalha dentro do conceito Slow Fashion, que é uma alternativa socioambiental mais sustentável no mundo da moda e prioriza o local e não o global mantendo a produção entre pequena e média escalas.  “O principal conceito da marca é o Slow Fashion, fazendo pequenas produções e incentivando trabalhos de outras mulheres, costureiras, artistas e bordadeiras. Todos os processos realizados apoiam trabalhos de pequenos produtores, para auxiliar na renda de suas famílias”, explica.

Os cuidados durante a produção também partem da preocupação com o meio ambiente. “Não uso plástico nas embalagens, dou preferência ao algodão por ser mais sustentável”, completa.mayara NicoleFoto de Nicole: “Foi um grande medo quando lancei a marca, medo de não vender nada. Mas foi justamente o oposto, a cidade está cheia de gente massa para abraçar as causas que trabalho. Tem sido lindo.”

A fotógrafa Martha Raquel de Souza Batista, 27 anos, possui uma marca de T-shirts para amamentação e camisetas infantis, a Tetêt’s Store. Fatores como a pandemia, que prejudicou diretamente o exercício da sua profissão, foram aspectos determinantes para a realização da marca. “Fiquei afastada por bastante tempo do trabalho com fotografia, com o qual retornei recentemente, a atual conjuntura me fez ter tempo para a ideia, me conectar com as pessoas certas, desenvolver o conceito, as estampas, enfim, concretizar a ideia da marca”, conta.

Outro aspecto que contribuiu para o desenvolvimento da marca foi a experiência da maternidade. “Primeiramente sou mãe que amamenta, acredita e apoia a amamentação em livre demanda, plenamente consciente dos benefícios do leite materno, tanto para o desenvolvimento físico, quanto emocional da criança. Eu e meu filho seguimos em amamentação prolongada, ele vai completar 3 anos, então sei da necessidade que temos de vestir algo confortável e que ao mesmo tempo que facilite esse momento seja onde for”, explica.

Os propósitos vão de conforto e praticidade para as mães nutrizes, até a importância de trazer esse assunto para conscientização social, conforme Martha. “Além de vender roupas, (a marca) tem como objetivo trazer informação de qualidade e que possam contribuir de formas positivas para o aleitamento materno. Trazer esse tema como pauta é importante para a sociedade em muitos níveis”, diz. mayara MarthaFoto de Martha: “Uma roupa de personalidade e inclusiva, pois é pensada para nutrizes e também para crianças e mulheres que se identifiquem com as mensagens passadas através das artes estampadas.” 

A Zitago é uma marca de acessórios confeccionados artesanalmente pela bióloga Juliana Machado Gomes, 24 anos, inicialmente a confecção das peças teve um propósito terapêutico e de aprendizado do macramê, que é uma técnica de tecelagem manual. “A criação da marca aconteceu de uma forma natural, posso dizer até meio que por acaso. Eu comecei fazendo colares em macramê por curiosidade e como uma terapia também, então passei a presentear amigas com eles. Algumas pessoas demonstraram interesse de comprar e passei a vendê-los”, conta.

Um ano depois desse início houve a ascensão da Zitago como propriamente uma marca, em um evento local. “A consolidação da marca aconteceu no evento Varal das Mina, que é uma feira onde muitas mulheres empreendedoras da cidade expõe seus trabalhos, cada participante tem extrema importância para o fortalecimento uma da outra. Existe a troca nas conversas, experiência e clientes, a gente aprende demais sobre empreender e sobre a vida”, declara.

Toda a produção das peças se enquadra no conceito de conscientização ambiental e consumo consciente. “Trabalho com produção mínima de lixo, a preocupação nas embalagens de nunca usar plástico, uso saquinhos de algodão que demoram pouco para se decompor e a pessoa pode usar de diversas formas e os cartões com instruções de uso são sempre de papéis reciclados. Acredito também que a forma de estimular o cliente a comprar tendo consciência sobre a peça que está adquirindo, é um jeito de ir contra o consumo e descarte rápido de produtos”, diz.

mayara JulianaFoto da Juliana : “Meu trabalho é artesanal, onde cada peça é construída com toda a minha atenção, diferente de um processo de superprodução.

Um termo tipicamente ponta-grossense, deu origem ao nome da marca de calçados femininos da NathasjaRotter, 24 anos. “Eu sempre curti a expressão ‘de fianco’ que é típica aqui de Ponta Grossa. E aí percebi que apenas ‘fianco’ era um nome forte e que nenhuma marca tinha utilizado. E aí remetente a expressão ‘de fianco’, a logo leva três traços diagonais ao fundo”, conta Nathasja.

A Fian.co está atuando desde agosto desse ano e conta com a colaboração inteiramente familiar de Nathasja. “Minha mãe me ajuda com o estoque e as embalagens, meu namorado auxilia com os vídeos e fotos, meu irmão faz a contabilidade e meu pai ajuda na coordenação geral da empresa”, relata.

A marca foi elaborada para ter uma atmosfera jovial e trazer um conceito diferente do que a cidade já possui. “Minha ideia desde o começo era que a Fian.co fosse uma marca jovem, estilosa e principalmente responsável com nossos valores, nossos clientes, com o consumo consciente. Então eu queria trazer para Ponta Grossa calçados que eu não via para vender aqui e queria colocar muito cuidado em todos os detalhes”, relata.

Nathasja já planejava a marca desde 2014, com a pandemia teve mais tempo para pôr a ideia em prática, porém relata as dificuldades de ser empreendedora e acredita que seu trabalho pode servir de incentivo para outras mulheres. “Como mulher, gerir meu próprio negócio é um grande orgulho. Nós sabemos os desafios específicos que temos no mercado de trabalho e empreendendo eles não diminuem. É uma batalha para se fazer respeitada, mas vale a pena. Vale a pena fazer esse trabalho justamente para o consumo de outras mulheres e até para quem sabe fazê-las acreditarem que também podem ter seus próprios negócios”, declara.mayar NathasjaFoto de Nathasja: Fico feliz de fazer parte desse movimento, de pequenos negócios, de empreendimentos femininos e de uma moda mais responsável. 

Velas, cosmetologia natural e aromaterapia são os produtos terapêuticos com os quais a marca Cálida trabalha. A marca é gerida pela bióloga Ana Luiza Araujo Campos, 24 anos, que parou um mestrado e resolveu investir em outro ramo profissional. “Não estou trabalhando esse ano e interrompi um mestrado, estava querendo explorar novas possibilidades de carreira. Aí resolvi fazer velas para mim, gostei e achei que poderia vender”, diz.

A marca é vegana e tem como proposta ser sustentável, Ana acredita que marcas com esse conceito podem ter uma relação de maior proximidade com as pessoas, maior responsabilidade na produção e ajudam na economia local. “Eu acho que as marcas independentes têm uma relação mais direta com o público alvo, tendem a ser mais inclusivas, mais preocupadas com questões de sustentabilidade e diversidade. Elas oferecem uma alternativa ao consumo de marcas grandes sem responsabilidade socioambiental e excludentes, sem falar que realmente ajuda o comércio local e apoio o trabalho de pessoas que estão tentando trabalhar com um propósito”, finaliza.

mayara Ana LuizaFoto de Ana Luiza Araujo Campos: “Queria que essa marca incorporasse valores que eu prezava em outras marcas como sustentabilidade e apoio a economia local.”

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