Uma planta que ainda não é legalizada no país, acabou tornando-se o medicamento que trouxe alívio para uma família pontagrossense.
Legalizar a maconha, ainda que para fins terapêuticos, é um grande avanço, principalmente para a medicina. A maconha pode ser considerada uma das drogas que alteram a percepção de quem a consome, mas acabou tornando-se a solução mais eficiente e alternativa para famílias no alívio de doenças graves, por meio de uma substância chamada Canabidiol (CBD).
O canabidiol é uma das substâncias presentes na flor, Cannabis Sativa, que atua no sistema nervoso de pacientes, ajudando a tratar doenças psiquiátricas e neurodegenerativas, como esquizofrenia, mal de Parkinson, epilepsia e até mesmo ansiedade.
Há algum tempo, Maria Aline Gonçalves, mãe de Victor, ouviu falar sobre uma forma de tratamento a base de CBD para crianças epilépticas e desde então passou a questionar alguns médicos que não demonstraram interesse nessa forma de medicação. “Em 2015, encontrei o médico Ivan Cury, que me disse que essa forma de tratamento seria possível para o Victor”, completou Maria Aline.
Maria Aline conta que na época Victor precisava fazer uma cirurgia, mas que ela se recusava a iniciar tal processo, até que uma médica de Curitiba lhe passou o contato de outra mãe que sofria com o mesmo problema e encontrou uma maneira de conseguir o medicamento para seu filho. “Eu entrei em contato com essa mãe e ela me falou sobre a forma nacional e importada de conseguir o remédio, as duas de maneira ilegal”, diz Maria Aline.
A partir desse processo de busca, Maria Aline conheceu a Associação Brasileira de Apoio Cannabis Esperança (ABRACE), que está localizada na cidade de João Pessoa, capital da Paraíba, e é responsável por mandar o medicamento a mais de trezentas famílias em todo Brasil. O diretor-executivo da associação, Cassiano Teixeira, conta que a grande busca pelo tratamento se deve aos pacientes com epilepsia. “Sem dúvida 70% da busca pelo óleo é o tratamento da epilepsia; Alzheimer, Parkinson e dor dividem o restante das vagas”, diz Cassiano.
As buscas para aprimorar tratamentos estão sendo testadas. “Temos atendido médicos neuropatas e testado em pacientes com dor, veem sendo um sucesso. Já o autismo, nós começamos a testar este ano, e também estamos tendo uma boa resposta”, explica.
Um grande movimento
Em Ponta Grossa, o acadêmico de turismo, Tarso Felipe, foi um dos responsáveis pela organização da primeira marcha em prol da legalização na cidade, sendo também a primeira a acontecer no país este ano. “Um dia antes da marcha, tivemos a sorte da juventude do PSOL proporcionar uma mesa aberta, com a participação do Fernando Silva, o Profeta Verde. Então aproveitamos a efervescência do momento para já engatar a marcha, que foi a primeira no interior do Paraná”, completou Tarso Felipe.
Tarso ainda falou sobre os ganhos que a medicina vem proporcionando, mas também questiona os mesmos. “Há pouco menos de um mês a Anvisa liberou o plantio para algumas instituições como, por exemplo, a ABRACE, onde a Maria Aline pega o remédio para o Victor. Isso foi um grande ganho para causa, mas ao mesmo tempo que o STF deu esse ganhou, eles emitiram uma nota dizendo que a importação de sementes vai ser proibida, ou seja, ao mesmo tempo que ele dá com uma mão, ele tira com a outra”, completou Tarso.
Tarso ainda conta que após a marcha, a Liga Canábica entrou em contato com ele. “No início tínhamos a intenção de formar um Núcleo aqui em Ponta Grossa, mas após o contato da Liga vamos desenvolver uma sede aqui na cidade até o final do ano, juntamente com a Aline”, diz Tarso.
“A reação do Victor foi muito rápida, no primeiro dia que ele tomou o óleo, ele já conseguiu dormir e no outro dia acordou calmo, coisa que não acontecia a muito tempo”, conta Maria Aline.
Preconceito
Essa forma de tratamento ainda pode gerar determinado tipo de preconceito, por se tratar de um medicamento extraído da maconha, mas Cassiano Teixeira busca sempre apontar os lados positivos do remédio. “Quando a informação chega o preconceito acaba instantaneamente. Basta ver um vídeo de uma criança convulsionando e o nosso spray agindo! Pronto. Acabou o preconceito”, afirma Cassiano.
Maria Alice que já trata seu filho há mais de um ano com CBD, conta que não sofreu nenhuma forma de preconceito ou represálias. “Muitos amigos vieram oferecer apoio, uma coisa que me surpreendeu bastante, pois ficou claro que não se pode ter preconceito quando se trata de saúde.” completou Maria Aline.
Reportagem Ana Cláudia Nunes