A família Romanos tem um trajetória de 172 anos com o circo, e por trás de cada artista existe a essência da paixão que os move e uma história para ser contada

Por Arlene Lima, Camila Debtio, Daniele Ribeiro, Laísa Morais e Stefhani Romanhuk

A lona colorida em cima da carreta do caminhão e um comboio de carros e trailers entrando na cidade chamam a atenção da população. Um autofalante em cima de um imponente Chevrolet Camaro Amarelo anuncia: “Respeitável público! O Circo Romanos chegou em Ponta Grossa! O show vai começar!”

Quem dirige o carro é o senhor Roberto Aparecido Gomes da Silva, proprietário do Circo Romanos. Sua história com o circo é de longa data, começou desde o berço, já que ele nasceu na 4ª geração de uma família circense. Cresceu em meio aos artistas e com seis anos de idade começou a ajudar o pai nas apresentações do circo e nunca mais parou.

Hoje em dia, Roberto administra os 48 membros que fazem parte da equipe Romanos. Entre eles, estão os 28 artistas que trabalham nos espetáculos fazendo a alegria do público com números de força capilar, trapezistas, equilibristas e apresentações de humor com o palhaço Cheirosinho, além dos shows infantis com bonecos que são a sensação das crianças, incluindo o Homem Aranha, Baby Shark, Minions e PJ Masks.

O empresário conta que a vida de quem trabalha no circo não é fácil. Por trás das cortinas vermelhas, os bastidores nem sempre são um encanto. Em cada nova cidade por onde passam, é preciso se adequar às leis vigentes, pagando impostos e cumprindo exigências, mas muitas vezes não recebem incentivos por parte dos municípios. “Hoje, o circo está passando por muitas dificuldades no Brasil por conta das leis. O início da montagem do circo começa com uma autorização de engenheiro, o bombeiro vai até o local e a vigilância sanitária também. Do mesmo jeito que nós contribuímos com o município, com tudo que eles pedem e exigem, os municípios também poderiam dar incentivos”, relata o proprietário do Circo Romanos.

Apesar da vida circense ser repleta de dificuldades, o brilho nos olhos de Roberto não deixa desmentir: essa vida também é prazerosa. “A melhor parte do circo é conhecer gente diferente. A cada uma ou duas semanas, o circo está em um lugar diferente. A nossa gratidão de estar no circo é fazer amigos. Não adianta você ter 100 mil no bolso e não ter amizades”, finaliza.

Confira uma parte da entrevista de Roberto, proprietário do Circo Romanos 
Confira uma parte da entrevista de Roberto, proprietário do Circo Romanos

A essência do artista circense

Palhaço, equilibrista e trapezista, Nahin Félix do Nascimento da Silva (31) nasceu e cresceu dentro do circo. O dom é hereditário, de pai para filho, através do seu avô, depois para seu pai e em seguida para si. Ser tradicional do circo e também possuir o talento faz com que Nahin seja apaixonado pelo que faz. “Quando eu piso no palco, eu me esqueço de tudo. A gente brinca, faz o público participar, e tirar um sorriso de uma criança ou de um adulto, eu fico satisfeito. Isso é melhor do que qualquer aplauso” reflete o artista.

Começou a desenvolver sua habilidade aos seis anos quando se apresentou no circo pela primeira vez. Iniciou como palhaço, depois aos sete anos passou a ser palhaço equilibrista e com o tempo também aprendeu a desempenhar outras funções, como trapezista. Virtudes que Nahin adquiriu com o seu tio, quem segundo ele, ensinou tudo sobre a arte circense.

Quem vê o palhaço sorrindo no picadeiro, não imagina a dor que muitas vezes está sufocada atrás de cada risada. Durante a vida no palco, muitas memórias foram criadas, uma delas marcou Nahin de forma dolorida. Em um dos momentos mais difíceis enfrentados em sua jornada, durante uma sessão, ele recebeu a notícia de falecimento do tio. “Receber uma notícia dessas em cima do palco caracterizado de palhaço foi uma dor muito tremenda para mim” relembra Félix.

No percurso da sua vida, o palhaço Cheirosinho teve oportunidade de trilhar outros caminhos e sair do mundo artístico, mas o amor pelo circo foi o que sempre o preencheu. Até chegou a trabalhar dois anos em uma empresa, mas não demorou muito para um circo passar pela cidade na qual trabalhava e o fazer voltar a sua essência. “Não deu outra, fiz amizade com o dono e larguei o serviço de um dia para outro, peguei as malas e fui embora com eles”, lembra o palhaço. A criação dentro da arte circense é enraizada, segundo o palhaço, quem nasce dentro dela dificilmente consegue sair, até tenta, mas sempre volta.

O palhaço Cheirosinho já está há três anos no Circo Romanos. Dentro do espetáculo, ele apresenta quatro atrações: palhaço, homem de quatro pernas, equilíbrio em corda bamba e trapézio. A construção do espetáculo também é por sua conta, ele cuida e organiza toda a programação das apresentações. O desafio nessa situação é conseguir sincronizar e intercalar as atrações, já que acontece tudo muito rapidamente, então a colaboração e a ajuda de todos os envolvidos são bem importantes nesse processo.

No circo, uma das bases mais sólidas que se tem é a humildade. Não existe “o artista”, todos são colegas de trabalho e cooperam nas mais diversas funções, além do palco, para que tudo saia conforme o planejado e com qualidade para o público. O trabalho é todo em conjunto, desde a montagem e desmontagem do local, limpeza, atendimento ao público, propagandas, vendas de comida e o que mais seja necessário para se fazer um circo funcionar. “Termina o espetáculo, enquanto um tira fotos com as pessoas, outro já vem arrumar as cadeiras e para o próximo espetáculo, outro já está organizando a fila e recebendo os ingressos, no circo somos uma família, temos que ser unidos”, explica Cheirosinho.

O circo faz nascer uma família, tanto os que são de sangue, quanto os agregados no caminho, e na realidade do dia a dia, eles aprendem o verdadeiro significado da palavra união. “Eu agradeço muito essa família (Romanos), cheguei do nada aqui e eles me consideram como um filho, então isso para mim é muito especial” expressa Nahin. Há cobranças também, como em qualquer outro trabalho, mas também há conselhos e “puxões de orelha” para o bem.

Depois de cumprir com as obrigações do espetáculo, entre uma folga e outra, eles saem para fazer passeio, visitar familiares e conhecer a cidade que estão alocados, além de realizar os afazeres domésticos. Uma das maiores curiosidades que as pessoas têm em relação a vida dos artistas, é saber como são os trailers, onde comem, tomam banho, etc. O palhaço Cheirosinho não quis abrir a sua casa para as jornalistas curiosas, porque tinha acabado de chegar da balada, mas garantiu, que mesmo morando sozinho, mantem a casa sempre limpa e organizada. “É uma casa normal, é pequeno, mas tem tudo que a gente precisa, os mesmo benefícios que eles têm numa casa comum, nós temos aqui” conta.

A vida circense tem renúncias, mas quem faz por paixão sabe mais sobre o combo de encantos que nenhuma outra profissão traz: união, sorriso, família e arte. “O verdadeiro artista, é aquele que bate marreta, que limpa o circo, é aquele que enfrenta barro, que enfrenta chuva para erguer a lona para cuidar de tudo isso aqui, isso é família”, finaliza Nahin.

Confira um trecho da entrevista com o palhaço Nahin
Confira um trecho da entrevista com o palhaço Nahin

A nova geração

Rafaella Mendes Ferreira (18) e Luiz Henrique Ferreira (8) são irmãos, filhos de trapezistas, nascidos no mundo do circo. Livres para escolher o futuro que desejarem, não se veem em outro lugar, que não seja o circo. A extrovertida Rafaella desde criança se apresenta no Circo Romanos, como bailarina trapezista. A “menina determinada em tudo o que faz”, como ela se descreve, já quis um dia quis ser doutora, acabou por seguir os passos da mãe e hoje tem sonhos concretos. Quer construir uma família com o namorado – que também é artista – no circo e passar para os filhos a herança que recebeu.

Luiz Henrique, menino tímido e observador, guarda toda sua energia para treinar muito equilibrando seus malabares, segundo ele, “a arte mais difícil” do circo. Ele ainda gatinhava quando começou a brincar com as claves e bolas, não parou mais. Os planos para o futuro, ainda não estão tão bem definidos, o que é compreensível para um menino de oito anos. Quando questionado sobre o que ele quer ser quando crescer, Luiz pensa um pouco, mexe com os malabares sentado na escada do trailer com sua roupa especial, feita de veludo azul-marinho, coladinha no corpo, toda enfeitada com pedrarias prateadas. “Quero ser militar, e malabarista”, ele tenta explicar.

Apaixonados pela realidade que vivem, os irmãos já mudaram de escola centenas de vezes, normalmente, é uma escola nova a cada duas semanas. Em cada cidade, novos amigos e uma nova cultura, para alguns, conhecer essa realidade, pouco confortável, pode passar a ideia de que a vida no circo é muito difícil para uma criança ou um jovem, não para esses dois. Eles adoram tudo isso, as viagens, os desafios, e se divertem muito fazendo do picadeiro, a brincadeira mais fantástica possível.

Um lugar encantado, surreal, lúdico. Roupas brilhantes, luzes, música e aplausos. Apesar de todos os perrengues que estes artistas têm de enfrentar, da correria durante os espetáculos, três, quatro no mesmo dia, há um brilho no olhar quando eles falam sobre a vida que os escolheu, sobre fazer o que amam. Se o futuro incerto amedronta a muitos durante a juventude trazendo insegurança e muitas dúvidas, Rafaella só tem um medo “que o circo morra”.

Confira um pedaço da entrevista com a trapezista Rafaella
Confira um pedaço da entrevista com a trapezista Rafaella

As entrevistas foram realizadas enquanto o Circo Romanos estava locado na região do bairro de Uvaranas, em Ponta Grossa. Veja o making-off da produção:

 

Comentários

comments

By admin

389 thoughts on “Respeitável público: o Circo chegou”
  1. We would like to thank you all over again for the lovely ideas you gave Jesse when preparing her own post-graduate research
    as well as, most importantly, for providing each of the ideas
    in one blog post. In case we had been aware of your web
    page a year ago, we would have been rescued from the unnecessary measures we were employing.
    Thank you very much. sex shop

  2. Hey! Do you know if they make any plugins to assist with Search
    Engine Optimization? I’m trying to get my blog to rank for some
    targeted keywords but I’m not seeing very good results. If you know of any please share.
    Kudos! You can read similar blog here: Najlepszy sklep

  3. Hello there! Do you know if they make any plugins to help with SEO?
    I’m trying to get my blog to rank for some targeted keywords but I’m not seeing very good gains.

    If you know of any please share. Appreciate it!
    You can read similar blog here: Sklep

  4. Howdy! Do you know if they make any plugins to help with Search Engine Optimization? I’m trying to get my blog to rank for some targeted
    keywords but I’m not seeing very good results. If you know of any please share.

    Cheers! You can read similar blog here: Auto Approve List

  5. Wow, fantastic blog layout! How lengthy have you ever been blogging for?
    you make running a blog glance easy. The full look of your website is wonderful, as neatly as the content!

    You can see similar here sklep online

  6. This design is spectacular! You certainly know how to keep a reader entertained. Between your wit and your videos, I was almost moved to start my own blog (well, almost…HaHa!) Excellent job. I really enjoyed what you had to say, and more than that, how you presented it. Too cool!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *